A falta de educação de Abraham Weintraub
Cinismo é um bom adjetivo para definir a performance do ministro da Educação, Abraham Weintraub, na audiência da Comissão de […]
Publicado 12/02/2020 00:10 | Editado 12/02/2020 13:16
Cinismo é um bom adjetivo para definir a performance do ministro da Educação, Abraham Weintraub, na audiência da Comissão de Educação do Senado em que ele falou sobre os erros do Enem 2019 e do Sisu. Os autoelogios e a negação de obviedades sobre a sua desastrada condução da pasta dão a exata medida do conduta cínica e do descaso do governo Bolsonaro com a educação.
Weintraub repete, em outra circunstância, a ofensa de Paulo Guedes ao funcionalismo público, chamado por ele de “parasitas”, e as injúrias do presidente Jair Bolsonaro contra variados segmentos sociais. O esquadro dessas diatribes, permeadas de estupidez, é o desprezo pelas regras democráticas, pela calamidade social que provocam e pelo destino do povo.
Nesse caso, trata-se de duas questões. Uma é o descompromisso programático do governo Bolsonaro com o fortalecimento da educação, um dos esteios do desenvolvimento soberano do país. Com essa premissa, adota a política de dilapidação do que foi construído em termos da estrutura educacional do país.
Outra é o futuro da juventude, um dos alvos do bolsonarismo. A perseguição aos jovens chega ao ponto de tentar inviabilizar a atuação de sua entidades representativas, especialmente a União Nacional do Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).
Na histórica divisão social do povo brasileiro, são os jovens, ao lado dos trabalhadores, os protagonistas da resistência democrática e da luta por transformações sociais. Para um governo autoritário como o de Bolsonaro, essas duas categorias são, naturalmente, as principais barreiras.
Eis a causa da falta de educação de Abraham Weintraub, que se acha no direito de dizer qualquer barbaridade que lhe passe pela cabeça. Podem ser os falsos números que ele acha bonitos ou a certeza de que não existe problema algum que não possa ser varrido para baixo do tapete com um discurso enfático. Pode ser, enfim, a velha aposta num suposto desconhecimento do que são Enem, Sisu e outras regras de ingresso no ensino superior.
Há duas dimensões básicas para se entender comportamentos como os de Abraham Weintraub, Paulo Guedes e Jair Bolsonaro. A primeira é a missão do governo de atingir as metas de cortes orçamentários que afetam frontalmente a educação. O ministro da Economia diz, reiteradamente, que a o Orçamento precisa ser “descarimbado” — a regra constitucional que garante investimentos sociais — com a “reforma” administrativa.
Paulo Guedes diz que com essa medida o dinheiro chegará mais fácil onde realmente faz falta, mas, no mundo das coisas reais, ele quer poderes para manipular os recursos públicos de acordo com o seu programa de estabilização da rolagem da agiotagem da dívida pública; a institucionalização da conhecida Desvinculação das Receitas da União (DRU) e de mecanismo como o recente bloqueio do orçamento das universidades e institutos federais de ensino.
A outra dimensão é o desprezo pelo cultura, comportamento comum no governo Bolsonaro. A ideologia do bolsonarismo é obscurantista, truculenta e até de coloração nazifascista, como se viu no recente episódio do ex-secretário Especial de Cultura, Roberto Alvim. Aquela não foi uma manifestação isolada. As constantes lembranças elogiosas de Bolsonaro aos crimes abjetos da ditadura militar não são apenas devaneios nostálgicos; é a manifestação da sua ideologia.
Nesse aspecto, Abraham Weintraub é um dos mais repudiados integrantes do governo Bolsonaro, uma das figuras que mais personificam a ignorância e a estupidez do obscurantismo bolsonarista. A cultura e o conhecimento científico são luzes que repelem naturalmente esse ideologia. Não à toa, o chefe nazista Hermann Göring dizia: “Quando ouço falar em cultura, ponho a mão no revólver.”