Conselho de juventude. Ninguém estava de Black Tie
No dia 10 de dezembro aconteceu em Brasília à assembléia de eleição do Conselho Nacional de Juventude o CONJUVE.
Um acontecimento de grande importância não apenas para juventude como para todo país que possuía, segundo o ultimo
Publicado 21/12/2007 14:51
Estive participando na assembléia representando o Centro de Formação Brasil Jovem, uma ONG que atua na região do ABC paulista concorrendo à vaga no CONJUVE na categoria de entidade de apoio em trabalho e renda. Fomos agraciados com 31 votos de outras entidades garantindo a participação na suplência do conselho o que vem acalantar o esforço do nosso trabalho social.
Duas constatações me chamaram muita atenção, a primeira num ângulo de vista geral positiva. A segunda num ângulo mais corporativo me pareceu muito negativa, pois mesmo não participando na assembléia quanto movimento hip hop eu sou oriundo deste, e é sobre este que quero falar.Vou transcorrer na mesma ordem que os fatos me vieram à cabeça.
A primeira constatação foi à entusiástica participação de diversas entidades de juventude de todos os segmentos da sociedade brasileira, e que ia além disto, entidades que atuam ou desenvolvem ações e políticas para juventude em diversos cantos do país, cada qual narrando seus feitos e compromissos com a juventude.
Isto demonstra o quanto à juventude é um setor a ser levado em consideração pela demanda que esta proporciona não resumidamente só em si, mas para todos os setores da sociedade.
A segunda justifica inclusive o porque de narrar como testemunha ocular o acontecimento aqui nesta coluna de hip hop e merece um relato mais apurado.
Para tal vou salientar os critérios de participação para a assembléia do CONJUVE para que se entenda bem o cenário.
O Conselho Nacional de Juventude foi criado no ano de 2005 como instância paritária da sociedade civil e do governo e tem o papel formulador de políticas públicas de juventude. Funciona em conjunto com a Secretaria Nacional de Juventude esta por sua vez hierarquizada à Secretaria Geral da Presidência da República.
A formatação da primeira gestão de conselheiros da sociedade civil foi feita através de indicações atendendo aos critérios de pluralidade da nossa sociedade e das ações juvenis, ou seja, todos os segmentos que possuem representatividades e entidades organizadas foram convidados ou desenvolveram um debate entre si para indicarem seus representantes.
Coube a esta primeira gestão de conselheiros criarem critérios democráticos e representativos para eleição desta segunda gestão em que foram eleitos pela própria sociedade civil através de suas entidades aquelas que iriam compor o CONJUVE.
Na primeira gestão o movimento hip hop foi contemplado com duas cadeiras titulares e suas respectivas suplências. Tínhamos três entidades participando do Conselho: o MHHOB, a CUFA e a Nação Hip Hop. Além destas, outras entidades defendiam a ampliação das vagas para poderem participar: o MH2O e a Zulu Nation, lembrando que existem diversas associações regionais do hip hop existem por todo Brasil e que no meu entender estão capacitadas a reivindicarem participação pelo trabalho que desenvolvem.
Continuaram a garantidas ao movimento hip hop as duas cadeiras titulares e suas duas suplências que poderiam abrigar até quatro entidades diferentes, e pelo que percebi na distribuição geral das vagas esta quantidade era expressiva demonstrando a relevância do movimento hip hop na juventude brasileira.
Passando bem superficialmente por esta explicação, vamos a constatação negativa.
Para nossa tristeza apenas uma entidade de hip hop se inscreveu para ser habilitada a participar da assembléia do CONJUVE.
Esta ocupa a cadeira titular e também a suplência ao que chamamos de cadeira cheia.
A outra titularidade e suplência foram alocadas para outros segmentos que demonstraram maiores motivações em participar do CONJUVE.
Em conversas pontuais e ainda muito superficiais, algumas lideranças nos relataram a opção deliberada de não participar do CONJUVE, outros disseram que não conseguiram se organizar a tempo de enviar as documentações e outros não conseguimos contatar para saber ao certo o motivo da ausência.
O que fica, porém identificado é a nossa falta de importância e esmero com um espaço importante conquistado pela juventude brasileira que é o CONJUVE. Mais ainda, a negligência da nossa participação como atores importantes da expressão juvenil neste país.
Coloco isto no plural e em forma de auto-critica, pois se reivindicamos ser um canal interlocutor da juventude da periferia, a voz da favela, dos morros e das massas, porque ainda encontramos dificuldades de se comunicar entre nós lideranças e organizadores de ações e entidades do movimento hip hop?
E esta massa de jovens que acredita no que falamos e fazemos agora fica sem a nossa interpretação neste importante espaço? Ou estamos mais preocupados com espaços que dizem respeito só aos interesses imediatos de cada um e não do todo? Por que não estávamos todos lá já que não se requisitava traje Black Tié? Por que não estávamos todos contabilizando pra geral os nossos feitos e projetos com a massa nas periferias?
Temos que entender que é onde se define a política que se define quais serão as prioridades, quais serão os encaminhamentos e investimentos. Como diria Bertold Brecht no poema do “analfabeto politico”: São nas decisões políticas que se define o preço do feijão, da farinha, do peixe, do aluguel…/ é da ignorância política que nasce o menor abandonado, a prostituta e o pior dos bandidos que é o político corrupto lacaio e explorador do povo.
Não é se omitindo de participar que vamos mostrar nossa importância. Estou aqui registrando a ausência porque sou tocante na questão, faço parte desta história que não pertence a mim nem a um outro, mas sim a milhões.
Não foi por estarmos ausentes que o Presidente Lula recebeu em seu gabinete como primeiro movimento social a visitá-lo lideranças do movimento hip hop quando então eleito na primeira vez. Foi ali, naquela oportunidade inclusive que se criou o habito de colocar o boné do movimento visitante. Não foi por estarmos ausentes que o Presidente então candidato à reeleição subiu o morro para assinar carta compromisso com a juventude da periferia.
Foi reivindicando que o jovem da periferia e que filho de pedreiro possa se formar doutor que conquistamos o PROUNI.
E manos e minas, andorinha só não faz verão como disse Aristóteles 400 anos antes de Cristo. Precisamos estar juntos, mesmo com nossas diferenças de opiniões e encaminhamentos, que, diga-se de passagem, são quase nada. Até porque nossos objetivos são os mesmos.
Nossa força consiste no motivo de sermos muitos. Juntos podemos muito mais. Ainda falta muito pra ser tudo nosso de fato.