Lula responde a Trump: “Só batemos continência para a bandeira verde e amarela”

No evento “O Brasil dando a Volta por Cima” nesta quinta-feira (3), em Brasília, o presidente afirmou que o País tomará “medidas cabíveis” contra o tarifaço

Lula durante evento da prestação de contas de 2 anos de governo. (Fotos: Ricardo Stuckert/PR)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o Brasil responderá ao tarifaço global anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com “medidas cabíveis” para defender as empresas brasileiras e os trabalhadores.

Para isso, o presidente assegurou que terá como referência a Lei da Reciprocidade aprovada pelo Congresso e as diretrizes da Organização Mundial do Comércio (OMC).

“Diante da decisão dos Estados Unidos de impor uma sobretaxa aos produtos brasileiros tomaremos todas as medidas cabíveis para defender as nossas empresas e nossos trabalhadores brasileiros”, discursou Lula no evento “O Brasil dando a Volta por Cima”, realizado nesta quinta-feira (3), em Brasília.

O presidente também mandou recado à extrema direita brasileira: “Somos um país que não tolera ameaça à democracia e à soberania, que não bate continência para nenhuma bandeira que não seja a bandeira verde e amarela, que fala de igual para igual e respeita todos os países, dos mais pobres aos mais ricos, mas exige reciprocidade no tratamento”.

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Como defensor do multilateralismo e o livre comércio, Lula diz ainda que o Brasil vai responder “qualquer tentativa de impor o protecionismo que não cabe mais hoje no mundo”.

Os produtos brasileiros foram taxados em ao menos 10%. Outras tarifas para produtos específicos já tinham sido anunciadas, como 25% para aço e alumínio e para automóveis e suas peças.

Em nota conjunta, os ministérios das Relações Exteriores e o do Desenvolvimento, Indústria e Comércio avaliaram as medidas comerciais adotadas pelo governo dos Estados Unidos.

Confira a íntegra da nota:

O governo brasileiro lamenta a decisão tomada pelo governo norte-americano no dia de hoje, 2 de abril, de impor tarifas adicionais no valor de 10% a todas as exportações brasileiras para aquele país. A nova medida, como as demais tarifas já impostas aos setores de aço, alumínio e automóveis, viola os compromissos dos EUA perante a Organização Mundial do Comércio e impactará todas as exportações brasileiras de bens para os EUA.

Segundo dados do governo norte-americano, o superávit comercial dos EUA com o Brasil em 2024 foi da ordem de US$ 7 bilhões, somente em bens. Somados bens e serviços, o superávit chegou a US$ 28,6 bilhões no ano passado. Trata-se do terceiro maior superávit comercial daquele país em todo o mundo.

Uma vez que os EUA registram recorrentes e expressivos superávits comerciais em bens e serviços com o Brasil ao longo dos últimos 15 anos, totalizando US$ 410 bilhões, a imposição unilateral de tarifa linear adicional de 10% ao Brasil com a alegação da necessidade de se restabelecer o equilíbrio e a “reciprocidade comercial” não reflete a realidade.

Em defesa dos trabalhadores e das empresas brasileiros, à luz do impacto efetivo das medidas sobre as exportações brasileiras e em linha com seu tradicional apoio ao sistema multilateral de comércio, o governo do Brasil buscará, em consulta com o setor privado, defender os interesses dos produtores nacionais junto ao governo dos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo em que se mantém aberto ao aprofundamento do diálogo estabelecido ao longo das últimas semanas com o governo norte-americano para reverter as medidas anunciadas e contrarrestar seus efeitos nocivos o quanto antes, o governo brasileiro avalia todas as possibilidades de ação para assegurar a reciprocidade no comércio bilateral, inclusive recurso à Organização Mundial do Comércio, em defesa dos legítimos interesses nacionais.

Nesse sentido, o governo brasileiro destaca a aprovação pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados do Projeto de Lei da Reciprocidade Econômica.

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