A imprensa e os agitadores (4ª parte)
Carrascos recusam-se a executar Caneca
Publicado 13/11/2010 10:00
A Confederação do Equador teve dois agitadores relevantes. Frei Joaquim do Amor Divino dirigiu o jornal Typhis Pernambucano. Cipriano José Barata de Oliveira, à frente do Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco. No dizer dos autores de Pernambuco em chamas, Cipriano Barata foi um “agitador extraordinário.” Inda que preso nas masmorras, dirige onze edições. A Confederação foi proclamada em 2 de julho de 1824, em pese o envio de uma flotilha armada, da Corte, para impor Francisco Paes Barreto, preferido do imperador. Os pernambucanos alçaram Manoel de Carvalho Paes de Andrade ao governo. Já então é aventada uma Assembleia Constituinte. Emissários são enviados aos Estados Unidos e à Europa; da América, o reconhecimento da Confederação; na Europa, a compra de seis canhoneiras para resistir à reação imperial. Para manter o novo governo, é montada uma flotilha de quatro navios de guerra; e corpos de exército junto à Companhia de Guerrilhas. O recrutamento garante o pagamento de soldo aos engajados, e pensão aos herdeiros dos mortos em combate. O Grande Conselho, cuja incumbência é regular os poderes do governo provisório, não chega a se reunir. Também o Supremo Governo Provisional não chega a funcionar. Paes de Andrade permanece governando.
Para obter o apoio de negros e mulatos, livres ou não, um edital suspende o tráfico de escravos no porto do Recife. A medida resulta na cisão de grandes proprietários e traficantes de escravos. “Na prática”, reiteram Rubim Aquino, Francisco Mendes e André Boucinhas, “Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco compuseram a Confederação do Equador.” Em Alagoas há sublevação dos liberais favoráveis à nova ordem. O brigue Constituição ou Morte e a escuna Maria da Glória, rebatizada Goiana, são enviados para ajudá-los. Na refrega com navios legalistas, são derrotados. Três comandantes são enviados à capital do Império, julgados e enforcados. João Guilherme Ratcliff, que se envolvera na Europa numa revolta contra Carlota Joaquina, mãe do imperador, tem as mãos e a cabeça cortadas e levadas de presente à rainha mãe.
O mercenário escocês, Alexandre Thomas Cochrane, é “contratado” para organizar a marinha imperial. Está à frente de uma frota de cinco navios para combater os rebeldes. Tem negociações secretas com Paes de Andrade, recusa o suborno de 400 contos de réis para aderir à rebelião; não por fidelidade à Coroa, porquanto exige dois milhões de contos.
No interior da província, as oligarquias permanecem fiéis a Pedro I; são lideradas por Francisco Pais Barreto. Nos combates, a desproporção prejudica os revoltosos. Paes de Andrade, que se unira a frei Caneca na Divisão Constitucional da Confederação do Equador, vai ao interior para marchar ao Ceará, onde Tristão Gonçalves de Alencar Araripe adere à Confederação. Mas, “a bordo da fragata inglesa Tweed é levado a salvo para a Inglaterra.” Há relatos que dão conta de que fugira para livrar a própria pele.
Frei Caneca, o agitador da Revolução de 1817, defende a idéia de que “todo homem é livre para manifestar os seus sentimentos e sua opinião sobre qualquer objeto; a liberdade de imprensa (…) não pode ser proibida, suspensa nem limitada; a igualdade consiste em que cada um possa gozar dos mesmos direitos; a lei deve ser igual para todos, recompensando ou punindo, protegendo ou reprimindo; o direito de propriedade (…); a instrução elementar é necessária a todos, e a sociedade a deve prestar igualmente a todos os seus membros.”
O julgamento de Caneca é uma farsa, apenas confirma o decidido por Pedro I. O carrasco, o negro Agostinho Vieira, recusa-se a exercer o ofício; é seguido pelo ajudante; o nome deste, os cronistas não informa. Recorre-se a presos da cadeia, todos se negam. Ninguém quis se associar ao crime que teve a cumplicidade da Igreja Católica.