Discurso de Bolsonaro é puro diversionismo
"Deixando de lado a retórica típica de campanha eleitoral, Jair Bolsonaro – o presidente do ricaços, dos falsos moralistas e dos charlatães religiosos – já prepara várias ações contra o povo brasileiro".
Publicado 04/01/2019 12:58
Como já registrou Joaquim de Carvalho, no blog Diário do Centro do Mundo, “a posse de Bolsonaro foi um fiasco”. Ela ficou abaixo da expectativa de público projetada pelos bolsonaristas e alardeada pela mídia chapa-branca. “A equipe do presidente anunciou que colocaria na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios mais de 250 mil pessoas – havia assessores falando em 500 mil. A ideia era quebrar o recorde de público na posse de Lula, em 2003 – 250 mil. Mas na festa de Bolsonaro, segundo cálculo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), compareceram 115 mil”. Ela também foi um fracasso na presença de líderes estrangeiros – a mais baixa desde a posse de Collor de Mello, em 1990. O que não faltou na cerimônia de posse desta terça-feira (1) foi a retórica agressiva, arrogante, tosca e mentirosa do fascista, que ainda não desceu do palanque e segue pregando o ódio e a intolerância.
No discurso mais “protocolar”, lido em menos de dez minutos no Congresso Nacional – o que comprova o seu vazio de ideias e de propostas –, Jair Bolsonaro fez inúmeras citações a Deus, prometeu arrocho fiscal e reformas neoliberais, defendeu a liberação das armas e criticou a “ideologia de gênero” e a “submissão ideológica”. Já diante de seus fanáticos seguidores, no Parlatório, ele disse que o Brasil “começou a se libertar do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto”. Ele ainda falou que os “inimigos da pátria e da ordem tentaram pôr fim à minha vida”, em referência ao atentado que sofreu em 6 de setembro em Juiz de Fora (MG), e esbravejou que “nossa bandeira não será vermelha", dizendo que apenas o será se for com o seu sangue. Os abestalhados presentes, acostumados com os tuites diários do farsante, foram ao delírio com estes chavões e idiotices.
Todas essas bravatas, porém, serviram apenas como tática diversionista para enganar os otários e para excitar a milícia fascista. Deixando de lado a retórica típica de campanha eleitoral, Jair Bolsonaro – o presidente do ricaços, dos falsos moralistas e dos charlatães religiosos – já prepara várias ações contra o povo brasileiro. Nesta terça-feira, algumas notinhas na imprensa sinalizaram o que está por vir. Segundo a Folha, o novo governo “pode usar brechas para flexibilizar regras trabalhistas” sem precisar mexer na Constituição ou na Consolidação das Leis do Trabalho para alterar, por exemplo, a forma de pagamento do 13º salário. “Promessa de campanha do presidente eleito para a geração de emprego, a carteira de trabalho verde e amarela existiria simultaneamente à tradicional azul, mas funcionaria como um contrato individual da empresa com cada funcionário. Suas determinações prevaleceriam sobre a CLT”.
Eufórica, a mídia neoliberal também festeja a aceleração da ‘reforma’ contra os aposentados e pensionistas. Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil, disse que “todas as questões que envolvem a Previdência Social já estão bastante amadurecidas pela equipe técnico do professor Paulo Guedes", o Posto Ipiranga do novo governo. Uma reunião do czar da economia com o presidente inimigo dos aposentados está prevista para a próxima semana e deverá formalizar a contrarreforma previdenciária. Segundo o ministro Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, “a tendência é que seja apresentada uma proposta fatiada, como afirmou Bolsonaro durante o governo de transição”.