Dé fica no Vasco

Lá pelos idos da década de setenta, passada, estava em um aniversário de um amigo. O regime militar prendia, arrebentava, matava e exilava muita gente. A imprensa amordaçada, divulgava sonetos de Camões, preenchendo as imensas lacunas deixadas pelos censo

Chico Buarque, Raul Seixas, Caetano e outros tantos artistas, do teatro, cinema, praticamente silenciados. Novelas de televisão, como Roque Santeiro, impedidas de aparecer na telinha.


 



A versão nativa do movimento Hippie, perseguida, com os seus colares feitos de conchinhas do mar ou sementes não sei bem de que. Contestavam passivamente o sistema em defesa de uma sociedade alternativa, paralela. Era a turma da “Paz e do Amor”.


 



Em público, nada sobre política. Nas universidades, livros que mencionassem ou insinuassem alguma coisa sobre autores indesejáveis, eram banidos, às vezes, com os professores. Nas escolas públicas, o método de Paulo Freire era a danação de dez infernos.


 



Volto ao aniversário. Sabia-se que o ambiente era de oposição à ditadura.  Começou o tenebroso “Jornal Nacional”. Henfil, em seu genial humor, inventou o personagem Ubaldo, o paranóico que assistia ao famoso noticiário, roendo todas as unhas e tremendo de horror, como se fosse o filme, “Sexta Feira 13”.


 



Findo o telejornal, um conhecido revoltado com as notícias, ou a ausência delas, fez a seguinte observação: engraçado, o mundo pegando fogo, passeatas em Londres, Praga, EUA, guerra do Vietnã, Portugal dos Cravos. No Brasil, a notícia mais importante é se o jogador Dé, fica ou não no Vasco.


 



Proibiam-se comentários sobre corrupção e epidemias, a exemplo da meningite. Época sensacional para os amigos do arbítrio. Denúncias sobre falcatruas era subversão. Candidatos do regime, com exceções, eram imbatíveis. Votos em determinado município era mais que um pedido, tratava-se de uma ordem. 


 


 
Hoje, há escândalos, máfias, sanguesseguas etc. Há dois caminhos. Sabermos que a sociedade brasileira é imperfeita, que precisamos avançar, o Congresso tem que ser renovado pelos eleitores, que o poder econômico joga pesado, o governo é democraticamente investigado à lupa e existem candidatos da esquerda à direita. Ou se o atacante Dé fica no Vasco.  Parece pilhéria, mas é grave. A escolha e a responsabilidade são nossas.

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