A segunda morte de Tancredo

“União nacional, diálogo, entendimento, conciliação, trégua são nomes de um estado de espírito que está se formando na comunidade nacional.”

“De Norte a Sul do Brasil, estou pregando, em praça pública, a unidade nacional. Prego a concórdia, a construção do futuro, e não me prendo aos pesadelos do passado.”
Tancredo Neves.

Entre as tantas características de Tancredo Neves sobressaiam a capacidade para o diálogo e a habilidade em construir “pontes”.

Essa sua qualidade da moderação o fez Ministro da Justiça de Getúlio Vargas em um dos períodos mais conturbados de nossa história republicana, em que a coação dos golpistas da época, liderados por Carlos Lacerda, levou Getúlio ao suicídio.

Esse seu atributo da conciliação o tornou Primeiro Ministro no governo de João Goulart, cujo regime parlamentarista foi a saída negociada encontrada por ele para se evitar o Golpe dos militares que acabou ocorrendo anos mais tarde em 1964.

Essa sua propriedade do equilíbrio, o lançou como o grande nome da Redemocratização no Brasil tendo sido eleito, pela via indireta, com um Congresso contaminado pelos resquícios da ditadura militar que, todavia, ainda persistia.

Aécio Neves não herdou em nada os predicados políticos do avô. Pelo contrário. Personificou as práticas mais nocivas de uma política arrivista, agressiva e maniqueísta. Ao invés de unificar, foi o artífice da divisão em que vivemos nos dias atuais.

Aécio tinha um futuro promissor pela frente. Muito jovem, mas já com um extenso currículo, poderia perfeitamente liderar a oposição de direita em uma marcha responsável rumo a 2018, com enormes chances de vencer o pleito democraticamente. Mas preferiu se enveredar pelo pântano do oportunismo ao ser cooptado pelas grandes corporações que lhe propuseram o caminho mais fácil do Golpe.

Dessa forma, desceu ao nível mais baixo da política ao ser pautado pela revista Veja. Ao atacar a sua adversária (Dilma), passou a atacar também o PT. Ao caluniar o PT começou a insultar os petistas. Ao ofender os petistas já estava tomado pelo ódio disparando sua metralhadora contra todos os que votaram em Dilma. E assim prosseguiu contra tudo e todos que pensavam diferente de seu “choque de gestão”.

Tancredo suportou as suas dores abdominais com temor de anunciar sua intervenção cirúrgica e dar pretexto aos militares da chamada "linha-dura" de se recusarem a passar o poder ao vice-presidente. Esse adiamento na operação certamente lhe custou a vida. Mas Tancredo justificava essa sua escolha, ainda no leito de morte, lembrando uma frase que ouvira de Getúlio Vargas, ainda quando era seu ministro: “No Brasil, não basta vencer a eleição, é preciso ganhar a posse”.

Pois Aécio agiu igual aos algozes de seu avô. Tal como uma ave de rapina, não tolerou sua derrota e inviabilizou que Dilma Rousseff viesse a ganhar de fato a sua posse. Liderou uma oposição irresponsável, aliando-se com a grande mídia empresarial monopolista e setores do judiciário, que a boicotou desde o primeiro dia de seu governo, inviabilizando, na prática, seu segundo mandato.

Em respeito à ilustre memória do grande brasileiro Tancredo Neves, jamais solicitaria que Veja estampasse sua figura tal como fez de forma cruel com Marisa Letícia, atribuindo a Lula uma falsa afirmação. Mas se há alguém que verdadeiramente matou a memória de um ente querido, esse foi Aécio Neves.

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