Trump e a arrogância fora de hora

Entre crises e resistências, a política do presidente estadunidense expõe um mundo cada vez menos dependente da hegemonia americana.

O presidente dos EUA, Donald Trump | Foto: Gage Skidmore/Flickr

Para além do grotesco espetáculo de arrogância e inconsequência encetado por Donald Trump neste início do seu novo governo, há muito mais do que se imagina. Nos planos interno e externo.

O mundo estremece pelo movimento de placas tectônicas que alteram o desenho geopolítico tendendo a uma explícita multipolaridade. Um ambiente em que cada vez menos é possível aos Estados Unidos imporem seus desígnios. 

O subcontinente sul-americano, embora marcado por pesados desencontros, já não pode ser tratado como “quintal”. 

A Europa, enredada em suas próprias contradições internas e sob condições econômicas adversas, vê-se desafiada a reagir.

O chamado sul global, impulsionado pelo BRICS mediante crescentes trocas comerciais e investimentos em infraestrutura, financiamentos a taxas vantajosas, estímulo à formação de blocos regionais, faz-se contraponto crescentemente eficaz às imposições norte-americanas.

A guerra Russia-Ucrania e os graves conflitos no Oriente Médio e região parecem atrair Trump para arroubos aventureiros.

Historicamente, vários presidentes norte-americanos governaram em situações conturbadas — de Franklin D. Roosevelt, às voltas com a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial a Barack Obama, em plena crise financeira global. Donald Trump, idem — com a particularidade de apostar no caos como meio tresloucado de enfrentar a decadência da ex-superpotência unipotente.

Internamente, multiplica-se a resistência à taxação de produtos importados em razão das imediatas consequências, tanto no sentido do aumento do custo de vida e da inflação, atingindo duramente a chamada classe média e pequenos e médios empresários, como geradora de desemprego. 

O influente Washington Post, em matérias contundentes, denuncia a aventura trumpista como fator de enfraquecimento da influência externa norte-americana.

Mesmo o ultraconservador Wall Street Journal se pronuncia na mesma direção criticando o que chama de “a guerra comercial mais idiota da história”.

Cá em terras tupiniquins — embora os Estados Unidos já não sejam nossos principais parceiros comerciais há mais de 10 anos, mas em 2024 as transações entre os dois países chegaram a 30 bilhões de dólares — quem sabe, nesse cenário, tenhamos uma nova janela de oportunidades. Por hora, vale espreitar.

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