A Cultura das Eleições
As eleições proporcionais de outubro próximo podem repetir um problema da cultura política atual. Durante o regime militar, nas décadas de setenta e oitenta do milênio passado, o voto popular nos candidatos que representavam a resistência ao arbítri
Publicado 10/06/2006 18:04
Aumentou substancialmente a quantidade de parlamentares de esquerda ou democratas radicais. Esta evolução atingiu o clímax durante as eleições para a Assembléia Nacional Constituinte em 1986.
De lá para os dias atuais, houve uma involução significativa do chamado voto ideológico, como proclama a sociedade, para diferençar este do sufrágio fisiológico, ou de compromisso, de favor, de gratidão pessoal etc.
Cresceu o número de parlamentares eleitos através de favores os mais diversos. Distribuição de telhas, tijolos, sacos de cimento, cestas básicas, sapatos e outras artimanhas.
Essa inclinação atingiu, igualmente, ponderáveis segmentos da classe média. Como uma espécie de suplementação ou substituição à ausência de mobilidade social nos extratos intermediários da sociedade, através da promessa de empregos, quer no setor público ou na iniciativa privada. Assim, tornou-se majoritária a despolitização das eleições legislativas. Em conseqüência, reduziu-se a ascensão de parlamentares de esquerda ou “independentes”, nas Câmaras Municipais, Assembléias Legislativas, Congresso Nacional.
Restou uma fatia menor do eleitorado para o voto lúcido à representação dos vereadores, deputados estaduais, federais, senadores, de formação avançada, em contraste com os votos conferidos aos mesmos segmentos progressistas nas eleições para o Executivo. Tornando monopólio das classes proprietárias, urbanas e rurais, o assento nessas instâncias.
Urge a restauração da legitimidade do voto consciente. Encontrar caminhos de mobilização para que se reverta a atual característica do processo político.