Coronavírus e violência doméstica: dois males que temos de enfrentar
.
Publicado 17/04/2020 10:48
A pandemia do coronavírus colocou o mundo numa crise sanitária sem precedentes, aprofundando dramas humanitários inerentes ao capitalismo. O amplo alcance da doença levou a um tipo de discurso segundo o qual haveria uma suposta igualdade frente à Covid-19, como se todos estivéssemos “no mesmo barco”. Mas, sabemos que isso não é verdade. Estamos todos, de fato, atravessando uma mesma tempestade, mas os meios de se fazer essa travessia são muito diferentes e estão submetidos a injustiças e desigualdades históricas.
Nesse quadro, é preciso ressaltar a condição das mulheres, que enfrentam diversas iniquidades que se agudizam em momentos como este. É o caso, por exemplo, da violência doméstica, que atinge milhares de mulheres, assim como crianças e adolescentes, e que deverá piorar com o isolamento social imprescindível neste momento.
A ONU Mulheres e a OMS já alertaram sobre o aumento da violência contra mulheres e meninas durante o isolamento resultante da pandemia. Recentemente, foi noticiado que no Rio de Janeiro os casos de violência doméstica durante o confinamento aumentaram 50%. No estado de São Paulo, os feminicídios praticamente dobraram durante a quarentena: de 24/03 a 13/04, 16 mulheres foram assassinadas em casa, enquanto no mesmo período de 2019, foram nove casos. E segundo o MP-SP, os pedidos de medidas protetivas de urgência feitos por mulheres cresceram 29% em março em comparação com fevereiro: de 1.934 para 2.500.
Para enfrentar este problema, é preciso que o poder público reforce as medidas preventivas, protetivas e de acolhimento às vítimas e de punição aos agressores e assassinos. E a sociedade precisa se mobilizar e estar atenta, cobrando as autoridades, mas também oferencendo apoio. Uma importante iniciativa neste sentido é a campanha “Vizinha eu te escuto, eu te protejo, eu denuncio”, da Força-tarefa de Combate aos Feminicídios do RS, da qual faço parte representando o mandato do senador Paulo Paim (PT).
O coronavírus está mudando rotinas e mexendo com a subjetividade, com o sentimento das pessoas, mas não podemos deixar que situações tão graves como a violência doméstica e o feminicídio cresçam à sombra da pandemia. O “lar doce lar” não existe para milhares de pessoas e é nosso papel reagir e lutar para que este período de confinamento, que já é tão difícil, não seja ainda mais doloroso e cruel para nossas mulheres, crianças e adolescentes.