Governo em família
Faturar o prestígio dos avós na política já é costume na história recente do Brasil. Eduardo Campos seguiu o rumo de Miguel Arraes, Aécio o de Tancredo Neves e Fernando Collor o de Lindolfo, por exemplo. Mas, de todo jeito, cada um ao seu tempo, sem que se metessem nos governos dos mais velhos, bem diferente do que ocorre agora no país.
Publicado 20/02/2019 10:46
Os filhos do atual presidente, políticos favorecidos pela onda que levou o pai ao posto máximo, se metem no governo ao bel-prazer e são ouvidos pelo pai. Formam, em verdade, um bloco no PSL, o partido da família, e no próprio governo, como se tudo fosse assunto doméstico.
O caso mais notório é o do filho Carlos, vereador no Rio de Janeiro, que resolveu denunciar publicamente o desvio de dinheiro eleitoral pelo deputado federal Gustavo Bebianno, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República. O dinheiro público era passado a candidatos laranjas, que estavam ali só pra isso e repassavam os valores ao chefe do esquema.
A história parece verdadeira. O que não é claro são as intenções de Carlos ao fazer a denúncia. A hipótese mais próxima é a de desviar as atenções do caso de seu irmão Rogério, agora senador, que havia montado esquema parecido de caixa 2 no seu gabinete como deputado estadual do Rio, com o motorista Queiroz.
Mas jogou pesado contra Bebianno, com o apoio de seu pai. Destruiu a figura do cara que foi tudo na sua campanha eleitoral, começando pela articulação da base de apoios políticos no país inteiro. Por isso mesmo, porém, é que ele tem informações mais que privilegiadas sobre o processo eleitoral e promete pôr a boca no trombone caso seja consumada sua exoneração do cargo, prometida (mas adiada) várias vezes pelo presidente da República, talvez temendo o estrago que o ex-aliado pode fazer.
O ministro acabou sendo demitido formalmente no início da noite de segunda-feira, dia 18 – cinco dias após o início do bate-boca com o presidente com seu filho, que nada tem a ver com o governo federal.
Pra justificar a medida, o chefe do Executivo alegou “questão de foro íntimo”, sem dizer o motivo da demissão, já que o ministro do Turismo, Marcelo Antônio, acusado do mesmo crime, permaneceu no cargo, ileso.
Sejam quais forem as razões, o fato é que um filho do presidente agiu afinado com o pai e conseguiu derrubar um ministro. Dá mais uma demonstração, assim, que a família toda, mesmo à distância, está nos corredores do Palácio do Planalto.