É sempre carnaval
Os trio elétricos se aquecem e se planejam, em outras terras brasileiras o povo se prepara para uma época onde a cultura popular está no maior destaque de nossa alegoria
Publicado 25/04/2022 14:27

Um carnaval fora de época não impede a sensação de um povo festeiro. Um povo que chora, sente dor, mas extravasa em noites carnavalescas. Bailes, cortejos e desfiles se unificam nesse feriado de Tiradentes, onde é iniciado antes de 21 de abril e segue até depois do próprio feriado. Em alguns lugares, esse feriado folião se estende, fazendo escolas, agremiações, blocos e cortejos vivenciarem uma das maiores expressões culturais mais autênticas do povo brasileiro.
Notícias como: “Viradouro sai como favorita”, “Dragões da Real homenageia Adoniran Barbosa”, ” Blocos ignoram pedido da Prefeitura de São e vão para a rua”, são algumas notícias que mostra a importância e destaque cultural, econômica, turística que o (a) brasileiro (a), mesmo que essa data (por conta da pandemia) seja realizada em época diferente.
Do Rio de Janeiro e de São Paulo, os desfiles, bateria e as alas das agremiações que passam um ano inteiro ensaiando e se preparando para o momento tão esperado. Assim como na Bahia, os trio elétricos se aquecem e se planejam, em outras terras brasileiras o povo se prepara para uma época onde a cultura popular está no maior destaque de nossa alegoria.
Só que isso não começou de agora e, através deste singelo cordel contarei um pouco dessa história:
- De festa que eu vou falar
- Com alegria e astral
- Tem nome de Carnaval
- Sagrado e popular
- Sua origem eu vou contar
- O nome vem do latim
- Carnevalle, diz assim
- Adeus a carne procês
- Não tem nenhuma escassez
- O jejum era no fim
- O tempo que vem depois
- Até a páscoa chegar
- De quaresma vai chamar
- Paramos nem um nem dois
- Mas um mês só de arroz
- Nos ligando ao sagrado
- Sem ter a carne no prato.
- Lá no começo da História
- Devotos com fé e glória
- Deixaram o rito marcado
- Festejando a colheita
- Com a agricultura inicia
- Não tem hora não tem dia
- Forma, lugar e receita
- Todo o povo se enfeita
- E começa a brincadeira
- Na praça, rua e feira.
- No Egito, pra divindade
- Por todo o mar da cidade
- Tinham barcas de madeira
- Não sei onde começou
- Mas vou lembrar de países
- Grécia, Egito com Ísis
- Em Roma Baco reinou
- E a festa não acabou.
- Na Babilônia também
- Não se sabe de onde vem
- Rituais realizavam
- As Sacéias praticavam
- Detentos se davam bem
- Era o rei réu o réu, rei
- A Rainha o réu pegava
- Do banquete se fartava
- Ninguém ligava pra lei
- Pelo menos é o que sei.
- Depois surravam o homem
- E o deixavam com fome
- Pra no fim, ser enforcado
- Empalavam o coitado
- Esqueciam do seu nome
- A História tem os seus ritos
- Como o rei que apanhava
- No templo ele ficava
- Era surrado aos gritos
- Se firmaria o conflito
- Tudo na frente do povo.
- Depois disso o rei de novo
- É levado por sua gente
- Satisfeita e contente
- Ao trono para o renovo
- E então foi determinado
- Um período anual
- Pra brincar o carnaval
- O tempo foi fixado.
- E a quaresma tinha o fardo
- De retiro e oração
- Mas antes com empolgação
- Todo povo se fartava
- A folia realizava
- Sem cautela e razão
- A festa da liberdade
- Foi escrita desde então
- Por toda a população
- Que fantasia a verdade
- E esquece a realidade
- Se vestindo nesse dia
- De urso para a folia
- E no velho continente
- De um tempo inconseqüente
- Terra cocanha surgia
- O jovem a regra fazia
- Brincando com alegria
- Na calorosa zoeira
- De farra, festa e folia
- Tinha tom de rebeldia
- Nesse período dançante
- Dos charivaris cantantes
- Os cortejos ecoavam
- Povo e Elite estavam
- Nas festas de carnaval
- Em terras Italianas
- Tempo do renascimento
- A arte em florescimento
- Lá na região da Toscana
- Ganhava a vida urbana
- Classes se aproximavam
- Na farra, se misturavam
- Triunfos e alegoria
- A coroa mostraria
- Que os nobres se apoderavam
- Com jeito firme e preciso
- É que a commedia d’larte
- Na Itália teve sua parte
- Nos jogos de improvisos
- Despertando muitos risos
- Nos bailes organizados
- Com máscaras e bailados
- De amantes misteriosos
- Beijos doces e amorosos
- Corações apaixonados
- Na América ecoou
- Com a barca colonial
- Liderada por Cabral
- Pelo oceano chegou
- No Brasil desembarcou
- A festa mais cobiçada
- Mas deu uma misturada
- Com os nativos da terra
- Subindo e descendo serra
- Ela foi miscigenada
- Brancos trouxeram suas crenças
- E os índios na resistência
- Seus cultos tinham essêcia
- Mostrando as diferenças
- Que causavam desavenças
- Mas os colonizadores
- Que tinham os seus valores
- Escravizaram na guerra
- Inda buscaram em outra terra
- Negros para os seus senhores
- A história já conhecemos
- Muitos falam que o Brasil
- Nada tem de mãe gentil
- E disso nós lembraremos
- Mas para não nos perdermos
- Vamos falar de carnaval
- Do festivo bacanal
- Que no Brasil ganha forma
- Sem regras, pudor e norma
- Do início até o final
- Os negros que começaram
- Com todas as brincadeira
- Com muita farra festeira
- Pelas ruas se espalharam
- E os seus rostos pintaram
- Confete, água perfumada
- Eram em pessoas jogadas
- Entrudos já começavam
- Brincadeiras embalavam
- As folias badaladas
- Foi então que toda a imprensa
- Começou a condenar
- O entrudo e pra completar
- Deram sua amarga sentença
- E os ricos com indiferença
- Pela festa popular
- Passaram a desfrutar
- De baile em finos salões
- Excluindo os cordões
- Tentando o povo calar
- O povão não desistiu
- De fazer a brincadeira
- Resistiu a sua maneira
- Por seu direito se uniu
- Nascendo pelo Brasil
- Cordões, ranchos foliões
- Com formas e devoções
- Entre elas o Carnaval
- Pop, de massa e rural
- Seguindo as tradições
- Uns anos depois surgiram
- As marchinhas de carnaval
- A música em alto astral
- E cada vez mais se uniram
- Ritmos que embalariam
- E na canção brasileira
- Com Abre Alas faceira
- Foi que Chiquinha Gonzaga
- Mulher de grande sacada
- Entrava na brincadeira
- Mil novecentos e dez
- Nosso samba surgiria
- Pelo Telefone ia
- Levar o samba nos pés
- De salões a cabarés
- Onde o povo se unia
- Com muito samba e alegria
- A festa ganhou o Brasil
- De cantos e encantos mil
- No país se firmaria
- Com africanas nações
- E os afoxés da Bahia
- A festa o povo fazia
- Batuque nos corações
- Em Olinda tinham nações
- Maracatus e seus baques
- E o frevo tinha destaque
- Corsos no Rio de Janeiro
- Elite em carros festeiros
- Ecoando outro sotaque
- O Rio fez realidade
- Com suas primeiras escolas
- Samba, do povo que mora
- Na pobre comunidade
- De gente em pura verdade
- Vai como Pode, a primeira
- Portela de madureira
- Veio a Deixa Falar
- Que virou Estácio de Sá
- As escolas pioneiras
- Na década de cinquenta
- O lindo estado Bahia
- Que sua história fazia
- O trio elétrico inventa
- Guitarra baiana esquenta
- Com fervor, a multidão
- O axé vira a sensação
- Dodô e Osmar, Armandinho
- Olodum no pelourinho
- Ganhou todo o folião
- A tal festa carnaval
- Tem histórias para aprender
- Mas não preciso dizer
- Que o Brasil tem astral
- Aqui até em futebol
- Se faz batuque e marchinha
- Cantando eô e vassourinha
- Olinda, Rio e Bahia
- Terra de tanta magia!
- Com abadá e sombrinha
- Deixo a vocês a história
- Por puro conhecimento
- Hoje em todo momento
- Que não se perca a memória
- De todo povo e sua glória
- De canto universal
- De cultura magistral
- Nessa festa popular
- Que veio de além mar
- E aqui virou Carnaval