A Marcha da Família ou: A volta dos que já foram

O psicanalista austríaco Dr. Wilhelm Reich, no ano de 1949, escreveu um tratado onde definia o conceito de Zé Ninguém. Fala, em suma, de um reacionário; uma pessoa orgulhosamente submissa às ditaduras. Esse tipo, mais do que nunca, tem se proliferado no Brasil, e traz consigo um revisionismo dos mais sórdidos; uma desprezível tentativa de reescrever o período que se dá entre 1964 e 1985.

Com a queda da ditadura civil-militar de 1964, tornou-se antiquado assumir-se de direita. Isso remetia àqueles tempos de horror; tempos de covarde violência e censura. Não pegava bem para a imagem de bom mocismo que os lacaios da ditadura gostavam — e gostam — de passar. Os que ainda guardavam fotos do general Emílio Garrastazu Médici em suas casas, o faziam com muita cautela e às escondidas. Depois, nos anos 90, as ideias economicamente liberais começaram a chegar ao Brasil. Anunciavam uma nova direita; uma direita democrática e libertária. De carona, veio também a direita conservadora — a mesma que outrora apoiou o golpe militar e a ditadura que se sucedeu a partir dele. Esse discurso transformou-se em uma militância anti-comunista, repetindo toda a mentira sórdida e suja espalhada por uma canalha de Zés Ninguéns. Hoje, em 2014, querem uma nova Marcha da Família com Deus pela Liberdade. É a velha história da rã cozida.

Agora veio o revisionismo. Até aqui, nenhuma novidade. Paulo Francis, em seu livro “Trinta anos esta noite” (1994), já dizia que era falsificação histórica afirmar que houve 20 anos de ditadura. Nas discussões de hoje, sobretudo entre as que partem dos liberais e libertários, criam uma nova definição de esquerda e direita. Esquerda, para eles, são os regimes estatistas; direita, porém, os que não têm grande intervenção estatal na economia. E concluem: a ditadura de 64 foi de esquerda. É a direita se limpando em sua própria sujeira. Amiúde, atribuem a Lenine a frase “Xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz.” Pergunto: quem é que está fazendo isso? Repito: nenhuma novidade. Por fim, cito Marx, mas não o Karl. O Groucho. "Você prefere acreditar em mim ou em seus próprios olhos?".

A “Marcha da Família”, em sua página de evento no Facebook, hoje conta com menos de 3 mil presenças confirmadas. Com isso, sinto lhes informar, não derrubam nem um vereador de prefeitura de cidade do interior. São uma piada pronta; uma meiuma meia-dúzia de pessoas que, muito embora sejam vítimas do seu próprio escárnio, têm explicitamente a mesma mentalidade vil daqueles que marcharam há 50 anos atrás. Talvez até pior.

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