Adeus ano velho!

Ano sofrido de uma vida sofrida. Não são os leões que matamos todos os dias que me assustam, o pior é passar as noites convencendo o ibama que agimos por legítima defesa.

Ano de grandes perdas… Perdi amigos, perdi ente querido, perdi amores, perdi as eleições, perdi a timidez, perdi o chão que teima em fugir dos meus pés, mas não perdi a linha.

Os amigos que perdi foram em sua maioria e na maior parte do tempo, grandes mestres. Passaram a achar que eu estava com muito holofote, mas foram eles que ficaram cegos. Logo eu que nunca gostei disso.

Fogo amigo é fogo. Ameaças, ofensas, engodo. Me trata como idiota e agora diz que sou muito do esperto. Descida ou um ou outro, os dois não pode ser.

As eleições perdi, nós perdemos. O hip-hop perdeu a oportunidade de eleger um de nós. Imagina, artistas votarem no criador dos Pontos de Cultura, São Paulo eleger um senador negro, pagodeiro que tomou contato com a teoria revolucionária… Ah! Ai já estou querendo demais.

A salvação foi a Dilma. Chegava a me ofender quando alguém perguntava em quem eu ia votar. Ví pela tv um senhor ser levado de helicóptero para fazer uma tomografia computadorizada num grande centro de excelência de saúde por causa de uma bolinha de papel. Enquanto meu pai agonizava numa maca enferrujada de um hospital público.

De certa forma sabia que chegaria o dia que escreveria sobre o que vou dizer agora: Acabo de me mudar para um condomínio onde as pessoas mais parecidas comigo são os porteiros e os faxineiros.

Sabia que sofreria críticas da turma da patrulha ideológica. Vagabundo que não abre um livro, mas se incomoda por que saí de Carapicuíba. Até aí nada demais, essas policias da miséria do pensamento não me causam espanto. Se eu tivesse torrado tudo em rodadas de álcool e maconha meu conceito estaria alto. Estamos nesta merda em grande medida por engolimos essa pilha de quanto pior melhor.

Eu diria, o quanto foi positivo e intensivo o aprendizado que tive em Caracas e não foi por tele-curso. Que construir minha casa com as próprias mãos deixou mais do que calos, criou consciência. E não existiu uma única vez que descendo o morro do Ariston eu não tenha agradecido a oportunidade da batalha. As vezes na madrugada, logo cedo indo trabalhar, com chuva, sol, até mesmo nos finais de semana… Via no sentido contrário subindo lento o cortejo fúnebre encabeçado por um carro preto seguido por familiares chorando a grande dor, em direção ao cemitério. Este não teria mais a chance de tentar. Só não sabia que ao escrever, quem estaria no cortejo era eu.

Não cheguei a perder a ternura, esta não devemos perder jamais. Mas me tornei meio grosseiro, é bem verdade, endureci. Gladiador sem armadura, não dura.

Meu novo endereço. Quem é das antigas sabe. Moro exatamente no mesmo lugar em que nasceu minha vó, onde nasceu meu pai e onde eu nasci. Sou igual índio, tenho vínculo com minha terra e pra ela voltei. Um papel me tirou daqui onde vivi por 15 anos, na época era uma casa térrea em um quintal da ruazinha no bairro do Limão. Foi necessário mais 15 anos para conseguir voltar pra cá. O banzo foi monstro.

Volto mais pesado, mais velho, mais ferido, mais sabido, mais poderoso. Volto menos ingénuo, menos inteiro, menos vislumbrado.

"A vingança tem seu lado bom" (SV)
Me vinguei!

Muitos me consideram uma ameaça.
O que tenho a dizer sobre essas pessoas?
Elas estão cobertas de razão.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor