Trump impõe tarifa de até 40% a aliados da China em novo ataque tarifário

Novo pacote atinge 14 países com sobretaxas a partir de 1º de agosto. China promete retaliação, e países asiáticos se mobilizam para conter impactos

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta semana a imposição de tarifas unilaterais a 14 países, com alíquotas que variam de 25% a 40% e entram em vigor a partir de 1º de agosto. 

A medida afeta diretamente aliados estratégicos da China e diversas economias do Sudeste Asiático, reforçando o clima de tensão comercial iniciado em abril.

Veja abaixo os países atingidos até o momento:

África do Sul: 30%
Bangladesh: 35%
Bósnia e Herzegovina: 30%
Cambodja: 36%
Cazaquistão: 25%
Coreia do Sul: 25%
Indonésia: 32%
Japão: 25%
Laos: 40%
Malásia: 25%
Myanmar: 40%
Sérvia: 35%
Tailândia: 36%
Tunísia: 25%

Em comum, muitos desses países mantêm vínculos estreitos com a China e participam de redes comerciais e logísticas associadas à Nova Rota da Seda ou a plataformas econômicas como o Brics — bloco recentemente chamado por Trump de articulador de “políticas antiamericanas”.

A ofensiva tarifária coincide com o prazo final estipulado por Trump para que países firmem acordos bilaterais com os EUA, sob ameaça de sanções econômicas adicionais. 

O presidente norte-americano chegou a prometer uma tarifa extra de 10% para nações que optem por se alinhar a projetos autônomos de governança global — o que lhe rendeu críticas públicas de diplomatas sul-africanos, que compararam seu comportamento ao de um “imperador de outro século”.

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China promete resposta e reforça sistema de alerta econômico

Entre os mais atingidos estão Malásia, Camboja, Laos, Mianmar, Cazaquistão, Bangladesh, África do Sul e Sérvia — todos países com vínculos formais ou estratégicos com as redes de cooperação promovidas por Pequim, Moscou ou pelo Novo Banco de Desenvolvimento. 

Analistas ouvidos por agências internacionais alertam que a iniciativa representa uma tentativa deliberada de isolar a China e enfraquecer o espaço de manobra dos países do Sul Global.

Pequim reagiu com dureza. A chancelaria chinesa alertou que retaliará países que excluírem a China de seus fluxos comerciais em troca de concessões tarifárias com os EUA. 

O Diário do Povo, porta-voz do Partido Comunista, publicou editorial afirmando que os EUA “abusam das tarifas como instrumento de coerção” e defendeu que “só o diálogo pode garantir acordos comerciais duradouros”.

A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (CNDR ), o terceiro departamento executivo do Conselho de Estado da República Popular da China, anunciou que reforçará o sistema nacional de monitoramento econômico, com novos indicadores focados em cadeias de suprimento, segurança tecnológica e estabilidade monetária. 

Estudos foram encomendados para medir o impacto de tarifas e barreiras não tarifárias, inclusive no contexto das relações com a União Europeia. 

Mesmo com a trégua tarifária firmada com os EUA em maio, a China teme nova escalada. Segundo estimativas do banco UBS, a tarifa efetiva média sobre produtos chineses pode alcançar 43,5% — o maior patamar desde 1934.

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Alvo: o entorno geoeconômico da China

Além das potências asiáticas, o pacote tarifário de Trump tem como foco os países do Sudeste Asiático — região que superou os EUA e a UE como principal destino das exportações chinesas.

Apenas Vietnã e Singapura foram poupados. No caso vietnamita, houve acordo direto com os EUA para manter tarifas em 20% — com a condição de sobretaxar em 40% mercadorias “transbordadas” a partir da China. Segundo especialistas, isso sinaliza que os EUA buscam forçar países asiáticos a romper laços logísticos com Pequim e com a Nova Rota da Seda.

A iniciativa, segundo o economista chinês Xu Weijun, visa “forçar os países do Sudeste Asiático a escolher lados” na disputa geopolítica. Zhu Keli, do Instituto Internacional de Pesquisa Econômica, afirma que o alvo real é o sistema de transbordo de mercadorias chinesas, que sustenta parte significativa das exportações indiretas para os EUA.

Japão e Coreia tentam reverter tarifa; Vietnã faz acordo parcial

O Japão foi surpreendido com a tarifa de 25% mesmo após prometer US$ 1 trilhão em investimentos nos EUA. 

O premiê Shigeru Ishiba foi chamado de “mimado” por Trump nas redes sociais, que o acusou de se recusar a comprar arroz americano. A Coreia do Sul, igualmente afetada, anunciou que intensificará negociações para tentar um acordo de última hora.

Entre os países da ASEAN, apenas Vietnã e Singapura foram poupados. O Vietnã, em especial, negociou uma tarifa reduzida de 20%, com a condição de sobretaxar em 40% mercadorias chinesas transbordadas por seu território — movimento interpretado por analistas como parte da estratégia dos EUA para esvaziar o papel da China nas cadeias globais de valor.

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