Ambientalismo e Socialismo: lutas indissociáveis

Sempre que o homem transformou a natureza houve prejuízos ao ambiente
natural. As pirâmides do Egito utilizaram quantidade formidável de
pedras, extraídas das regiões próximas, modificando consideravelmente
o bioma antes existente. O solo da Babi

A partir da revolução industrial  o mundo conheceu a poluição
industrial. As guerras sempre tiveram efeito devastador sobre a
natureza, mesmo funcionando como elemento de controle populacional. As
primeiras experiências atômicas, porém, tiveram não só o efeito de
arrasar as regiões atingidas, mas também o de provocar mudanças
genéticas nos seres vivos por várias gerações. O uso de napalm na
guerra do Vietnam comprometeu grande parte da área agricultável do
país.


 


 


A revolução verde, ocorrida a partir da década de 70 no mundo todo
provocou outro tipo de poluição. O uso de agrotóxicos e fertilizantes
químicos transformou terras pouco produtivas em férteis e com produção
abundante, mas por pouco tempo. Em contrapartida, trouxe a
contaminação nos alimentos, o fortalecimento de pragas antes
controladas de forma biológica e o empobrecimento do solo.


 


 


A monocultura decorrente do latifúndio completou o quadro, com a
desertificação de vastas áreas no planeta, uma vez que terras
impróprias para a agricultura foram transformadas, com o uso de
insumos químicos, em campos de plantações. Por dez ou doze colheitas.
Depois, a terra volta a tornar-se imprópria para a agricultura,
trazendo a erosão, mudanças climáticas e alterações profundas na fauna
e flora locais. Mas talvez o efeito mais perverso do agronegócio seja
a substituição da agricultura voltada para a alimentação pela
agricultura voltada para a exportação, notadamente de oleaginosas,
cana-de-açúcar e matéria prima para celulose e carvão.


 


 


 


A plantação de árvores exóticas no Brasil tem mais de cem anos.  O
eucalipto, inicialmente, foi plantado em áreas alagadiças a fim de
permitir seu uso para outros fins, devido ao grande consumo de água
que necessita (de 30 a 50 litros por dia). Aos poucos, foi sendo usado
para moirões, como lenha, e a partir da década de 70 inicia-se o uso
do eucalipto para a fabricação da pasta de celulose. O processo de
fabricação da pasta está entre os mais poluentes da indústria. Além de
consumir grande quantidade de nutrientes, água, inviabiliza qualquer
outra cultura durante ou após (cerca de 30 anos) seu plantio. Os
únicos animais que conseguem coexistir com o eucalipto são cupins,
aranhas e caturritas.


 


 


Uma área de 50 ha, que sustenta economicamente uma família de quatro
ou cinco pessoas anualmente produzindo alimentos para cerca de 50
pessoas ocupa, no primeiro ano, um trabalhador. Entre o segundo e o
sétimo ano  um único trabalhador dá conta de uma área de 1.000 ha,
unicamente para aplicação de fertilizantes. No sétimo ano, um
trabalhador, operando máquinas de corte, trabalha cerca de 500 ha. A
pasta de celulose é processada em empresas nem sempre próximas da
região de plantio; depois do processamento sofre o processo de
clareamento, a base de cloro. E depois de pronta para ser transformada
em produto final é exportada. Esta situação ocorre hoje na África e no
Brasil. Atualmente, o Brasil possui 5,3 milhões de ha plantados com
eucalipto. As empresas planejam ainda ampliar esta área em mais 2,6
milhões de ha.


 



A sociedade capitalista bem poderia chamar-se sociedade do esperdício.
Afinal, nos países ricos, entre  30 e 40% de todos alimentos comprados são  postos no  lixo. O que inclui o desperdício de toneladas de água potável gastas na produção destes alimentos. Isto enquanto existem no mundo cerca de um bilhão de famintos e desnutridos crônicos, e uma criança morre a cada cinco minutos vítima de doenças decorrentes de problemas relacionados ao mau uso  da água e falta de saneamento.


 


 


A promoção do consumo, carro-chefe do capitalismo, exige a produção de
artigos em quantidades cada vez maiores, para usufruto de uma
pequena parcela da população. Para garantir a circulação de bens e
mercadorias, uma das táticas é a produção de produtos com pouca
durabilidade, ou de uso único; outra tática é a artificalização de
necessidades, visando produção e venda de supérfluos. O preço deste
processo, é exaustão de recursos, a geração de resíduos além da
capacidade de eliminação e a criação de mazelas sociais próprias do
capitalismo. Afinal, na sociedade do ter, onde em uma única estação
climática são produzidas duas coleções de moda, e mesmo o papel
higiênico deve passar por cloramento e receber estampas, a efemeridade
é o tom dominante.


 


 


Esta situação toda não passou despercebida nem mesmo aos olhos do
capital. Ciente que a luta pela preservação ambiental pode se
transformar em ferramenta valiosíssima contra o sistema econômico
vigente, o sistema encampou, com relativo sucesso, o discurso
ambientalista. Apesar de cumprir, em certa medida, a função de
denúncia e de promover medidas protetivas à natureza, este modo de
luta se torna inócuo por estar descolado do enfrentamento ao modelo
econômico e social que o mundo vive hoje. Seria cômico, não fosse
trágico, ver as transnacionais poluidoras investindo em publicidade…
Defendendo a natureza!  Assim como o discurso dos ''verdes'' que não
tocam no centro do problema: Consumo, lucro e exploração.


 


 


A simples luta pela preservação, se não lincada à luta pelo
socialismo, por outro modo de produção, pela diminuição do consumo,
pelo fim do latifúndio, terá o mesmo efeito do perfume antes do banho.
Sem esquecer que a miséria que degrada o homem é também uma das
responsáveis pela degradação ambiental.


 


 


O problema, finalmente, não é ''cada um fazer a sua parte'' e a sensação
de dever cumprido. Não basta reciclar o próprio lixo, embora seja
impensável não fazê-lo. Não basta economizar água no banho, manter-se
alheio aos debates nacionais e internacionais. A luta ambiental não
acontece isolada, não é individual. Só funcionará se, ao lado da
indispensável mudança de atitudes individuais, houver um
comprometimento coletivo com a construção de uma nova sociedade.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor