“Mensalão” teve alcance maior que o impeachment

Como se não bastasse o Jornal Nacional da TV Globo (23) ter dedicado nada menos que 18 dos 32 minutos de sua programação ao julgamento do mensalão, exibindo oito reportagens sobre o tema, as Organizações Globo conseguiram se superar no dia seguinte.

Em editorial publicado ontem (24/10) intitulado de “Marco histórico em defesa do estado de direito”, o periódico da família Marinho (O Globo) não titubeia em afirmar que “a condenação de mensaleiros tem um alcance maior que o impeachment de Collor”. É rir para não chorar.

O Globo, que contemporizou meses para divulgar em suas páginas as primeiras fotos das enormes manifestações populares por todo o país que pediam a derrubada de Collor em 1992, hoje não hesita em estampar em sua capa foto com meia dúzia de manifestantes (sessenta na contagem de O Globo) em ato isolado com máscaras de Joaquim Barbosa comemorando o julgamento do mensalão.

Esta é apenas uma das grandes diferenças entre estes dois acontecimentos. Enquanto o impeachment envolveu milhões de brasileiros que tomaram as ruas do país e pintaram as caras para protestar contra o mocinho “collorido” que Globo e Veja ajudaram criar e eleger; a disputa política do mensalão aglutina apenas a elite e seu partido midiático em gabinetes fechados, sem aquiescência do povo que, por sinal, demonstra cada vez mais sua simpatia pelo PT e demais partidos aliados que cresceram enormemente nestas eleições, a despeito dos partidos da oposição ao governo Dilma terem despencado eleitoralmente.

O ministro Marco Aurélio Mello, o mesmo que defendeu abertamente a ditadura militar no Brasil, justificando-a como um "mal necessário", está sendo homenageado pelo O Globo por ter votado “em defesa do estado de direito”. Quem se posiciona publicamente a favor da ruptura da legalidade para justificar sua visão reacionária tem compromisso de fato com esse “estado de direito”? Imagine qual teria sido a repercussão dada pelo O Globo se fosse o ministro Dias Toffoli quem declarasse tal absurdo.

São estas algumas das contradições dos grandes meios de comunicação que não se conformam com as profundas transformações sociais patrocinadas pelos partidos de esquerda em nosso país. Não são mais capazes de iludir a maioria do povo brasileiro que tem hoje outras formas de acesso a informação, principalmente através da mídia independente.

A máscara começa a cair por completo na medida em que grande parte da população, dotada de nível crítico básico, começa a indagar o porquê de O Globo ser tão enfático com o mensalão e quase nada divulgar sobre outros “escândalos”, como é o caso do próprio “mensalão mineiro”, cujo ex-presidente nacional do PSDB, Eduardo Azeredo, é denunciado formalmente pelo procurador Antônio Fernando de Sousa como “um dos principais mentores e principal beneficiário do esquema implantado”.

Isso tudo, óbvio, sem falar em outros episódios que passaram em brancas nuvens num passado recente, como foi a compra de votos para a reeleição de FHC, o caso Sivam, o Proer, o socorro ao Marka/FonteCindam, dentre outros fatos que mereciam a mínima boa vontade de O Globo na divulgação.

Mas é que, ao contrário do que afirma no referido editorial, é O Globo quem age de má-fé ao ocultar seu claro viés político, ressaltando em escala desmesurada e manipulando as informações sobre a condenação da “cúpula do PT da época da primeira campanha vitoriosa de Lula, em 2002, e da primeira parte do seu governo até a eclosão do escândalo, em 2005”.

Dizer que a novela do mensalão teve alcance maior que impeachment revela o desespero deste pessoal, que parece ter perdido o juízo, se é que um dia tiveram.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor