Academia de Letras e Ginástica

Uns personagens da política e do jornalismo têm se vangloriado por fazer parte da Academia Brasileira de Letras (ABL), entidade criada à imagem e similitude da congênere francesa. Foi mais uma dentre tantas invenções da elite intelectual de Paris que virava coqueluche no Rio de Janeiro do século 19.

Em 1897, ano de criação da tal academia, a literatura brasileira vivia um período de transição, uma certa crise existencial, que veio desaguar na Semana de Arte Moderna de São Paulo e no advento do Modernismo, quase três décadas depois.

A ABL seria, como de fato foi, um importante fórum para ajuntar algumas cabeças pensantes e promover certo debate sobre aquele momento que viviam as letras no Brasil. Mas não influenciou em nada a Semana de 22, muito pelo contrário.

Era, em verdade, um colegiado que estava longe de representar o pensamento do conjunto de escritores brasileiros, entre romancistas, contistas, poetas, cordelistas e outros istas mais. A começar pelo fato de que seu estatuto, ainda em vigor, fixa que a agremiação terá 40 membros vitalícios – os “imortais” –, sendo que pelo menos 25 deles têm que residir no Rio de Janeiro.

Estabelece também que:

“Art. 5º – A Academia funciona com cinco membros e delibera com dez. Parágrafo único: Para eleições exige-se, em primeira assembleia, a maioria absoluta dos membros residentes no Rio de Janeiro.”

Desde a origem, ficava decretado, pois, que o centro dessa arte em solo nacional seria ali, na capital do país de então. Não se discute a qualidade da quase totalidade dos primeiros quarenta membros, dentre eles gente do coturno de Rui Barbosa, Olavo Bilac, Joaquim Nabuco, Graça Aranha e Visconde de Taunay, pra citar apenas meia dúzia, com Machado de Assis, eleito presidente por aclamação.

Mas, é claro, nem de longe os membros da academia podem ser definidos como os 40 melhores da literatura brasileira de cada momento. Escritores e poetas do porte de Carlos Drummond de Andrade, Monteiro Lobato, Graciliano Ramos, Gilberto Freyre, Érico Veríssimo, Sérgio Buarque de Holanda, Vinícius de Morais e milhares de outros nunca quiseram ser membros.

Como a ABL tem 40 membros perpétuos, só surge alguma vaga quando algum acadêmico morre, já que ali ninguém pede pra sair. Assim, mesmo não sendo previsível a data de abertura de uma vaga, há um permanente conchavo político em torno de uma possível cadeira vazia, surja ela quando surgir. Um certo exercício de academias, mas das de ginástica. E até grana corre.

Dentre os “eleitos” mais recentes está o ex-presidente FHC. Ele tinha um ou dois livros de Sociologia escritos lá atrás, com feições de esquerda, que fizeram algum sucesso, como ele gosta. Entretanto, quando se candidatou à Presidência da República, no primeiro mandato, todo mundo se lembra, ele disse “esqueçam o que eu já escrevi”. Invalidou seus livros, pois.

Tem coerência, já que na mesma época ele disse que havia 50 milhões de brasileiros inatingíveis social e economicamente, o que fez corar qualquer sociólogo sério. Tanto que aqueles milhões saíram da faixa miséria nos governos seguintes.

O fato é que muitos escritores ou pretensos escritores buscam fazer parte da entidade por acharem que serão pra sempre lembrados como expoentes, ainda que não tenham obras literárias pra tanto.

Mal sabem eles que a tal ABL não tem importância nenhuma. A História é que é implacável em seus julgamentos.

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