Dois filmes de Hong Sang-Soo

Os filmes “Dangsin Eolgul Ap-eseo” e “Encontros”, de Hong Sang-soo

Cineasta Hong Sang-soo I Foto: Reprodução

Enfrentando a própria face

Filme “Dangsin eogul-apeseo” I Foto: Divulgação

É um filme sul-coreano que está sendo exibido na plataforma Making Off, sem título ainda em português. No coreano traduzido se chama “Dangsin Eolgul Ap-eseo” e em inglês o título é “In front of your face”. O diretor é um cineasta que se chama Hong Sang-soo, 61 anos de idade, e tem uma filmografia já desenvolvida. Pela estrutura dramática, eu pensei que era um filme produzido por uma mulher.

Eu sou a favor de se assistir a um filme sabendo-se tudo sobre ele, não deixando para conhecer depois. Mas nesse caso tenho a impressão de que se tem uma emoção melhor / maior não se sabendo a estória, deixando que o efeito surpresa dê ao espectador uma emoção redobrada. Em certo ponto do filme, quando estamos em uns 45 minutos da exibição, a gente começa a sentir um certo tédio daquela estória entre as duas irmãs, mas de repente começa praticamente o filme, e o espectador tem a parte mais dramática.

O muito interessante que penso encontrar nesse “In front of your face” é que toda a trama se desenvolve sem querer enganar o espectador, como me parece estar acontecendo no cinema atual. Você sabe o que está acontecendo, porém essa realidade é apresentada de uma forma cinematográfica extraordinária. Não extraordinária por grandes técnicas. Extraordinária pela beleza da forma, tanto da imagem quanto do roteiro sonoro. As duas irmãs estão juntas e conversam amigavelmente. E essa conversa é sublinhada por sons maravilhosamente escolhidos. Uma hora pelo som de uma pequena cachoeira. Ou pelo som da chuva. Ou então por música, mas não por roteiros românticos que queiram se destacar mais do que a imagem. E sim por pequenos sons. Sons destacados pelos ouvidos sem dúvida de quem dirigiu esse setor. Ou se não, pelo próprio diretor, me parece.

Na segunda parte de “In front of your face”, também temos um diálogo entre um cineasta e a personagem principal. Na verdade, um diálogo criado por um casal que se aproxima. E para isso, o saquê se torna fundamental. O trabalho cinematográfico me parece menor do que na primeira metade, mas a densidade dramática é maior justamente pelo drama. Também a estória pode ser o condutor, mesmo do ponto de vista estético de um filme.

Digo com sinceridade que há muitos anos eu não assistia a uma obra tão enxuta e limpa como arte cinematográfica. O diretor Hong Sang-soo é um experiente diretor da Coréia do Sul, e assim cada dia temos que realmente referendar o cinema que vem desse país do Oriente. Daqui a pouco, a Coréia ficará na estória do cinema como mais expressiva que o próprio Japão.

Aqui no final da crônica, gostaria de falar que o tom imaginoso pode estar dominando o filme, e isso mais do que a própria realidade. Assim ficará na mente do espectador uma dúvida. E ficaremos assim pensando, a moça estava dizendo a verdade ou tudo não passava de uma brincadeira de mentira?

Olinda, 27. 01. 22

Apresentando a própria vida

Filme “Introduction” I Foto: Divulgação

Depois de ver “In front of your face”, vi hoje “Introduction”, que tem em português o título “Encontros”. Ambos filmes do cineasta coreano Hong Sang-soo. O primeiro filme achei muito bom, como expressei na crônica anterior, e o segundo é simplesmente bom. Mas o que me parece interessante é que pelos dois filmes conhecemos o estilo cinematográfico criado pelo cineasta sul-coreano Hong Sang-soo.

Sang-soo é autor de uma dezena de filmes. Temos informações de que esse estilo está presente em suas produções e assim se verifica estarmos diante de um cineasta realmente artista, que conta uma estória prezando principalmente a sua criação narrativa cinematográfica. Sang-soo é um autêntico artesão, e quando dirige faz o roteiro. Além disso, dirige a fotografia, a trilha sonora e até mesmo a montagem. É um verdadeiro Vitalino de Caruaru, que pega no barro desde retirá-lo do barranco, até a figura mitológica terminada. Assim Hong com a estrutura imagética.

Esse “Introduction” é certamente menor do que “In front of your face” como contexto global, isto é, pela força do que é narrado no conjunto, mas na maneira como é filmado e montado tanto na imagem como no som, os filmes se continuam. Inclusive “Introduction” também tem uma cena como o outro filme, em que a dimensão dramática dá um salto e toma o espectador pela alma. Nesse caso, também temos a influência da bebida para a ação dos personagens e claro a excelente performance interpretativa.

Considero que esse cinema é capaz de nos fazer conhecer melhor a forma de comportamento da gente do Oriente. É um cinema de uma aparência simples, mas na mais superficial análise se chega à conclusão de que não é simplesmente simples. Consegue ser arte dentro dessa imensa estrutura tecnológica que envolve o cinema. O cineasta Hong Sang-soo dispõe de uma grande maturidade nos seus 61 anos de vida e pela sua experiência na prática do fazer cinema profissional. A mim esses dois filmes me deram vontade de ir conhecer pessoalmente a Coréia e se possível as duas, Norte e Sul. Sem dúvida, o fato de estarem divididas não as separa como povo. Exibição na plataforma Making Off.

Olinda, 27. 01. 22

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