Chega de notícias ruins

Mais um jornalista deixa a Globo News, com críticas ao facciosismo do canal. Primeiro foi Mariana Godoy, apresentadora do Jornal das Dez, em outubro do ano passado. Agora, Sidney Rezende. Mariana demitiu-se por não mais suportar ser uma espécie de papagaio dos dirigentes da emissora, que forçavam um jornalismo tendencioso. Já Sidney foi demitido após publicar, em seu perfil no Facebook, um artigo reprovando a conduta da mídia brasileira.

Segundo informou, em maio último, o jornalista Paulo Nogueira, Mariana, que trabalhou por 23 anos na Globo, “se disse feliz com seu novo emprego na Rede TV porque, finalmente, podia fazer perguntas e não simplesmente ler as que os outros faziam por ela”. Referia-se, obviamente, ao poderoso Ali Kamel, preposto dos Marinho, quando não aos próprios donos que, em circunstâncias mais graves (debates presidenciais, por exemplo), eles mesmos tomam conta das perguntas.

Ou seja, como afirma Nogueira, “a emissora dá visibilidade [aos seus jornalistas], mas não oferece as coisas que realmente tornam atraente uma atividade, a começar pela autonomia”, tudo direcionado aos fins políticos e ideológicos (sempre à direita) que tem norteado a Globo.
Notícias ruins

Sidney Rezende estava no Jardim Botânico desde 1997 e foi demitido no último dia 13 de novembro, um após publicar, em seu perfil do Facebook, o artigo “Chega de notícias ruins”. O texto contém afirmações tão importantes que seus trechos principais merecem ser reproduzidos na íntegra: “Há uma má vontade dos colegas que se especializaram em política e economia. A obsessão em ver no Governo o demônio, a materialização do mal, ou o porto da incompetência, está sufocando a sociedade e engessando o setor”.

“Uma trupe de jornalistas parece tão certa de que o impedimento da presidente Dilma Rousseff é o único caminho possível para a redenção nacional, que se esquece do nosso dever principal, que é noticiar o fato, perseguir a verdade, ser fiel ao ocorrido e refletir sobre o real e não sobre o que pode vir a ser o nosso desejo interior. Essa turma tem suas neuroses loucas e querem nos enlouquecer também”.

“O Governo acumula trapalhadas e elas precisam ser noticiadas na dimensão precisa. Da mesma forma que os acertos também devem ser publicados. E não são. Eles são escondidos. Para nós, jornalistas, não nos cabe juízo de valor do que seria o certo no cumprimento do dever”.

“Reconheço a importância dos comentaristas. Tudo bem que escrevam e digam o que pensam. Mas nem por isso devem cultivar a "má vontade" e o "ódio" como princípio do seu trabalho. Tem um grupo grande que, para ser aceito, simplesmente se inscreve na "igrejinha", ganha carteirinha da banda de música e passa a rezar na mesma cartilha. Todos iguaizinhos”.

A rigor, nem Mariana Godoy, nem Sidney Rezende apresentaram novidades em relação ao que já se conhece sobre a prática da Globo e dos demais órgãos da grande mídia privada. A diferença está em que, pela primeira vez, vozes tão autorizadas e insuspeitas disseram o que disseram.

Mas a grande mídia não é o que é – e isso precisa ser dito com veemência -sem o concurso de uma massa de jornalistas que fazem – uns por adesão, outros por conveniência – o seu jogo antidemocrático, no mais das vezes golpista. São uma espécie de intelectuais orgânicos da classe média, atuando no setor estratégico da comunicação social. Mas, como se viu nos casos de Mariana Godoy e Sidney Rezende, é bem possível que, entre eles, existam – e certamente existem – aqueles cujo senso crítico os levam a questionar e, quem sabe, a romper mais tarde.

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