Apocalypso

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Seria pedir demais aos senhores donos e donas
Da Terra mãe gentil por graça de Zeus
Endereço em 14, Wall Street – N.Y / USA
Lembrar da velha barreira de madeira e barro
Contra ataques de peles-vermelhas
Enfim, triste empório de escravos negros
Depois, o lugar da bolsa de Nova Iorque
Deu na Crise que deu ano de 1929, 2008…

No fim do mundo ao 'fim da História'
Custa aos ditos senhores
Darem-se conta de que carece três
Ou quatro planetas pra sustentar o mundo
A pobre Gaia, sim, a cair na gandaia
A fim de custear mundos e fundos
Contentar o crescimento tarado
Consumo aloprado tal qual a gula dos bacanas
Fornicação global dá explosão demográfica
Da Cobragrande
Mesmo assim, seu Zé Mané
A boa e santa madre civilização
Ficaria limitada a uma quinta
Parte dos habitantes bem servidos
O resto a servir por preço vil da sucumbência
Ou pedágio para o Progresso
Na fronteira do non sense.

Não há almoço grátis nem papai Noel para todolos!

A tal “mão ínvisível” faz mão boba na Bolsa
dos presentes, passados e futuros:

Rastreando filé mignon e etanol na bomba
Chega-se à cadeia prudutiva do biocombustível
E à alienação sociambiental do boia-fria
Exilado na própria terra tomada aos antepassados
Antes do urro do boi atrás da vaca para o brejo
Ouve-se o grito de guerra dos Sem-Terra
O formigueiro da agricultura familiar
Cobre de verdura terra vermelha sob amarelo sol
Na contramão o ócio do patrão do agronegócio
Sombra escura do latifúndio no trabalho escravo
Conversão de florestas em pastagem
E restaurantes bon gourmet…
Frutos do mar colhidos no rio doce
Faina insana de pesca dores movidos à birra
(pra não dizer maconha, seu sem-vergonha).

Antão, se a dura realidade não dá pão-de-ló
Saudosos da frescura de Maria Antonieta
Hajam a manjar croissant
Plantando o próprio trigo em lugar de jardins
Batam massa com as próprias mãos
Hão de matar a fome e viver melhor
Do que a explorar suor alheio
Mas porém, por favor, não venham com estórias
De sangue azul e o direito divino dos reis.

Qualquer bicho selvagem recua do perigo
Mas o homem civilizado corre ao suicídio coletivo
Dizendo o besta aproveitar a vida!
Comparado aos antigos em violência e crença,
O bicho-homem ofende aos deuses e religiões
Dizendo-se feito à imagem e semelhança do Pai
Ou mãe de todas as coisas.

Essas estórias inocentes ou indecentes
Conforme juízos e interesses
Provocam bárbaras recordações de inferno verde
E paraísos perdidos…
Revivem a lenda do El-Dorado e a sangria
Das veias abertas da América Latina.

Revelação brega aux bàs fonds da Terra
O doido Apocalypso
Dança e ri da Crise ao som de merengue,
Cumbia, rumba, xaxado, forró
Samba com estoica ignorância
Da zona tórrida das Antípodas
Que nem os nautas lusíadas atravessaram
A mortal faixa do Equinócio
A meio caminho das Índias
Sem saber nadinha da teologia de santo Agostinho
Caldo de cultura apocalíptica
Popocando no aquecimento global.

Baixa de ações ordinárias em Wall Street
E alta de marés oceânicas:
no fim da estória, fiéis pedem moratória
à chegada do Messias,
Crentes não tem pressa de ir para o Céu.

Durma-se com um barulho desses!

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