A Mira da Mídia

O assunto é a tão velho quanto os primeiros manuscritos publicados na antiguidade, mas segue sempre atual. Desde logo, vale lembrar do Dr. Godinho, personagem de Eça de Queiroz no romance Crime do Padre Amaro. Anticlerical ferrenho e dono de jornal, ele costumava dizer: “contra o clero, havendo denúncias, publiquemo-las; não havendo, inventemo-las”.

Os donos da grande mídia e jornalistas tupiniquins, nos dias atuais, têm se inspirado no personagem, só mudando o alvo. Contra Lula e o PT vale tudo, mesmo que passando ao largo dos mais rudimentares princípios éticos, que dão sentido à nossa profissão. Ter uma posição diante da realidade é inerente ao ser humano, mas modificá-la pela mentira, em seu favor, é muito outra história. 

Vivemos em um país em que a liberdade de expressão vai muito além do que se poderia imaginar. Pelo menos para quem, como eu, exerce a profissão desde os tempos da ditadura militar e por ela foi perseguido e censurado.

Mas fui preso, também pelo exercício do jornalismo, já após a redemocratização, no governo de José Sarney. Foi por invadir a Base Militar do Cachimbo, no Pará, e denunciar, na Folha de S.Paulo, os testes nucleares que lá eram desenvolvidos. Sempre, porém, sem inventar fatos ou mitigar a verdade.

O que vemos hoje, porém, no caso em questão, é o uso de todos os meios de comunicação massiva, dos tradicionais aos internéticos, para destilar o que outro dia o jornalista Luis Nassif classificou, em artigo, de “Ódio (singular e absoluto) a Lula”.

Em verdade, porém, é mais do que ódio a Lula. É uma insana guerra a mudanças, como as que levaram a incluir grande parte dos 50 milhões de brasileiros que FHC dizia, lá atrás, no seu primeiro governo, que eram inatingíveis por políticas públicas. O mesmo FHC que um dia mandou que rasgassem o que já havia escrito e ainda faz a cabeça dessa mídia raivosa.

O Dr. Godinho passeia fagueiro por cadeias de TV e de rádio, jornalões, revistas, blogs e redes na Internet. O compromisso com a verdade, ou realidade, é zero. Esquece, inclusive, que o seu direito de expressão vai até aonde se fere o direito dos outros. Valores básicos vão para o espaço.

Não cabe aí alegar que, bem ou mal, todos têm o mesmo direito de se manifestar, pois não o têm. Essa é uma querela que também vem de longe, pois trata da diferença entre liberdade de imprensa e liberdade de expressão.

A primeira tem a ver com o direito de possuir uma máquina impressora e papel para imprimir, algo que ainda hoje tem restrições em alguns países. A outra significa o direito de colocar a boca no trombone, falar, escrever ou mostrar o que quiser.

Hoje, a liberdade de imprensa significa liberdade de controle dos meios em geral, palpáveis ou eletrônicos. Mas esses, mesmo as chamadas redes sociais da Internet, têm seu conteúdo ideológico sob controle bastante vigilante. A censura dos donos é escancarada.

A sorte é que, milênio após milênio, a sabedoria popular resiste. Via redes ou cordéis.

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