A arte de escrever e o desafio do romance

Apresento nesta semana minha sétima produção literária, mas o primeiro romance. A obra intitulada A Sorte Não Sorriu Para Cézar Rondicatto, lançado pela editora portoalegrense Redes, é de longe o maior desafio que enfrentei nesta tentativa de conciliar a produção literária independente, com militância política e sobrevivência.

Comecei minha aventura literária escrevendo poemas, como resultado de um processo anterior, quando escrevia letras de música para a banda que integrava (e há um ano volto a integrar). Sem a banda, tendo que amenizar a necessidade, quase vício, de escrever, o poema surgiu como algo natural.

Como trazia a prosa incrustada na minha ação como jornalista, juntei alguns contos e surgiu daí, em 2003, minha primeira produção literária, quase caseira, com produção acumulada de quase 10 anos de gaveta, intitulada Risos da Fronteira.

A partir daí, não só a necessidade de escrever, mas também a de publicar passou a me perseguir e fazer parte do meu cotidiano. O resultado é que produzi mais três livros de poesia (dois deles experiência artesanal) e dois livros de contos, esses sempre com produção editorial.

O ato de escrever, que me persegue desde a adolescência, é quase uma necessidade vital e com um pouco de autocrítica e muita leitura, fui buscando desenvolver formas próprias de escrever, muito menos preocupado com o julgamento externo e mais com o meu sentimento de que o que produzia me acalentava.

Escrever poemas é uma ação que há muito fujo, pois expõe em demasia o autor. Não consigo escrever poema e manter a necessária distância do eu lírico.

E o conto, a prosa, vai se tornando algo mais presente, partindo do pressuposto que na prosa é sempre mais fácil de se distanciar dos personagens, do narrador.

Do conto ao romance, quase um complemento, quase, também, uma necessidade. Precisava encarar o desafio.

Mas como fazer com uma agenda atribulada, sem a possibilidade de ter a dedicação que os grandes escritores conseguiram para construir suas narrativas?

Conto escreve-se numa tacada só, e depois, como um diamante, é uma questão de lapidar. Como fazer isso com um romance? Resolvi teimar, manter a lógica do conto, de escrever pequenas histórias e amarrá-las para tornar uma narrativa longa, como uma obra de artesanato.

Do desafio à teimosia, espaço nenhum. Pois se permitisse espaço, desistir seria o caminho.
Durante dois anos, entre 2005 e 2007 construí o texto com quatro narradores em primeira pessoa, histórias que se cruzam e apenas algumas citações de um narrador em terceira pessoa.

Terminada a primeira etapa, deixei-o muito tempo amadurecendo, sem coragem de avançar, usando como muleta a demora das editoras em confirmarem a publicação.

Este trabalho, passado por algumas consultas, uma revisão final encorajadora e uma reescrita em 2013, se tornou A Sorte Não Sorriu Para Cézár Rondicatto: fruto de uma teimosia.
O resultado final, o livro impresso, que agora pego nas mãos, é sempre de muita ansiedade. Por mais, que garanto, não me importa o julgamento alheio, é parte de uma vida colocada ali no papel.

E o romance precisa ser assim, para o autor, inseguro, incompleto, teimoso, distante e muito próximo. Só assim terá desafios para superar e continuar o que está parado.

Enfim, o que quero dizer com isso tudo, é que se você é destes autores, que continua com a gaveta como grande companheira, teime, persista, você tem o dever de mostrar para o mundo sua arte. O que vai acontecer, não importa? Persista e mostre!

Escrevo isso para mim mesmo. Com mais dois romances iniciados no período, agora é buscar alternativas para concluí-los. Fazer com que a política dê um espaço para a literatura.

LANÇAMENTOS
A primeira atividade de lançamento do novo livro, acontece, nesta sexta-feira, dia 21 de março, em Foz do Iguaçu. Dia 29, novamente em Foz. Em abril, uma turnê pelo Paraná (Ponta Grossa, Curitiba, Toledo, Cascavel e Campo Mourão). Em maio, Londrina e Maringá.

A SORTE NÃO SORRIU PARA CÉSAR RONDICATTO poderá ser encontrado pelo site da Livraria Cultura e da Redes Editora (a partir de abril).
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