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Bolsonaro enfraquece o Brasil no comércio internacional

Além de exportar guerras, os Estados Unidos exportam crises econômicas. Seguir cegamente quem vive dessa fórmula não é uma boa […]

Além de exportar guerras, os Estados Unidos exportam crises econômicas. Seguir cegamente quem vive dessa fórmula não é uma boa política, está claro. Mas é exatamente o que faz o governo do presidente Jair Bolsonaro, responsável em grande medida pela medíocre posição do Brasil no comércio internacional. Ao se submeter ao regime de Donald Trump, o presidente brasileiro lança o país no centro da crise internacional.

Há a dinâmica natural do comércio mundial, hoje em grande medida centralizado na pujança da China, o que fez Bolsonaro dar um passo atrás, depois da bravata belicosa contra a ameaça “comunista”. Mas o essencial da política de submissão ao regime de Washington permanece.

Desde antes de pisar na Casa Branca, Trump tem dito que em matéria de política comercial não quer conversa com ninguém. Seguindo esse princípio, ele abriu fogo contra a China e afirmou, sem meias palavras, que a sua política não está representada na Organização Mundial do Comércio (OMC). Em um memorando, a Casa Branca escreveu que a China e muitos outros com o status de países em desenvolvimento seriam preteridos.

Essa condição foi conquistada com a atuação firme dos que enfrentaram, na OMC, o protecionismo dos ricos e os termos dos intercâmbios desiguais. O Brasil se destacou na luta contra os escandalosos subsídios agrícolas dos países desenvolvidos, que prejudicam os demais produtores, ao mesmo tempo em que batalhou pela remoção dos obstáculos às exportações de produtos industriais.

No governo do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, formou-se, no âmbito da OMC e de outros organismos multilaterais, uma aliança em que a China era o principal aliado. Romper com essa formulação, agora, não é fácil. Prevendo os obstáculos que surgiriam, Trump optou pela ameaça de deixar a organização. Bem ao seu estilo, ele vociferou contra os países em desenvolvimento e optou pelo esvaziamento daquele organismo multilateral.

Hoje, essa entidade – que nasceu de um longo processo de evolução das relações econômicas internacionais – está praticamente esquecida. A China tem respondido às ameaças de Trump com altivez, mas, no âmbito da OMC, perdeu o seu principal aliado, o Brasil. Com essa submissão, Bolsonaro também enfraqueceu o país no cenário mundial ao se abster de outros foros, como os de políticas regional e de meio ambiente.

Exportar é uma necessidade inquestionável para o Brasil, que tem promovido o seu crescimento econômico em boa parte utilizando o que tem de melhor: a agricultura desenvolvida. É preciso vender para comprar. Exportar para importar e produzir. Nessa relação, o papel-chave é o de uma política industrial e tecnológica, fomentada pelo Estado. Fazer o país superar as estruturas oligárquicas que o mantém preso ao passado e construir indústrias modernas.

O ponto comum entre as necessidades de fortalecimento do mercado interno e aumentar a participação na economia internacional, atende por um nome: Estado. Nesse cenário mundial em que aos Estados Unidos só resta a alternativa de exportar a sua crise estrutural, o Brasil deveria somar forças para exigir dos seus parceiros comerciais, como eles exigem, mais liberdade em relação à entrada dos produtos brasileiros em seus mercados.

Resumo da ópera: em lugar da abertura indiscriminada de fronteiras para a livre circulação de capital especulativo, prescrita pelo projeto neoliberal e neocolonial, prioridade às questões nacionais. Os dilemas do Brasil, hoje, têm forte inflexão econômica. A partir dela, que já apresenta resultados catastróficos, a dinâmica política tende a se tornar cada vez mais tensionada. E, no jogo político, o que conta é força contra força.