A média da mídia
É interessante, ou intrigante, a maneira com que a chamada grande mídia tem usado as informações no cotidiano de seus veículos. O que vemos é um crescente descaso pelo rigor da informação nas coberturas mais triviais e a contínua parcialidade nos temas globais.
Publicado 04/09/2012 14:48
A Internet democratizou um bocado, mas nem tanto. As empresas que controlam o acesso às redes cuidam também dos conteúdos. E não é só para evitar abusos ou agressões pessoais, mas para controle ideológico. Teria milhares de exemplos, mas cito um. As Farcs colombianas têm um site em rede, mas veja se consegue acessar.
O caso aqui, entretanto, são as emissoras de rádio e TV e a mídia impressa de largo alcance, principalmente a brasileira. A todo instante vemos informações desencontradas nas matérias mais corriqueiras. Há um desastre em qualquer lugar, uma emissora diz que morreram 10 pessoas e a outra, no mesmo momento, diz que morreram 15. Ou a mesma emissora, em outro noticiário. E fica por isso mesmo.
Isso vale para todo tipo de assunto. Em reuniões políticas toda hora vemos uma emissora (ou repórter, ou âncora) afirmar que tinha tantas pessoas e que a decisão sobre tal tema foi com tantos votos. A outra emissora ou o outro repórter já tem números diferentes. Aliás, é comum vermos o mesmo repórter mudar de números de uma edição para a outra, sem sequer pedir desculpas.
A impressão que se tem é de que esses órgãos não estão nem aí para o ouvinte, telespectador ou leitor. Seriam para eles pessoas desmemoriadas ou imbecis que não estão atentos para as informações que lhes são passadas a todo instante.
Isso vale para as notícias corriqueiras, do dia a dia, sem falar que a maior parte delas é incompleta e sequer trazem os cinco elementos clássicos, ou seja, o “quem, quando, como, onde e por que”. Não se trata nem da chamada imparcialidade da mídia, uma falácia que vem desde os primórdios da imprensa. Afinal, ao elegermos o fato que vamos noticiar e a maneira com que vamos apresentá-lo já estamos fazendo um juízo de valor.
Nas questões de maior densidade, então, o buraco é ainda mais embaixo. Há uma decisão deliberada dos órgãos de comunicação de tratar os temas do ponto de vista das classes dominantes. E nas questões internacionais, na visão dos Estados Unidos e seus aliados.
Basta ver a cobertura de assuntos relacionados ao Oriente Médio, por exemplo. Agora, fala-se de modo natural sobre a possibilidade de intervenção no Irã porque pode ser que haja uma bomba nuclear naquele país. E é vendido como um grande problema. Ali, ao lado, Israel tem armas nucleares, e passa batido. O ideal seria ninguém ter, mas o que ocorre é que um pode e o outro não pode.
Neste caso, vale mencionar as milhares de bombas atômicas que os EUA e demais membros da Otan têm. Inclusive aqui, na cara da gente, em embarcações da Quarta Frota que rondam as Ilhas Malvinas e em bases espalhadas pela América Latina. E não se vê isso na grande mídia como uma ameaça à Humanidade.
Nesse plano de abordagem todo mundo está cansado de saber que essa mídia é controlada em todos os cantos do Planeta. Mas, pelo menos poderiam esses veículos ter alguma acuidade no trato da informação que mandam às nossas casas 24 horas por dia.