DJ Lisa Bueno: Respeito ao Hip-Hop

''Eu quero esclarecer, foi que não tocou o bip. Eu vou me desculpar por mim, pela equipe. Aqui pro meu patrão não ficar no veneno, agora com vocês DJ Lisa Bueno.''
(MC Max BO, Hip Hop DJ 2006)

Momento único, um sonho se realizando… Sempre tive vontade de participar de um campeonato de DJ. Certa vez fui jurada na semi-final do campeonato da Broadway e todo ano promovo campeonatos entre os alunos da Electronic DJs. Mas… e eu?


 


Sempre quis ter a experiência de participar de um: sentir o frio na barriga e ver a reação do publico.


 


Quando resolvi participar do Hip Hop DJ pensei somente na experiência: participar apenas por experiência mesmo. Não conseguia tempo para me dedicar realmente ao turntablismo, mas… vamos tentar né!


 


Pedi auxilio a alguns amigos DJs que prontamente me ajudaram como David Rodrigues e Erik Japonês. Foi difícil? Claro, esta arte não é fácil, mas com insistência se consegue.


Fui à galeria, fiz a inscrição meio com receio… Será que devo? Instantaneamente veio a resposta em minha cabeça: ''Claro! É isso que eu sempre quis!''


 


Entreguei o CD teste, peguei o ônibus rumo a Freguesia e fui pra casa treinar.


 


Depois de uns dias KL Jay me liga dizendo que ouviu o CD e eu estava aprovada pela 1ª pré-seleção.


''Agora é só treinar e mostrar no palco meu desempenho'' pensei comigo.


 


Chegou o dia
Chegando ao Sesc Pompéia: -Será que não esqueci nada?
Feltros, agulhas, fone… ai ai! Nesse momento, tensão total: os participantes, organizadores, pessoas do meio, todos no evento de olhos meio tortos, tipo: ela vai participar? Bom, já estava acostumada com esses olhares, pois em todas as festas que ia tocar sempre foi assim mesmo: uma mulher nos toca-discos?


 


Mas aquele momento foi uma experiência totalmente diferente para mim. Não estava tão nervosa, porém o tempo todo relembrava a seqüência na memória com medo de esquecer algo.


 


Chegou a hora! Chamaram-me ao palco. Subi, preparei os discos, as agulhas… Olhei pra baixo e aqueles olhares de novo, só que agora era do público. Tudo bem. Calma, Lisa. O Kléber pressionando como sempre:
– Ta tudo pronto?


 


Comecei mandando a mensagem falando sobre os homens e a galera foi ao delírio: “É muita treta ver certos manos subindo no palco pra falar de consciência e de luta e nos bastidores eles traem suas mulheres e filhos com prostituta…” (Apocalipse 16)


 


Passei pelos scratches e fui para as batidas e de novo os gritos. A galera gostou! Que legal! Poderia parar por aí, que a experiência já tinha valido, mas a vontade cada vez aumentava… Quando percebi, já participava todo ano. É muito trabalho mesmo, desgastante, às vezes enche o saco sim, pra montar a seqüência e tal, mas aqueles 3 minutos são preciosos e únicos.


 


Todas as vezes que participei do campeonato sentia aqueles olhares me infiltrando, e algumas pessoas já vinham conversar comigo, parabenizando e incentivando.


 


O rapper Xis me convidou para me apresentar na final, foi muita honra mesmo.
Aos poucos as pessoas parecem se acostumar com a idéia de uma única mina no meio dos DJs. Tive a oportunidade de conhecer outros caras que me apoiaram bastante nesta caminhada como Erick Jay, Zulu, RM, Ed, Rafa, Negro Rico, …


 


Três anos participando do campeonato, mas foi na eliminatória da Zona Norte de 2007 que tudo mudou.


 


Neste ano me dediquei mais. Treinei tanto que me deu até tendinite nas mãos e antebraços. Fiquei uma semana sem treinar quase à véspera da seletiva, mas graças à Deus me recuperei e o resultado foi: 1º lugar da Zona Norte! Foi algo que nem eu esperava…


 


“Não é coisa só pra homem, tem mais e tal. Sou mulher acho legal, venho do primeiro mundo bastante original! Uau, sensacional!” (Rubia e RPW)



– Eu passei 37 anos querendo ver isso! –  disse DJ KL Jay, eufórico.



Ah! Então era isso que ele e todos queriam ver? Impressionante: todos aqueles olhares mudaram de repente? As pessoas agora me olham com respeito!


 


Incrível, tudo mudou mesmo e este é o resultado da persistência e isso tudo me fez amadurecer bastante.


 


No começo, todos aqueles olhares me faziam recuar e tocar de cabeça baixa, mas agora, além de levantar a cabeça eu aponto pros caras e os chamo pro racha. – Tem coragem?


 


Não que eu queira ser melhor que alguém, só quero respeito como todos os outros, pois somos todos iguais. ''Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas.'' (Romanos 2:11)


 


Se Deus não faz acepção de pessoas porque nós fazemos? O que o mundo está precisando é desta igualdade que faz parte deste amor perfeito que Deus nos ensina em sua bíblia sagrada, mas parece que temos tanta dificuldade em entender isso, realmente já faz parte do ser humano.


 


Entrei de cabeça no movimento hip-hop, principalmente por causa da sua filosofia que sempre admirei, de lutar contra os preconceitos etc. Porem isso na prática infelizmente é muito pouco realizado, essa é a verdade.


 


Assim como alguns têm preconceito com negros, alguns negros com brancos, com a roupa que aquele mano tá vestindo, que não faz parte do movimento, só porque ele não usa boné meio de lado e correntes gigantes ou não fala na gíria… Na verdade quem acha isso é quem não faz parte do movimento, pois o hip-hop é contra o preconceito em geral, não é?


 


Então… Big Respect!


 


DJ Lisa Bueno, ha maisoito anos ministra cursos para DJs na escola Electronic DJs. Devido sua ampla experiência, seus sets são diferenciados mostrando agilidade, criatividade entre scratches e outras tecnicas. Mistura de hip-hop com drum and bass, interação com o público e simpatia feminina. www.electronicdjs.com.br lisabueno@electronicdjs.com.br

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