Alemão: Essa é minha quebra! Essa é minha nação!

 “Levanto de manhã, ponho a cara na janela, olho pra rua com os olhos cheios de remela…” (Doctor’s Mc’s)
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É assim que começa o meu dia, cedo pra ir trampar no CEFET, onde dou aula de artes num projeto para crianças especiais.

É hoje o dia. Saí de casa e na hora de pegar o buzão trombo com meu chegado Lesle, que ia de mala e cuia para o centro pegar o buzão para o congresso da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) em Brasília, falou que ia perder o show a noite, mas ia comprar uns CD’s para trazer. Dei logo o tok:

– Traz o do GOG

Ele esteve aqui em Teresina há uns dois anos atráz nesta mesma época, e participou da abertura da etapa estadual do CONUBES no escolão do Parque Piauí, cantou e até o Gato Preto recitou um poema emocionante!

Quando chegamos no centro, onde o ônibus ia sair encontramos um mano de Potengi no Ceará, também é da nossa nação. Disse que o Bob tava chegando de vitória e que a luta continua em PTG. Os caras fazem um trampo muito bom lá, vai ser a nossa conexão mais próxima! Firmeza Bob.

As horas passavam depressa e eu tinha que fazer meus corres, me despedi da minha nega que também ia para o DF e fui tirar xerox dos panfletos da atividade e convocar os últimos manos do movimento para se fazerem presentes no Boca da Noite. Comi um pouco no almoço e corri para o CEFET, era o ultimo dia de aula do curso técnico em artes Plásticas e eu estava me formando!

Já era 17 horas, sai e no quintal puxei da mochila um tecido pequeno de 1,50m e uma lata de Spray que nunca falta lá em casa. Pô a Nação tinha que ter uma faixa para se apresentar. Com a prática que tenho com o jet, desde os 13 anos de idade quando eu morava no bairro Morada do Vale II em Gravataí no RS já curtia rap e através das letras de Pepeu como aquela que dizia assim: “Reggaee é movimento é negro Rasta…”, tive o 1º apelido da arte proibida, pixava “Rasta” com um vidro de desodorante cheio de tinta. Aos 14 tive que vir para o Piauí com minha irmã e minha Mãe que é piauiense e que como muitos nordestinos fazem essa viagem migração e muitos quando não dá certo voltam. E aqui no Piauízão antes dos 18 anos tive muita aventura e tretas como o “Aranha” da SG (sombras do grafite) por causa dos efeitos que as latinhas faziam na cidade.

Mais aos 18 anos não dava mais para escapar dos homens, nem tinha mais lugar para pixar em Teresina, minha rebeldia tinha que ser revertida para a revolução. Filiei-me na UJS, trouxe junto um dos maiores pixadores de Teresina o Jagles “Svera” e a namorada dele “Juliet” e bolamos o Projeto “Grafite é Arte”, apresentamos para a prefeitura que topou na hora e mobilizamos cerca de 60 jovens da cidade que como nós pixava e pelas considerações e sem precisar se cadastrar fizemos um grande evento de grafite em Teresina como jamais havia acontecido, com SK8, Biker’s, muito hip-hop e 300 metros de muros grafitados conscientizando os jovens e a sociedade que o grafite era a saída para as pixações.

Tava dando 18:30 tinha de desce para o evento, ia acontecer no espaço Boca da Noite no Clube dos Diários, local onde toda quarta-feira acontece apresentações dos artistas da terra. Fui logo panfletando, procurando os manos e minas do movimento, encontrei vários, o Cley que virou hippie, a Cris mulher do Morcegão DJ do Flagrante e a Jakeline ex do WG vocal do Flagrante que tão na luta para inserir mais mulheres no movimento, topei com o Tom “Bola 8”, mano das antigas pixamos juntos também considerado como o Svera, pra mim o melhor skatista do Piauí, hoje tá em Sampa e veio passar o fim de ano com a família. Pô a última vez que nos vimos foi numa atividade que fiz lá na minha quebrada com a direção da escola Itamar Brito, a mulekada, uns 30 alunos selecionados no dia 8 de março, dia das mulheres, de 2003 grafitamos internamente a escola, rolou muito hip-hop e os mulequees do setor que andam de sk8 improvisaram uma pista na quadra da escola, ai o Tom veio ao meu pedido dar uma força, a galera pirou com as manobras do louco!

19:30 e o show não havia começado. Os manos do Neuroze que iam abrir o show não estavam completos, faltava um integrante.

– Incompleto nóis num toca, nóis somos assim! Falou o mano Luzinaldo. 

De boa o irmão do Atividade Negra, o Preto Jr. topou, tinha acabado de conhecer ele andava junto com o Sérgio do movimento negro e tínhamos fechado a realização do 1º festival de Hip-Hop da Zona leste dia 23 deste mês.

O mano mandou a letra e depois subi no palco pra apresentar a Nação Hip-Hop Brasil e os loucos do Conspiração de Rua, que graças ao trampo que os caras fazem estamos tendo a oportunidade de lançar a nação aqui no Piauí. MMBOM (Marcos) líder do grupo que conheci quando cheguei no estado, morávamos na mesma quebrada (zona leste), ele dançava break, sempre via ele nos bailes que nem aqueles que rolavam no RS quando eu tinha 10 anos de idade e morava no Jardim Algarve na cidade de Alvorada, tocava repenique na escola de samba “Os Astros, escutava Thayde, DJ Hum, Sampa Crew, Racionais ao som do DJ Pingo, irmãozão lá do sul. O marcos sempre faz me lembrar dos meus tempos de guri! Ai há uns dois anos atrás encontrei com ele e o FG negão cabuloso, considerado e muito gente fina se apresentando nesse mesmo palco onde tamo lançando a “nação” de lá pra cá a parceria firmou, sou quase o empresário da banda, mais não me envolvo!

O Atividade Interna veio pra fechar com chave de ouro, empolgando a galera, tirando até um reggaee das pick-up. Manos da sudeste que fazem um trampo independente e muitos corres pela periferia. DJ 15 firmeza sempre ajudando os pequenos, “nós tamo ai, sempre chega neguinho com esse papo de unir mais nunca vai pra frente” falou.

Ao final do show foi lançada a Nação Hip-Hop Brasil no Piauí pra unir o movimento e conscientizar a sociedade no poder que o hip hop tem.

Quando fui agradecer ao 15 pela força colou um muleke do mocambinho (zona norte) o “Umbigo” que eu tinha trocado umas idéias no dia anterior e passado horas com ele ouvindo os sons das bandas de Brasília, Álibi, Código Penal, Consciência Humana e outros, apresentei ele ao 15 e disse que ele tinha umas letras mais não tinha as bases, ai o rap solidarizou-se, marcamos pra banca toda se encontrar na quebrada deles e produzir!

Ainda pra finalizar o Atividade Interna convidou eu e o Conspiração de Rua para irmos com eles dia 13 de janeiro no festival de hip-hop que vai acontecer em são Luis, então é nóis, firmou!

Edu Alemão é grafiteiro e dirigente da Nação Hip Hop Brasil no Piauí.

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