Direita formará governo em Israel

Semana “quente” em Israel. Normalmente, o mês de março é quente nas terras palestinas, até porque no próximo dia 30, comemora-se o Dia da Terra, de luta pela volta às terras de nossos ancestrais. Esta semana, Bibi praticamente concluiu a formação do seu g

Governo será fascista mesmo


 


 


Desde os primeiros resultados das eleições israelenses de 10 de fevereiro passado, quando se sagraram vencedores os partidos de extrema direita em Israel, já havíamos previsto a formação de um governo cujo espectro político e ideológico ficaria no campo do centro-direita para a extrema direita. O dito “partido centrista” do Kadima e o pseudo “centro-esquerdista” dos Trabalhistas foram derrotados pelo Likud, de direita. Sagrou-se também vencedor, como terceira força emergente, o Partido fascista e racista Israel Beitenu (que em hebraico quer dizer “Israel é nosso Lar”).


 


 


Benjamin Netanyahu foi indicado para formar o novo governo e conseguir maioria de 61 deputados no parlamento. Tem um prazo constitucional até o próximo dia 4 de abril. Vai conseguir. Fechou acordo com o fascista Avigdor Liebermann, nascido na Rússia e racista até a medula, para que esse cidadão venha a ser o chanceler, o ministro das Relações Exteriores desse Estado que é também racista e discriminador. Isso repercutiu mal na comunidade internacional, mas Bibi, como é conhecido, não pode prescindir dos 15 votos desse Partido. Para isso ofereceu-lhe quatro ministérios.


 


 


Bibi avançou mais. Fechou com o Partido ultra-religioso e ortodoxo chamado SHAS. Essa sigla quer dizer Partido dos Judeus Safarditas (de origem espanhola) Conservadores da Torá. É de extrema direita. Tem como “guia espiritual” do Partido o rabino de extrema direita Ovaida Yosef. Esse partido, o quinto do país em termos de força no parlamento (1º Kadima, com 28; 2º Likud com 27; 3º Beitenu, com 15; 4º PTI, com 13 e 5º, o SHAS com 11). O mais cobiçado ministério por esse e outros partidos de direita é o da Habitação. Mas, não para resolver problemas de moradia para judeus. Simplesmente para prosseguir a construção de casas em terras palestinas da Cisjordânia. Em especial os ortodoxos, que entendem que as terras palestinas pertencem ao chamado “Israel Histórico”, ou ao que poderia vir a ser o “Grande Israel”, no desejo dos colonizadores e invasores sionistas das terras palestinas desde o final do século 19. As negociações com os partidos de direita prosseguem com o Partido Judaísmo Unido da Torá (que tem cinco deputados) e com o Habayit Hayehudi (O Lar Judeu), com três parlamentares, bem como com o Partido União Nacional (quatro deputados). Estes ainda não responderam ao chamado de Bibi.


 


 


Com esse acordo, Bibi já havia atingido, até semana passada, 53 cadeiras. Isso ainda não seria suficiente para governar. A líder do Kadima, Tzipi Livni ainda chanceler do país, vem recusando-se de forma firme a integrar um governo que Bibi vem chamando de “unidade nacional”, com todo mundo presente. Ela argumenta que não poderia participar de um governo com o qual discorda dos seus rumos e que tem manifestado, através de seu líder, Bibi, que é contra a solução de “Dois Estados” (todas as propostas sejam elas da ONU, das potências e mesmo da OLP, vêm no sentido de criar-se um Estado Palestino em pelo menos as terras das fronteiras anteriores a 1967).


 


 


Esta semana, a surpresa veio com um novo acordo feito por Bibi. Os trabalhistas, liderados pelo atual ministro da Defesa de Israel (na verdade, deveria se chamar Ministério do Ataque e do Genocídio Palestino), Ehud Barak, que sempre quis continuar nesse cargo, decidiram participar do governo de extrema direita.


 


 


A surpresa foi geral. Uma consulta interna aos chamados “quadros do Partido”, cujo resultado foi 680 votos a favor de integrar o governo e 570 contrários, o PTI vai ter agora cinco ministérios, incluindo o da Defesa, tão sonhado por Barak, que já foi ele também primeiro Ministro. Com os seus 13 deputados, Bibi agora sobe para 66 cadeiras, uma maioria confortável para governar Israel dentro de sua linha política.


 


 


Os chamados “pais fundadores” de Israel foram todos desse Partido, de nome “Trabalhista”, que tinha feições social-democráticas e que alguns diziam inclusive que um dia teria sido “socialista”. Integra inclusive até hoje a Internacional Socialista, de quem no Brasil conta com a participação do PDT e do PSB. Tal partido governou praticamente sozinho, sem alianças, pois fazia mais de 60 deputados nas eleições (50% do Knesset) até 1977. Ainda assim, alternou-se no governo por muitas outras vezes.


 


 


Mas, é um Partido em franca decadência, em desagregação. É provável que essa decisão amplie a cisão interna, o seu fracionamento. O descontentamento dos chamados “trabalhistas históricos” é imenso, que já havia motivado a muitas defecções, lançamento de manifestos em apoio a candidatos de partidos mais à esquerda e mesmo tentativa de fundação de novos partidos com outras orientações. O PTI migrou para a direita. Tentou ocupar um campo político que estava ocupado por Netanyahu e Liebermann e os religiosos. Deu-se mal. Foi derrotado. Caiu para o quarto partido de Israel e provavelmente pode definhar ainda mais, quem sabe ser até extinto. Não tem futuro.


 


 


Barak fez campanha em cima da morte de palestinos inocentes. Acabo de receber um balanço macabro dos 23 dias de ataques genocidas à Faixa de Gaza. São números estarrecedores. Dos 1.330 mortos (oficiais), 437 foram crianças! (32,85%); 110 foram mulheres! (8,27%) e 123 foram idosos! (9,24%). Se somarmos a isso 14 médicos mortos e 4 jornalistas que cobriam o massacres, teremos 688 mortos ou 51,72% do total! Em tese, Israel teria matado 642 homens adultos, teoricamente “combatentes” e membros do Hamas. Mas não eram. Eram pessoas simples, moradores de Gaza, trabalhadores, jovens estudantes. Pois foram esses palestinos mortos, o “trunfo” (sic) de Barak na sua campanha. Ele chegou a esbravejar na sua campanha contra Liebermann assim: “Quantos palestinos ele já matou na sua vida?” (sic). E aqui, quero registrar que apenas dez soldados israelenses foram mortos nesses 23 dias, dos quais sete pelo chamado “fogo amigo”, ou seja, balas vindas dos próprios soldados judeus, ou seja, três mortos apenas contra 1.330 palestinos. Uma macabra proporção de um judeu morto para cada 443 palestinos assassinados barbaramente. Eu sempre me pergunto: como podemos buscar a paz dessa forma? Como governará Netanyahu, senão com os fascistas? Por isso, consigo compreender a recusa de Livni em não integrar esse governo.


 


 


Sigo sem ver nenhuma perspectiva de paz na Palestina. O novo governo não quer um Estado Palestino. Não quer a paz. Vai ampliar a construção de assentamentos judaicos na Palestina ocupada. A opinião pública internacional nunca afetou Israel, ou afetou pouco em poucos momentos históricos. A pressão de governos ocidentais não determinará o rumo desse governo. Agora mesmo uma rádio israelense noticiou um acordo de Bibi – acordo verbal – com o Beitenu, para a construção secreta de mais de três mil casas em uma região próxima de Jerusalém Oriental, parte árabe da cidade. Creio que devemos continuar a fazer forte pressão contra essa situação, nos solidarizarmos com o povo palestino na sua luta e pressionar nossos governos em todo o mundo para que sigam eles também pressionando Israel a mudar de rumo.


 


 


Acho que o governo de Bibi será de crise. Será frágil, sem estabilidade, pela coalizão extremamente heterogênea que representa. Não há unidade interna. Há troca de favores, troca de cargos em ministérios. Verdadeiro toma-lá-da-cá (e a “ingênua” impressa burguesa brasileira acha que só no Brasil é que existe isso…). As coisas só mudarão em Israel se houver pressão interna, se a população for para as ruas, protestar. Da boca para fora, Netanyahu poderá até falar em paz e em “respeitar acordos assinados anteriormente”, como foi exigência do PTI para ingressar no governo. Mas, não vislumbro nenhuma possibilidade de paz no momento. Infelizmente.


 


 


30 de Março: Dia de Luta em apoio ao povo palestino


 


 


Na próxima segunda-feira, dia 30 de março, é o dia da Terra, um dia de luta dos palestinos pelas suas terras tomadas, usurpadas, invadidas pelos judeus sionistas. Quando concluímos a nona edição do Fórum Social Mundial em Belém, no último dia, 1º de fevereiro, tirou-se um calendário mundial de mobilizações e atividades. Manifestações deveriam ocorrer entre 27 de março e 4 de abril.


 


 


No Brasil, das seis centrais sindicais, CUT, CTB, FS, NCST, CGTB e UGT, mais a Intersindical e a Conlutas e mais 11 entidades nacionais de todos os setores (mulheres, estudantes, jovens, negros, bairros), adotaram o dia 30 de Março como dia Nacional de Mobilização cujo lema central é “Trabalhadores e Trabalhadoras não Pagarão pela Crise”. E a solidariedade aos palestinos foi incluída. Isso foi uma vitória de nosso povo e do povo palestinos, mas particularmente dos companheiros que integram o Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino de SP, que defendeu que as centrais assumissem a solidariedade.


 


 


A manifestação, que ocorrerá em todas as capitais e grandes cidades do interior, em São Paulo deve se iniciar ás 10h em frente ao Banco Real/Santander (nº 1.374). Às 12h terá início a marcha com som do trio-elétrico que seguirá pela Avenida Paulista. A primeira parada será em frente a FIESP, seguida de ato público. Logo após, os manifestantes seguirão até o Banco Central e na Caixa Econômica, onde também ocorrerão atos públicos.


 


 


A caminhada continuará pela Avenida Paulista, seguindo pela Rua Consolação, sentido viaduto Jacareí, Rua Maria Paula, Viaduto Dª Paulina, Praça João Mendes, Praça da Sé, Rua Boa Vista, Rua 3 de Dezembro até chegar ao prédio da BOVESPA, onde também haverá o ato público com falas dos representantes de todas as entidades. O companheiro do Comitê que fará uso da palavra será o Ibrahim.


 


 


Por fim, a partir das 16h, na Praça Ramos de Azevedo (em frente ao Teatro Municipal, estação Anhangabaú do Metrô), o Comitê de Solidariedade ao Povo Palestino fará um ato que deverá prosseguir até ás 19h. Nesse evento, distribuiremos um pequeno Manifesto do Comitê, passaremos filmes sobre o massacre na Faixa de Gaza, apresentações, grupos culturais, filmes de história do conflito, para esclarecer à população. Esperamos que todas as centrais e entidades também compareçam, bem como a população. Todas as entidades e segmentos sociais farão uso da palavra.


 


 


Record News


 


 


Nesse mesmo 30 de março, tive a honra de ter sido convidado a participar de um debate na Record News (canal aberto da Rede Record). Esse evento ocorrerá entre 22h e 23h, no programa “Mundo”, comandado pelo jornalista Rodrigo Viana, de quem, desde já, agradecemos o convite. Aos amig@s, que puderem assistir, desde já agradecerei os comentários sobre essa participação.


 


 


Coluna faz aniversário


 


 


No próximo dia 28 de março esta coluna fará aniversário de 7 anos. Desde 2002, uma quinta-feira, quando este magnífico Portal Vermelho estava entrando no ar e coincidentemente nos 80 anos do PCdoB, vimos colaborando semanalmente sobre a temática do Oriente Médio. São sete anos seguidos de colunas que, nesta semana, leva o número 340.


 


 


Costumo dizer que sou colunista temático, de “uma nota só”, ou seja, meu único assunto é Oriente Médio. Talvez tenha falhado nesses anos todos apenas umas seis semanas, seja por motivos de viagem nacional ou internacional, seja por problemas de reuniões ou mesmo alguma enfermidade.


 


 


Quero agradecer a audiência aos meus leitores, amigos e aos críticos, que me enviam sugestões, elogios, corrigem falhas e, muitas vezes, divulgam a coluna em suas páginas (somos reproduzidos em centenas de páginas em todos os continentes, que fazem nossa tradução, aos quais agradeço a confiança); à camarada Eliana, cuja paciência comigo tem sido de “Jó”, tanto trabalho que tenho lhe dado. Escrevo os textos na véspera, às quartas-feiras, e mesmo sabendo que há prazos, ela muitas vezes editou e publicou a coluna fora de seu horário de trabalho. Não sei o que seria deste colunista e da própria redação do Vermelho sem o seu trabalho.


 


 


Os trabalhos desta coluna renderam a publicação de dois dos meus quatro livros e dos três que tenho prontos para publicar nos próximos meses, mais um deles será com alguns artigos que produzi para a coluna. A partir dela, já comentei pelo menos seis programas ao vivo da rádio CBN sobre a Palestina e o Iraque, bem como concedi entrevistas para inúmeras rádios, TVs e mesmo portais de Internet.


 


 


Agradeço em especial à redação do Portal Vermelho por confiar em nosso trabalho.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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