“Armei e me dei mal”

Na tarde da última sexta-feira, (4), após assistir ao pronunciamento do ex-presidente Lula, postei no Facebook a seguinte mensagem:

“Para se pensar: ao atacar tão diretamente Lula com essa ridícula ‘condução coercitiva’ de hoje cedo, o complô Globo/Lava Jato colocou no centro da crise política um adversário infinitas vezes mais poderoso que a presidente Dilma Rousseff. Ou seja: agora a briga é com Lula. O bicho vai pegar para os golpistas”.

Já na tarde da própria sexta-feira, segundo o UOL, “o assunto era o mais comentado mundialmente no Twitter”, ao passo que a home-page do portal apontava “sua maior audiência desde 2009”. Ao todo, “foram 5,7 milhões de usuários únicos e mais de 52,2 milhões de carregamentos”. Num procedimento que até agora não entendi, ao menos a Globonews transmitiu ao vivo o pronunciamento do ex-presidente. Quer dizer: sua injustificável condução coercitiva para interrogatório pela Polícia Federal estava, junto com sua repercussão imediata, na boca do povo.

O dado mais revelador, no entanto, viria do Instituto Vox Populi, o primeiro a aferir o impacto do ataque do juiz Sérgio Moro e da Polícia Federal contra Lula: 56% condenaram a inclusão de Lula na Lava Jato e 43% desaprovaram a conduta de Moro, contra 34% que a aprovaram. E mais: 65% viram exagero na condução coercitiva e 57% garantiram confiar na palavra de Lula. Dos 15 mil entrevistados, 63% disseram ter visto a entrevista de Lula, após o interrogatório no aeroporto de Congonhas.

“Tiro no pé”

Não foram necessárias mais que 24 horas para a oposição acusar o “tiro no pé” que representara, para seus intentos, a ação do juiz Moro e da Polícia Federal. A manchete da “Folha de S. Paulo” não deixava dúvidas: “Oposição mira em Dilma para evitar 'vitimização' de Lula”. O texto afirmava:

“A ação da Lava Jato sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou a oposição receosa. Nos bastidores, líderes dos principais partidos adversários do governo federal e do PT admitem que a condução coercitiva do ex-presidente e a intensa cobertura da nova fase da investigação abriram uma "brecha" para que o petista se apresente como vítima”.

“Na tentativa de não alimentar esse movimento, a oposição acordou que, a partir da semana que vem, vai centrar o foco da atuação política no impeachment da presidente Dilma Rousseff e na ofensiva contra a sua reeleição, travada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral)”.

Enfim, a situação me lembrou de um quadro de Paulo Silvino, em programa humorístico de alguns anos atrás (os mais velhos hão de se lembrar), quando o personagem, após fracassar numa trama de sedução, olhava para a câmera, que o tomava em primeiro plano, e dizia, com aquele sotaque da malandragem carioca e um risinho desenxabido: “Armei e me dei mal”.

O “velho Lula”

A “vitimização” a que se refere, depreciativamente, a direita, é o fantasma que tanto a assusta e tira o sono da volta de Lula ao centro do cenário politico. “O velho Lula está de volta”, afirmou o jornalista Ricardo Kotcho em seu blogue. “Aos 44 minutos do segundo tempo, com seu time todo na defesa, quando parecia que o jogo estava decidido a favor dos adversários, o velho Lula foi ao ataque sozinho e mudou tudo de novo”, escreveu Kotcho. E acrescentou: “o ex-presidente me lembrou de seus melhores momentos no estádio de Vila Euclides, quando falava só para metalúrgicos em greve e se tornou, em pouco tempo, uma liderança política nacional, na passagem dos anos 70 para os 80 do século passado”.

Quando se esperava que, após o interrogatório, Lula voltasse para casa, ele rumou para a sede nacional do PT, no centro de São Paulo, onde fez um pronunciamento que impressionou até mesmo opositores. Ali pronunciou a frase emblemática: “Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo e a jararaca está viva". À noite, participou de um ato na quadra do Sindicato dos Bancários. Lula voltava às ruas.

A luta, no entanto, continua, e áspera. Na segunda-feira, 7, jornais anunciavam que a operação Lava Jato cogita acionar Lula por improbidade administrativa caso se comprove que os custos de obras no sítio de Atibaia, no final de 2010, quando ele ainda era presidente, foram bancados por empreiteiras envolvidas no caso Petrobrás. Com isso, o juiz Moro pretende pedir a inelegibilidade de Lula. Assim, a Lava Jato confessa abertamente (eu diria, despudoradamente) seu intento golpista que, na realidade, tem por objetivo primordial liquidar politicamente Lula, algo que está ficando cada vez mais claro para a sociedade brasileira. E promover no Brasil um sombrio retrocesso civilizatório. Antes, porem, haverá luta. Com Lula à frente.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor