A culpa pela devastação

Por hábito cultural procuramos sempre os culpados pelos desastres.

Em São Paulo o prefeito acha que foi a chuva, ou quem a mandou, talvez Deus; no Rio de Janeiro, que viveu no ano passado um dilúvio semelhante, alguns atribuem à lentidão com que são aplicadas as soluções técnicas já apontadas; a mídia entrevista professores que repetem as acusações à população que constrói em áreas de risco e que despeja lixo nas encostas; as pessoas que perderam a casa e também parentes, amigos e vizinhos, reclamam a falta de apoio na defesa civil. Todos os culpados, do passado e do presente, incluindo Deus, poderão assumir apenas a responsabilidade pela construção de novas estruturas urbanas de proteção e casas com segurança, mas, sobretudo, de uma política inteligente que transforme a sociedade com o apoio de um Estado Democrático

Os que constroem as suas casas em zonas por onde escoam as águas dos rios e das encostas, o fazem por ignorância e falta de fiscalização técnica municipal – isto serve para pobres e ricos indistintamente, sempre contando com um serviço público omisso ou inepto. Mas, na grande maioria dos casos, o povo ergue as suas casas precárias onde calha, isto é, onde fica mais barato e não são incomodados por quem deveria exercer funções de Estado. Algumas vezes, e não poucas, recebe convite e proteção de políticos inescrupulosos que pretendem vir a representar um Estado omisso ao qual começam a lesar mesmo antes de eleitos.

Isto mostra que a falha do Estado ou de quem o represente, é a fundamental na análise das culpas, mas será difícil estabelecer quem deveria ter alterado a situação que teve início com a formação da cidade ou da unidade produtiva em torno da qual a urbanização cresceu. A sucessão de governos ficou presa naquele núcleo inicial que, em muitos casos, foi construído no vale para aproveitar a água do rio ou na encosta onde a vista é linda e, com o aumento da densidade populacional que se tornou mais importante na competição pelo espaço e o rio foi sendo desviado, canalizado ou até mesmo teve o seu curso invertido (como o rio Pinheiros em São Paulo). A partir do primeiro erro segue-se uma sequencia quase infinita de medidas que só agravam a situação favorável às enchentes devastadoras.

Quando chegamos à conclusão de que todos os governos foram culpados – seja por prosseguirem os erros técnicos que nasceram no tempo da colônia e do Império, ou por não serem capazes de zelar pelas cidades que necessariamente crescem, ou por apoiarem apenas os mais ricos fazendo obras estruturais dos terrenos e orientando a construção de prédios mais sólidos e protegidos – constatamos que sempre faltou o suporte democrático de um de um verdadeiro Estado que não discrimine os cidadãos por classe social deixando-os à margem das leis de proteção civil. Aí está o erro básico. Não interessa de quem foi a culpa, o importante é construí-lo agora em todo o território brasileiro.

Temos uma Presidente da República competente e capaz de gerenciar esta construção e que não tem medo de reconhecer os erros históricos e assumir a responsabilidade por organizar a forma de corrigi-los. Dilma trouxe-nos os valores de mulher consciente, valente, líder de uma equipe competente, sensível ao sofrimento humano e capaz de planejar o futuro para os nossos filhos. Lula abriu caminho para que o Brasil possa usufruir deste grande passo histórico que venceu preconceitos e, durante os seus governos os brasileiros compreenderam que a democracia depende da participação social.

Vamos em frente!

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