Diplomacia fajuta

Que o candidato Jair Bolsonaro sugira que o Brasil saia da Organização das Nações Unidas até que passa, pois dali não se espera coisa com coisa mesmo. Mas a um governo que se diz legítimo, embora sendo fruto de um golpe, desacatar uma orientação da ONU é algo grave, que na melhor das hipóteses significará desprestígio e descrédito internacional. Um paiseco de categoria inferior.

Basta observar que a medida não tem recebido a atenção merecida por parte da grande mídia, do governo federal, do Judiciário e do Congresso nacionais. Mundo afora, porém, todos esses setores têm destacado o assunto, seja nos espaços da mídia, seja nos horários dos três poderes locais. E isso tem efeito.

A Comissão de Direitos Humanos foi criada pela ONU com base em Tratado Internacional da década de 1960, de que o Brasil é signatário, e tem funções específicas de tomar decisões sobre violações de direitos políticos ao redor do mundo. É independente inclusive do Conselho de Direitos Humanos, órgão permanente da ONU. Pelo tratado, ratificado pelos países membros em 2006, suas decisões têm força de lei e devem ser acatadas pelos filiados.

No caso atual, pela decisão, o Brasil – não apenas o governo, todos os poderes – precisa (1) permitir que Luiz Inácio Lula da Silva seja candidato, (2) que tenha o mesmo acesso que os demais candidatos aos meios de comunicação de massa e que (3), na sua impossibilidade, seu partido ocupe esses espaços. Ou seja, que Haddad, candidato a vice, tenha assento e espaço.

Não bastasse isso, a questão dos refugiados venezuelanos, que escapam de iminente guerra civil em seu país, tem também ganhado a mídia internacional. Um descaso que tem chegado ao cúmulo da expulsão de migrantes vindos do vizinho país.

Essa maneira inconsequente com que o governo brasileiro tem tratado do assunto é alvo de muita crítica nos meios de comunicação e redes sociais. Vale ressaltar que não passa de 35 mil o número de refugiados hoje espalhados por Pacaraima, Boa Vista e outras cidades de Roraima. Isso, quando só a Colômbia, também vizinha da Venezuela, já recebeu (e muito bem) mais de 500 mil venezuelanos. E o Equador, que nem limítrofe é, mais de 100 mil.

O fato é que, com esses dois episódios de grande repercussão internacional, a diplomacia auriverde se expõe ao ridículo de representar um governo debilitado, incompetente e autoritário, e não o povo brasileiro. E pensar que até outro dia o Brasil era o “B” maiúsculo do BRICs, o bloco dos emergentes.

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