A cara fascista da intolerância religiosa de matriz cristã
O cristianismo é uma religião monoteísta, e o Deus dos cristãos é o mesmo. O que muda é a prática de seitas e igrejas, sejam católicas ou evangélicas – tradicionais ou neopentecostais. Muda tanto que dá a impressão de que cultuam deuses diferentes. Uns até dizem “meu Deus é o Deus da palavra”.
Publicado 30/06/2015 10:53
religiosa de qualquer pessoa, que considero algo da intimidade de quem crê.
Jamais sou omissa quando algum credo se acha no direito de ser “espada do mundo”, “medida do tamanho” e tem a arrogância de medir as pessoas pela fita métrica de sua fé e deseja que as leis de um país laico reflitam a agenda moral de sua religião.
“O fundamentalismo religioso está presente em diferentes doutrinas. Na tradição guerreira dos filhos de Abraão – judeus, cristãos e muçulmanos –, as vertentes fundamentalistas se sustentam na convicção tribal de serem, cada um desses, o povo escolhido, presenteado com a revelação de um único e verdadeiro Deus” (campanha “Contra os fundamentalismos, o fundamental é a gente!”).
Há facções cristãs que aspiram a viver numa teocracia e tentam, até pela violência letal, obrigar (eu disse obrigar, e não convencer!) que todos professem a sua fé! São desejos de ares fascistas e misóginos que tentam solapar a democracia, impondo uma agenda moral centrada nos corpos das mulheres.
Não importa a matriz, o fundamentalismo religioso é oposição à liberdade. Portanto, deve ser sistematicamente combatido por quem ama a liberdade tão bem versejada pelo poeta Paul Éluard (1895-1952): “Nos meus cadernos de escola/ Sobre a carteira nas árvores/ Sobre a neve sobre a areia/ Grifo teu nome…/ E pelo poder de um nome/ Começo a viver de fato/ Nasci pra te conhecer/ E te chamar/ liberdade”.
O ódio do fundamentalismo religioso à liberdade deságua em crimes como o apedrejamento de uma menina de 11 anos, Kailane Campos, no Rio de Janeiro, quando se dirigia a uma casa de candomblé; na angústia da ialorixá baiana mãe Dede de Iansã (Mildreles Dias Ferreira), 90, fulminada por um infarto após uma noite inteira ouvindo ofensas na porta de sua casa; e é também o que move cristãos na perseguição às religiões de matriz africana, queimando seus templos e expulsando seus fiéis dos lugares onde vivem.
Há notícias sobre pastores evangélicos presos por tráfico de armas e de “traficantes evangélicos” que não apenas expulsam de favelas adeptos do candomblé, mas ainda têm a pachorra de proibir o uso de roupa branca nos territórios que controlam!
É patente que não combina com o “Deus da palavra” ser um pastor traficante de armas ou um evangélico traficante de drogas, pois são farsas que usam o nome de Deus como disfarce e dão margem a que indaguemos: não se faz mais protestante como antigamente, gente de vida limpa, honrada e exemplar?
Merece estudos sociológicos a intolerância religiosa dos bandidos evangélicos, que, tal qual a dos evangélicos ditos do “bem”, caminha de braços dados com a sede de mando nos Três Poderes da República: Legislativo, Executivo e Judiciário – já são perceptíveis juízes que pautam suas sentenças pela Bíblia!
A intolerância religiosa de facções evangélicas, que se pautam pela teologia da prosperidade no Brasil, a rigor, virou caso de polícia há muito tempo, e as autoridades não estão nem aí, desrespeitando o republicanismo e permitindo o fortalecimento de uma guerra religiosa que nem é em nome de Deus, mas de uma agenda moral.