A morte de Marielle está no colo dos golpistas

Às vésperas de fechar um mês de intervenção militar no Rio de Janeiro, a vereadora do PSOL, Marielle Franco, é assassinada em ato explícito de execução.

A parlamentar era liderança da Comunidade da Maré, defensora dos direitos humanos, e denunciava os abusos dos órgãos de segurança contra trabalhadoras e trabalhadores, negras e negros, moradoras e moradores das favelas da cidade. Iniciava uma carreira legislativa que, tudo indica, só cresceria em prestígio e força. Duas semanas atrás, assumira a relatoria da Comissão que analisa a intervenção de Temer no Rio e batia com força na medida.

Assim que este colunista tomou contato com a toda a informação e as imagens, veio-lhe à lembrança as fotos de nossas moças executadas nas matas do Araguaia. Helenira, Maria Lúcia, Dina… todas vieram, em preto e branco, acusar o hoje de repor o ontem e talhar fundo velhas feridas. E o mesmo sentimento, mescla de pesar, dor funda, ódio e impotência que sente toda vez que memora as perdas passadas, tomou conta de seu café da manhã, magro e insípido, acompanhou-o ônibus e metrôs afora, e se instalou com ele em sua estação de trabalho.

Assim como os assassinatos das guerrilheiras e de tantas outras militantes mancharam de sangue as mãos dos golpistas de 64, a morte de Marielle, objetivamente, irrecusavelmente, dá entrada na conta dos golpistas de 2016.

Banqueiros, magnatas dos EUA, Europa e Ásia, latifundiários, barões da mídia, mega-empresários tupiniquins, seus partidos, parlamentares, governantes, juízes, promotores, generais e chefes de polícia… todos terão em seu histórico de golpistas renitentes aqueles quatro disparos na cabeça de Marielle.

Não é de hoje que o povo trabalhador vê assassinar seus líderes. No Brasil, um rastro de sangue traça a pauta sobre a qual é escrita nossa história. Desde o nascimento do primeiro caboclo, a gente brasileira vem lutando por libertar-se de sua condição colonial e, por conta desta luta, testemunha a perda das vidas de seus mais diletos filhos. O Golpe de 2016, pelo que se vê, não quer ficar na lanterna da tabela dos diversos golpes pregressos dados pelos impérios do mundo contra nossa independência.

Alguns dirão que é exagero deste teclador computar o assassinato de Marielle na coluna de débitos dos golpistas. Como provar a conexão entre o gatilho que a alvejou e os banqueiros e comparsas que sentaram Temer na cadeira presidencial?

Respondemos que o link não carece de provas, tampouco de convicção.

Os golpistas de 2016, assim como os 1964, soltaram o cachorro louco do fascismo na procissão. Começaram, com a ajuda de alguns desatentos e muitos meliantes, por tramar e insuflar as tais "jornadas de 2013"; partiram para a desestabilização política e para o golpe jurídico-parlamentar-midiático em cima de uma presidenta eleita; entronaram um líder de gangue no Palácio do Planalto; rasgaram a Constituição e vilipendiaram o Estado de Direito nela inscrito; encarceraram líderes políticos da esquerda e cientistas, depois líderes políticos do centro; condenaram sem provas um

ex-presidente; aprofundaram a crise econômica, aumentaram o desemprego, cortaram investimentos sociais, com destaque para os destinados à segurança pública; colocaram na crista da onda um extremista de direita, ex-oficial do exército, verborrágico e terrorista; e decretaram uma intervenção no Rio de Janeiro, cujo alvo não é o crime organizado, mas os civis, que lutam para sobreviver numa terra sem governo, cheia de dívidas e sem lei.

A morte de Marielle liga-se à triste e odiosa tradição de assassinatos perpetrados pelas classes dominantes contra o povo trabalhador. E se dá no ambiente de um golpe de Estado em curso. Ocorre no âmbito de uma intervenção federal sob comando das Forças Armadas. É a morte de uma vereadora de esquerda, negra, líder popular.

Senhores golpistas, vossa própria lógica vos condena: tendes o sangue de Marielle nas mãos.

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