Como será o segundo governo Lula?

As quatro últimas pesquisas eleitorais (Sensus, Datafolha, Ibope e Vox Populi) confirmam uma tendência bastante favorável para as forças democráticas e populares.

O presidente Lula consolida o favoritismo na disputa, melhorando sua performance inclusive nas regiões sul-sudeste e nas camadas médias, podendo vencer a eleição de outubro no primeiro turno; já o postulante do bloco liberal-conservador, o direitista Geraldo Alckmin, não consegue deslanchar. As pesquisas, porém, não devem gerar um falso clima de euforia e, menos ainda, de arrogância! Muita água vai rolar por debaixo da ponte até o pleito presidencial.


 


 




O presidente Lula, mais calejado, parece estar atento para este risco. Em recente conversa, ele confessou: “Estou preocupado com essas pesquisas. Esse clima de já ganhou não me agrada”. Adepto das metáforas futebolísticas, alertou: “Ninguém ganha o jogo antes do apito final do juiz”. Para ele, o momento agora é de “suar a camisa”, consolidando as alianças e apresentando à sociedade uma plataforma consistente para o segundo mandato. Neste rumo, os três partidos de esquerda do núcleo de sustentação do governo (PT, PCdoB e PSB) aceleram as negociações com os possíveis aliados e ultimam a elaboração do programa.



 



Já no ninho tucano, que mais parece um serpentário, as pesquisas tiveram um efeito oposto. Predomina o clima de derrota com a candidatura do seguidor do Opus Dei. Até o lançamento oficial da chapa PSDB-PFL foi adiado. FHC, o mentor tucano, nem disfarça sua percepção de que Alckmin não tem carisma. O PFL, representante da velha oligarquia, resolveu atirar no PSDB, o partido dos rentistas “modernos”. Rodrigo Maia, líder pefelista na Câmara, acusou o presidente tucano de incompetente. Tasso Jereissati, por sua vez, respondeu ironicamente ao filhinho do prefeito carioca, César Maia. “Quando o garoto fala só vale se o papai confirma”. O risível bate-boca escancara a crise na oposição direitista!



 



Mas, como já foi dito, “ninguém ganha o jogo antes do apito final”. Vários fatores ainda podem alterar o cenário da disputa. Um dos fantasmas é o de uma nova crise da economia mundial, que poderia ter graves efeitos eleitorais. Desde 10 de maio, o “deus-mercado” está agitado devido aos desequilíbrios dos EUA. É certo que o Brasil está “menos vulnerável” às turbulências mundiais, como reconhece o economista Paulo Nogueira Batista Jr., um ácido crítico da atual política econômica. Mas já há vozes, inclusive no governo, defendendo um novo arrocho monetário e fiscal, o que, sem dúvida, arranharia a candidatura Lula.



 



Avanços ou retrocessos?



 



Apesar das muitas variáveis, o exercício de futurologia sobre um possível segundo mandato do presidente já começou. As especulações correm soltas! Como que já reconhecendo a derrota do bloco PSDB-PFL, o rejeitado FHC prevê o caos político e econômico num segundo governo Lula. Em recente entrevista, ele lembrou que Richard Nixon também foi reeleito, após as várias denúncias contra o seu governo, mas não agüentou a pressão e foi obrigado a renunciar à presidência dos EUA. O agourento golpista dá a senha aos seus seguidores: radicalizar os ataques na atual campanha para jogar na desestabilização no futuro!


Alguns setores esquerdistas também apostam no pior dos mundos num segundo mandato. Afirmam que a tendência é a da manutenção da atual política, taxada de “neoliberal e pró-imperialista”, o que levaria ao rápido desgaste do governo, ao ascenso das lutas sociais e, como efeito, ao florescimento da chamada oposição de esquerda. Os mais voluntaristas chegam até a prever a gestação de uma crise revolucionária no Brasil. Eles só não conseguem explicar porque Lula, rotulado de “fiel seguidor de FHC”, mantém altos índices de aprovação, principalmente junto às camadas mais populares. A visão mecânica, esquemática, dispensa análises mais aprofundadas sobre a correlação de forças e a natureza do atual bloco no governo.


 


Neste cassino de apostas futuras, a instigante reflexão do intelectual Juarez Guimarães, editor do boletim Periscópio, da Fundação Perseu Abramo, demonstra maior consistência. Para ele, a agressiva campanha de desestabilização deflagrada pela direita em 2005 teve como objetivo derrotar a esperança do povo. “Ela, no entanto, resistiu, fez-se mais rigorosa e crítica e por toda parte agora há sinais de que podemos estar no limiar de um novo ciclo de despertar de energias e de anseios de mudança mais profunda. Assim, se a maioria do povo eleger pela segunda vez Lula à presidência, será criada uma cena histórica propícia a mudanças mais profundas do país”. Na sua avaliação, há quatro razões que justificam esse otimismo:


 


“1- O capital financeiro já não dispõe das fortes condições de vulnerabilidade da economia brasileira e nem da tutela institucionalizada do FMI para chantagear o governo;



2- As forças políticas que chegaram pela primeira vez ao governo central do país aprenderam muito nestes quatro anos. Já puderam reconstituir, em um grau importante, instrumentos de gestão estatal que estavam profundamente desmantelados e desorganizados pelos oitos anos de domínio neoliberal.



3- Na América Latina, sopra o vento forte da mudança, ficando para trás os anos de cinza neoliberal que cobriram as jovens democracias do continente, renascidas após décadas de ditadura militar. Cada experiência comunica-se com a outra, torna-se maior do que si mesmo, acrescenta autoconfiança a povos que a história parecia haver relegado ao inferno da desesperança.



4- Há agora, de forma muito mais nítida do que em outubro de 2002, a consciência de que nenhuma mudança profunda virá sem o esforço de cada um e dos coletivos dos movimentos sociais. Afirmou uma vez resolutamente um filósofo, contra todas as teorias de sua época, que a soberania popular não pode ser delegada ou transferida a um outro corpo político. Ela deve ser exercida diretamente pelos cidadãos. Aprendemos agora que a esperança também não pode ser alienada”.


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