Depois de Bush, o papa

Será apenas coincidência que, no primeiro semestre de 2007, dois chefes de Estado, também por coincidência (?!) guardiães do fundamentalismo, visitem o Brasil? Bush já veio e seguiu em frente para cumprir um tour de “ca-tar si-ri” pela América Latina

Amei as bravas deputadas Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), Luciana Genro (PSOL-RS) e Vanessa Graziotin (PCdoB-AM), no plenário da Câmara, erguendo uma faixa com os dizeres: “Bush não é bem-vindo”.


 



Nas capitais ocorreram manifestações de repúdio à persona non grata que é Bush, organizadas pela Central de Movimentos Sociais, centrais sindicais e alguns partidos políticos. Destacando-se a presença de jovens, do movimento estudantil e de mulheres.



 


Dos governadores, apenas um, o do Maranhão, meu professor Jackson Lago, demonstrou repúdio à presença de Bush. Foi fotografado, dia 8, ao receber o movimento feminista, na porta do Palácio dos Leões, com ativistas dos sem-terra, no gesto de puxar a corda que enforcava um boneco de Bush.



 


Pela sua história de vida, ninguém mais que Jackson Lago merecia uma foto daquelas, com um sorriso maroto de quem sabia estar fazendo uma doce estripulia. Adorei!


 


 


Ancorados numa análise preconceituosa de que envelhescência significa também perder a ternura e deixar de sonhar que um outro mundo é possível, denominada de “infantilismo setentão”, o espetáculo ridículo fica por conta das críticas orgásticas e delirantes dos “blogueiros da branca”, cognome de alguns jornalistas das empresas da família Sarney que mantêm blogs supostamente de análise política, mas no fundamental tribunas de uma nota só: praticamente 100% das matérias são contra Lago e as mulheres do primeiro escalão do governo. Como sabem ser misóginos!


 


Apoiados pela Folha naquela posição clássica de “não sei se vou, não sei se fico, se fico lá ou se fico cá…”, que reconhece que o antiamericanismo se justifica pelo belicismo e prepotência do governo dos Estados Unidos… A mesma Folha classifica o gesto do governador do Maranhão de “espetáculo bizarro, inócuo e infantil”, parte de “um antiamericanismo infantil e arruaceiro que substitui ações políticas organizadas”. Ora, sr. Frias, me compre um bode! E deixe na sala, sempre! E vamos respeitar as crianças.


 



Lamentavelmente, como consta naquele livro que toda mulher de minha idade leu (“O essencial é invisível para os olhos”), nada disso deu conta de ir ao cerne do eixo simbólico da visita de Bush. Foi de um simbolismo único que ele tenha chegado no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher.



Mas já foi… Fala-se apenas dos aspectos possivelmente econômicos de sua visita. A mídia não consegue ler nas entrelinhas. Pena que a grande mídia nacional não consiga ser vigilante diante dos avanços de forças fundamentalistas que se arvoram do direito e do dever de legislar sobre os corpos das mulheres e que têm em Bush e no papa militantes ardorosos.
 


Dói que não consiga fazer as devidas conexões entre as duas visitas. O bode na sala do sr. Frias é para quando o papa vier ele se lembre que as brasileiras esperam que a “Folha” cumpra o seu papel. Pois que venha o papa (9 a 13.5.2007), mas que não se imiscua nos corpos das mulheres e respeite a laicidade de nosso país.



Nada contra o Vaticano fazer política. Desde que seja explícita e não ouse usar o nome de Deus em vão, pisoteando o que manda a Tábua da Lei. Que mundo! Onde nós chegamos que é preciso quem não é cristão exigir que o Vaticano respeite a Tábua da Lei?



Ou os Dez Mandamentos, em si uma lei moral, estão prescritos? Então não vale a revelação recebida por Moisés no Monte Sinai, como consta em Êxodo 20:3-17? Dos meus tempos de catequista, recordo-me bem que transgredir qualquer dos Dez Mandamentos era pecado. Mortal.


 

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