A posse

À tarde ensolarada e o clima seco da capital federal apenas complementavam o evento minuciosamente preparado. O forte esquema de segurança, barreiras, policiais da força nacional de segurança e o exército contrastava com a multidão de civis na Explanada que aguardava a estrela maior da festa, a presidente Dilma.

No Alvorada eu acompanhava o discurso final no púlpito do palácio. Circulando pelo hall principal do recinto me deparei com a parede de fotos de todos os ex-ocupantes do cargo de Chefe de Estado. Naquele momento, não pude esquivar da reflexão sobre a história republicana do Brasil, começando com o barbudo de traje militar, Marechal Deodoro da Fonseca, o primeiro Presidente da República.

De rosto em rosto, fui relembrando e analisando muitos momentos marcantes da nossa história, Lula, FHC, Itamar, Collor, Sarney, Figueiredo, Geisel, Médici. Lembrei até de uma discussão que tive com um norte-americano sobre democracia, onde eu questionava a posição intervencionista e militar da política externa americana, e ele, querendo encerrar a conversa finalizou: “mas, pelo menos na história do meu país não há registros de golpes militares ou coisa parecida”. Quanto a nós, olhando para aquela parede, pude perceber que foi o que mais ocorreu.

Poder vivenciar a reeleição e a posse da primeira mulher Presidenta da República do Brasil foi por si só histórico, considerando a história do Brasil. O fato ganha proporções incomensuráveis, pois, para olhar o futuro, as imagens daquela parede nos darão mesmo é o orgulho de viver neste país que, mais que militares e oligarquias, conseguiu colocar ali também um operário e uma mulher e, quem sabe num futuro próximo, consigamos também ter ali o retrato de um negro. O único caminho é, sem dúvida, a democracia.