Antes que a direita se fortaleça e o povo se zangue!

É imperativo que o ciclo progressista iniciado em 2003 siga adiante com a vitória de um candidato da base governista em 2010. A direita e seu braço armado, a mídia, farão de tudo para retornar ao governo. Esquerda e demais setores democráticos da coalizão

O segundo mandato do presidente Lula agregou 11 partidos na coalizão de governo. Isso é um feito político relevante. Destaque para proeza de juntar quase por inteiro o PMDB. A coalizão foi pactuada em compromissos programáticos. Todavia, no processo de formação dessa aliança ampla e heterogênea, o PT movido pelo pragmatismo e pela escolha política de uma junção preferencial com os neolulistas  do PMDB detonou o núcleo de esquerda que fora determinante à resistência nos anos 90, à vitória de 2002, à governabilidade do primeiro mandato e, ainda, à reeleição de 2006.


 


Emerge a divergência. Qual deve ser a “locomotiva” desse comboio de quase uma dúzia de legendas? Um núcleo centrista arranjado por um pacto entre o PT e uma banda do PMDB ou a reconstituição do veterano e eficiente núcleo de esquerda PT-PSB-PCdoB que agora poderia ser reforçado com o engajamento do PDT?


 


 


Recentemente dois fatos atestam que a esquerda está consciente dos perigos que sua dispersão provoca.


 


 


No primeiro lance o presidente do PCdoB num artigo intitulado “a linha do PCdoB, versão e realidade” acende a luz amarela sob malefícios da dispersão da esquerda e apresenta a disposição resoluta do Partido para construir a unidade da esquerda e dos movimentos sociais. Renato Rabelo sublinha a importância da continuidade do ciclo político aberto em 2003 e faz um alerta: “Ter, na perspectiva pós-Lula, o interesse puramente partidário ou de grupo na tomada de decisões é que pode espargir esforços, impossibilitar a unidade e favorecer a vitória dos adversários do campo governista.”


 


 


No segundo lance, a Executiva do PT em 31 de julho último, fez um balanço dos sete primeiros meses do segundo mandato e corretamente concluiu que a direita em conluio com a mídia repete a investida reacionária de 2004-05. Denuncia: “A grande mídia privada é, ao mesmo tempo, instrumento e Estado-Maior desta campanha”.


 


 


Para enfrentar essa investida da oposição de direita, o PT reconhece que é preciso superar um conjunto de “dificuldades” entre elas “o não funcionamento do núcleo de esquerda da coalizão, composto principalmente pelo PT, PCdoB e PSB”. As razões que levaram o núcleo deixar de funcionar não são apresentadas, mas é importante essa declaração visto que há setores do PT que explicitamente ou veladamente defendem que a coalizão deve ser liderada pelo centro e que essa história de núcleo de esquerda é coisa do passado.


 


 



É claro que depois que um vaso é quebrado não é racional tentar colar os cacos. O melhor é fabricar um novo. Nesse meio tempo em que o PT depreciou o valor e o papel da esquerda, o PSB, o PCdoB e o PDT e outras legendas convictos de que a esquerda tem um papel relevante no presente e no futuro político do país, constituíram o Bloco de Esquerda que depois de organizado no Congresso Nacional está sendo lançado em vários Estados.


 


 


O PCdoB publicamente tem reiterado a importância do PT no êxito do projeto político progressista ora em curso e a disposição dos comunistas em tê-lo como destacado aliado.


 


 


Se há convergência não apenas da boca para fora de que o núcleo de esquerda precisa ser reconstituído encontrar-se-ão os caminhos de fazê-lo.


 


 


Outra divergência refere-se ao alcance das realizações do segundo mandato. É certo que há conjunto de boas notícias. O PIB deve crescer 4,5% nesse ano, mais de um milhão de empregos com carteira assinada já foram gerados, o PAC apesar de entraves vai deslanchando, a política externa altiva continua a gerar bons frutos, etc. Contudo, é possível, a correlação de forças permite, o segundo mandato ousar mais, realizar mais.


 


 



É necessário e viável ir além do círculo de giz riscado pela ganância do capital financeiro. O segundo mandato tem força política para singrá-lo.



No pronunciamento feito em Cuiabá no qual reagiu contra a investida da direita, corretamente o presidente Lula disse que a oposição ao seu governo vem dos setores que mais ganharam, notadamente, os banqueiros. O povo que ganhou menos é que teria motivos para estar “zangado”. A sucessão em 2010 será acirrada. Quanto maior for o êxito do governo na realização do desenvolvimento com distribuição de renda, mais elevadas serão as chances de vitória.


 


 


Embora o legado do período de Lula já seja relevante ao país, o imenso passivo social acumulado em mais de quinhentos anos de opressão ao povo demanda coragem política para ir além e realizar mais. Não se trata apenas de vontade, ou desejo, as condições internas e externas possibilitam essa audácia.


 


 


Que fiquem “zangados” os banqueiros que ano a ano batem os recordes de fabulosos ganhos enquanto o povo, por exemplo, vê seus familiares morrerem à mingua na fila dos atendimentos dos hospitais públicos. (Crime político que acontece todo santo dia!). E todos sabem que a alteração de décimos no superávit primário já proporcionaria mais investimentos no SUS. Todavia isso não é feito visto que os banqueiros e a Bolsa e o mercado ficariam “zangados”. Que se zanguem!


 


 



A direita neoliberal vai se levantando da derrota e com auxilio de seu braço armado, o monopólio midiático, tem conseguido a despeito das realizações do segundo mandato impor sua agenda negativa. Como afirmou este Vermelho em recente editorial o que fica aos olhos do grande público, sobretudo das camadas médias, é a imagem de um Brasil deformado, “é como se o país fosse uma vasta pocilga.”


 


 


PSDB, DEM, grande mídia, representam poderosos interesses de dentro e de fora do país. Não se deve subestimá-los, tão pouco exagerar as divisões que há por lá. Ao final se unem no projeto de retomar o governo em 2010. Que a esquerda protagonista do novo tempo inaugurado em 2003, pressionada por suas responsabilidades com o Brasil e seu povo, saiba encontrar os caminhos que venham assegurar uma nova vitória das forças progressistas, barrando o retrocesso.

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