A Figueira Seca

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O jornal denuncia as imagens
de um mundo cheio de ofensas.
A vida tosse, tosse dando avisos de si.
Eu busco mesmo o gozo de um gesto novo,
de uma inédita aparição!
Mas Deus põe minhas mãos tão mudas…
Nenhum verso, nenhum outono em palavras.
O cesto é sem frutas e sujo do nada.
E eu que já realizei infâncias fascinantes
nos caramujos, nas formigas
nos pequenos voadores, nos atalhos pro riacho,
não consigo cometer um verso.
Não fiz trato com ninguém
e o silêncio da rua umedecida
também repousa em meus dedos.

Quem decide o tamanho das coisas?

A varanda me decide um pensamento
que não serve pra ninguém.
E a página do meu dia querendo estar limpa
como as árvores do fim da rua
se encontrando com a garoa.
Mas despejo o meu olhar inteiro sobre a rua
e colho quieta o semáforo em vermelho.

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