O julgamento do Papa

Enquanto parte da esquerda critica o novo papa por não ser revolucionário, Leão XIV se posiciona contra a extrema-direita e mantém o legado social de Francisco.

Papa Leão 14 | Foto: Vatican News/ND

“Novo papa faz mal à esquerda depressiva” é o título de um artigo do jornalista gaúcho Moisés Mendes, publicado dias atrás no Portal 247, que condena o pessimismo de certa esquerda, que “entrou em depressão com a escolha do novo papa” e garante que Robert Francis Prevost não é progressista, tampouco seu antecessor de nome, Leão XIII. Para tanto, essa fatia da esquerda esquadrinha aspectos do passado desses papas, buscando especialmente identificar um certo anticomunismo, ou no mínimo o conservadorismo de um ou de outro. Moises Mendes aponta para vários textos que circulam pela internet advertindo que Leão XIV não possui inspirações marxistas. “Tudo o que o novo papa nos oferece como esperança aparente é, segundo parte da esquerda, pura miragem”, diz Mendes.

Quem sabe essa esquerda míope desejasse um papa marxista, comunista. É de rir. Míope e eternamente insatisfeita, salvo com os que aceitam, “ipsis litteris”, sua cartilha. Menos que isso é enganação. No entanto, ocorre que o novo papa, queiram ou não os inconformados pela esquerda, é um desafio para o avanço da extrema-direita, que representa, nos dias de hoje, um dos mais perversos inimigos da humanidade. Crítico do “trumpismo”, inimigo das guerras imperialistas e genocidas, sensível aos reclamos dos pobres e oprimidos pela sanha do neoliberalismo, Leão XIV apresenta-se como continuador das iniciativas de Francisco. Sua mensagem e sua postura, influencia bem mais do que o contingente de 1,4 milhões de católicos. Mas não é o suficiente. Quer, essa fatia dogmática e eternamente insatisfeita da esquerda, um papa revolucionário. Essa gente não consegue alcançar a natureza complexa da época atual e a imperiosa necessidade de buscar e acatar mesmo avanços mais modestos, alianças mais amplas e a existência de um pontífice que, segundo Mendes, “incomode o neonazismo propagado pelos poderosos do país dele”. São os arautos do tudo ou nada, de um purismo dogmático que os impede de pensar mais criticamente (eu diria mais dialeticamente) e os impele à condição de aborrecidos expectadores.

É preciso compreender a Igreja Católica como o ator político que tem sido ao longo de sua história milenar, conservadora, por vezes abertamente reacionária. Excepcionalmente, apresenta rasgos de um contido progressismo e até mesmo de um progressismo mais acentuado, como ocorreu com o Papa Francisco. Leão XIV, mais moderado, dá sinais de certo alinhamento com a conduta de seu antecessor. É de se aguardar. De todo modo, na conflituosa época em que vivemos, sinais mais ou menos avançados do Vaticano contém grande relevância para a luta da humanidade contra a extrema-direita e seus crimes, em favor da democracia e da justiça social

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