Sabesp privatizada acumula problemas e uma cratera na Marginal Tietê, em SP
José Faggian, do Sintaema, explica o momento da Sabesp, com redução de mão de obra especializada e atraso nas respostas, como no caso da cratera: “nova filosofia da empresa”
Publicado 16/05/2025 07:55 | Editado 17/05/2025 12:09

O saneamento paulista está em acelerado processo de sucateamento após a privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), que em julho completa um ano. Neste período, a falta de manutenção da rede e problemas de segurança tem oferecido uma rotina de problemas para funcionários e consumidores. No mais recente episódio, uma cratera se abriu na Marginal Tietê, na cidade de São Paulo (SP), duas vezes em menos de um mês.
O Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo) denuncia que a empresa faz cortes estruturais e enxuga equipes, acarretando sobrecarga de trabalho. Para os consumidores, a situação também é trágica. O sindicato alertou a sociedade que a promessa de manutenção do preço da conta feita pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) não se sustentava com a privatização.
Não deu outra. Consumidores que pagavam a conta de água e esgoto com valor inferior a cem reais passaram a ter contas até mesmo na casa dos milhares. Em matérias publicadas amplamente na imprensa é possível encontrar relatos de pessoas sobre contas da Sabesp de R$5 mil, superando até mesmo R$10 mil. Parte disso, por conta da revogação da Tarifa Social para milhares de famílias, o que ainda assim não justifica o valor exorbitante que alguns passaram a receber.
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Para entender melhor a grave situação, o Portal Vermelho conversou com o presidente do Sintaema, José Faggian. O sindicalista explica que parte do caos que vem se avolumando acontece pela saída de profissionais. Ainda que, por Lei e Acordo Coletivo, os antigos funcionários da empresa tenham estabilidade no emprego até maio de 2026, muitos aderiram ao PDV (Plano de Demissão Voluntária) e suas vagas foram repostas por profissionais sem a especialização necessária.
“Após a privatização tivemos um PDV onde estão saindo 2.020 trabalhadores de um quadro de 10 mil. Estamos sofrendo um enxugamento da mão de obra especializada. A Sabesp começa muito timidamente uma contratação de trabalhadores, captando no mercado pessoas que vão demorar bastante tempo para serem treinadas e aprenderem a atividade, pois o saneamento é uma atividade específica. Começamos a ver, principalmente em algumas regiões do interior, mas na capital também, o acúmulo de serviços com dificuldades para as equipes em atender a demanda que tem sido gerada”, relata.

Além da queda na qualidade do serviço prestado, Faggian indica que o clima é péssimo para os funcionários e os novos líderes pouco entendem da especificidade do trabalho.
“O clima na empresa está bastante difícil, com o pessoal preocupado. Todos os cargos de liderança da empresa estão sendo recrutados no mercado. Tem vindo gente de atividades que não têm nada a ver com o saneamento. Por exemplo, a pessoa que está cuidando hoje do Recursos Humanos veio de uma empresa de telemarketing. Não tem a menor relação. Isso tem gerado grandes problemas, pois a Sabesp tem uma multiplicidade de profissionais, de jornadas, enfim, de formas de trabalhar que são específicos. São transtornos que pioram ainda mais o clima na empresa e a sensação de incerteza, porque essas pessoas não têm noção do que estão fazendo e, às vezes, ao invés de ajudar, atrapalham. Isso além de gerar problema para os trabalhadores, acaba refletindo no atendimento à população”, afirma.
Para os clientes, a situação tem o mesmo quadro, uma vez que o serviço piorou e, para muitos, os preços se tornaram abusivos: “A gente começa a ver, até mesmo em pequenos detalhes, a queda na qualidade do atendimento aos consumidores. É importante frisar também o grande corte que teve em relação às tarifas sociais, a empresa, já no começo da transição, cortou um número gigantesco, resultando em protestos dos movimentos sociais”, recorda o sindicalista.
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Questionado sobre a cratera na Marginal Tietê, sob responsabilidade da Sabesp, Faggian mostra discordância com o que os diretores da Companhia indicaram. O buraco na via abriu pela primeira vez em 10 de abril e em 5 dias a obra de reparo foi concluída. Na oportunidade a alegação foi de fissura na tampa de um poço que gerou erosão.

Agora, no último dia 11 de maio, o buraco voltou a abrir na pista. O diretor de engenharia da Sabesp, Roberval Tavares, disse que houve sobrecarga nas redes de esgoto e que o mau uso pela população contribui para a ocorrência. O novo prazo de reparo é de 30 dias e será necessário abrir uma alça de acesso para não interromper o fluxo de veículos neste período.
“Nós, do Sintaema, discordamos da posição da empresa que diz que foi o uso indevido ou o mau uso da rede pela população que gerou a situação. Entendemos que faltou monitoramento adequado e, para além disso, uma resposta adequada e no tempo que os profissionais da Sabesp antes davam, com mão de obra própria. Quando algo do tipo acontecia, uma grande catástrofe ou uma grande ocorrência, a Sabesp mobilizava trabalhadores do estado inteiro que se deslocavam para aquele local para rapidamente sanar o problema, o que não aconteceu agora e isso, com certeza, decorre da nova filosofia da empresa”, observa o presidente do sindicato,
Faggian lembra da pronta atuação dos ‘sabespianos’ em ajudar atingidos e religar estações de tratamento de água afetadas quando fortes chuvas atingiram o litoral Norte paulista, afetando São Sebastião e arredores, em 2023, ou mesmo na colaboração com o envio de técnicos e equipamentos durante a tragédia climática que acometeu o Rio Grande do Sul, em 2024.