A CPI determinará o fim do governo Bolsonaro?

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Colapso no sistema de saúde de Manaus foi um dos resultados da omissão de Bolsonaro l Foto: Guilherme Silva

No momento em que o Brasil se aproxima da vergonhosa cifra de 550 mil mortos por covid e que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), destinada a apurar responsabilidades por essa tragédia, aponta cada vez mais evidências de que o principal responsável pela amplitude dessa catástrofe é o governo Bolsonaro, seja pelo negacionismo, pela incompetência ou pela corrupção na aquisição de vacinas, não há como se deixar de questionar se já é o fim desse governo.

As enquetes de opinião realizadas por diferentes meios atestam os dados que a CPI tem revelado. Indicam que o governo não tem competência para gerir o país, que o presidente é burro, despreparado, autoritário e, mais grave, 70% acreditam que há corrupção no governo. E para completar a popularidade desaba. É difícil ficar em pé. Se não cair, se tornará um mero “zumbi” à mercê do fisiologismo insaciável.

A CPI iniciou tímida, tateando, acreditando que iria, talvez, demonstrar que o governo fora irresponsável no enfrentamento da pandemia, o que não era tarefa difícil pela abundância de atos e ações praticadas pelo presidente contra toda e qualquer medida que evitasse a proliferação da pandemia, como evitar aglomerações, usar máscaras e providenciar vacinas o mais rápido possível como a principal medida profilática.

Como é sabido, o presidente fez o contrário. Incentivou e praticou aglomerações, não usou e debochou de quem, responsavelmente, procurava usar máscaras, proibiu o Ministério da Saúde de comprar vacinas do Instituto Butantã e esnobou as insistentes ofertas da Pfizer que oferecia 100 milhões de doses de vacina ainda nos idos de 2020.

Mas, cumprindo a máxima legislativa de que em matéria de CPI “sabe-se como começa, jamais como termina”, a CPI da Covid, diante das revelações de que havia autoridades do governo negociando propina para poder comprar vacina, logo abandou os eixos da incompetência e do caricato negacionismo – já amplamente demonstrado – para se fixar naquilo que efetivamente pode ser o fim do governo Bolsonaro: a corrupção.

A cada dia surgem novos fatos e evidências de que foram as negociatas em busca de propina que impediram que os nossos amigos e parentes tivessem acesso a vacinas e, assim, pudessem se proteger e até hoje está entre nós. Não foi apenas incompetência e negacionismo. O que mais dói é saber que nossos entes querido morreram asfixiados pela falta de oxigênio ou de leitos hospitalares e UTI, enquanto o governo negociava propina.

A CPI já desnudou o governo, daí o desespero do presidente. Mas, lamentavelmente, ele não indica qualquer disposição para corrigir seu caminho errante e de absoluto desprezo pela vida de nossos entes queridos.

Ele continua afrontando todas as regras sanitárias, preconizadas inclusive pelo próprio Ministério da Saúde. Debocha da população com as suas “motociatas”, sem qualquer respeito pela dor e o sofrimento das famílias enlutadas. O roteiro desse espetáculo grotesco em Manaus previa a passagem pela frente de 03 cemitérios, exatamente numa das cidades mais duramente atingida pela pandemia e que acaba de suspender a vacinação por falta de doses para imunizar a população. A patuscada acabou em parte frustrada pela repentina hospitalização do presidente, mas alguns adeptos realizaram o evento.

Durante todo o período da grave crise que se abateu sobre Manaus o presidente jamais aqui apareceu para tomar medidas concretas e, no mínimo, ser solidário com a nossa dor. Enviou o ministro Pazuello que alardeou medidas jamais cumpridas. Mas agora Manaus vira rota de seu roteiro turístico (as motociatas) bancado com dinheiro público.

Os escândalos revelados

O avanço das investigações revelou o escândalo da Covaxin, negociata pela qual membros do governo cobravam propina de 1 dólar para adquirir vacinas através de intermediários. Os dados colhidos pela CPI revelam que havia dois grupos dentro do governo brigando pelo negócio.

E agora a revelação de que enquanto o presidente proibia o ministério de saúde de comprar a Coronavac do instituto Butantã, por 10 dólares, o governo negociava com intermediários a compra da mesma vacina por 28 dólares. É preciso dizer mais?

Por mais odioso e bárbaro que pareça, nesse governo, a vida humana virou negócio, onde as mortes são meras estatísticas e a compra de vacinas estava condicionada a propina.

Diante de tudo isso, resta a CPI continuar investigando e preparando um relatório que possa orgulhar o povo brasileiro e reparar, pelo menos em parte, a dor e o sofrimento de quantos perderam a vida por incompetência, má fé e corrupção desse governo.

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