A Ilha Sitiada
O falecido Milton Santos, reconhecido internacionalmente como um dos maiores geógrafos da nossa época, afirmou em uma das suas últimas entrevistas que só poderia analisar a realidade cubana sob a ótica de uma nação sitiada.
Publicado 23/02/2008 18:53
Uma pequena ilha do Caribe, com 11 milhões de habitantes, que teve a suprema ousadia de afirmar a sua soberania perante o grande império da atualidade.
Fidel Castro, o líder dessa mais que espinhosa empreitada, por questões de saúde, abdica à direção da inconclusa revolução, recebe longos espaços na mídia internacional, oscilando entre elogios ao seu itinerário, críticas sinceras e agressões costumeiras.
Durante quatro décadas, Castro enfrentou muitas sabotagens contra a independência de Cuba, inúmeras tentativas de assassinato, fartamente divulgadas, promovidas pela CIA, através das mais excêntricas e inusitadas armadilhas.
Cuba procura, com dificuldades, um caminho socialista nas condições de uma cultura caribenha, com um território cercado, em um adverso momento histórico.
Os EUA, municiados de poderosos meios de comunicação e militares, fazem o conhecido e o impensável, objetivando a desestabilização do país.
Na verdade, a causa de tamanha fúria contra uma ilha de pequenas proporções geográficas, reside no exemplo de que é possível enfrentar Golias sem rendição. Que é preciso assegurar a autodeterminação de uma nação, como define a Carta das Nações Unidas, infelizmente, sistematicamente violentada.
O embargo norte-americano provoca incontáveis danos ao Estado cubano nas áreas institucional, econômica e comercial. Jamais conheceu um momento de paz, vive sob a condição de beligerância ininterrupta.
Fidel, em seu outono, agiganta-se internacionalmente, carregando nas costas a rudeza de mil desertos. Na tenaz resistência pela soberania, sobrevivendo a uma época de agressiva hegemonia bélica e virulência ideológica.
Darcy Ribeiro, homenageado na Sorbonne, disse que acertou em várias coisas, errou em outras tantas. Horrível, declarou ele, seria aplaudir os que tentaram através da selvageria fascista, esmagar os nobres ideais pelos quais lutou grande parcela da sua geração. É o caso de Fidel, e Cuba.