É sempre carnaval

Os trio elétricos se aquecem e se planejam, em outras terras brasileiras o povo se prepara para uma época onde a cultura popular está no maior destaque de nossa alegoria

Um carnaval fora de época não impede a sensação de um povo festeiro. Um povo que chora, sente dor, mas extravasa em noites carnavalescas. Bailes, cortejos e desfiles se unificam nesse feriado de Tiradentes, onde é iniciado antes de 21 de abril e segue até depois do próprio feriado. Em alguns lugares, esse feriado folião se estende, fazendo escolas, agremiações, blocos e cortejos vivenciarem uma das maiores expressões culturais mais autênticas do povo brasileiro.

Notícias como: “Viradouro sai como favorita”, “Dragões da Real homenageia Adoniran Barbosa”, ” Blocos ignoram pedido da Prefeitura de São e vão para a rua”, são algumas notícias que mostra a importância e destaque cultural, econômica, turística que o (a) brasileiro (a), mesmo que essa data (por conta da pandemia) seja realizada em época diferente.

Do Rio de Janeiro e de São Paulo, os desfiles, bateria e as alas das agremiações que passam um ano inteiro ensaiando e se preparando para o momento tão esperado. Assim como na Bahia, os trio elétricos se aquecem e se planejam, em outras terras brasileiras o povo se prepara para uma época onde a cultura popular está no maior destaque de nossa alegoria.

Só que isso não começou de agora e, através deste singelo cordel contarei um pouco dessa história:

  • De festa que eu vou falar
  • Com alegria e astral
  • Tem nome de Carnaval
  • Sagrado e popular
  • Sua origem eu vou contar
  • O nome vem do latim
  • Carnevalle, diz assim
  • Adeus a carne procês
  • Não tem nenhuma escassez
  • O jejum era no fim
  • O tempo que vem depois
  • Até a páscoa chegar
  • De quaresma vai chamar
  • Paramos nem um nem dois
  • Mas um mês só de arroz
  • Nos ligando ao sagrado
  • Sem ter a carne no prato.
  • Lá no começo da História
  • Devotos com fé e glória
  • Deixaram o rito marcado
  • Festejando a colheita
  • Com a agricultura inicia
  • Não tem hora não tem dia
  • Forma, lugar e receita
  • Todo o povo se enfeita
  • E começa a brincadeira
  • Na praça, rua e feira.
  • No Egito, pra divindade
  • Por todo o mar da cidade
  • Tinham barcas de madeira
  • Não sei onde começou
  • Mas vou lembrar de países
  • Grécia, Egito com Ísis
  • Em Roma Baco reinou
  • E a festa não acabou.
  • Na Babilônia também
  • Não se sabe de onde vem
  • Rituais realizavam
  • As Sacéias praticavam
  • Detentos se davam bem
  • Era o rei réu o réu, rei
  • A Rainha o réu pegava
  • Do banquete se fartava
  • Ninguém ligava pra lei
  • Pelo menos é o que sei.
  • Depois surravam o homem
  • E o deixavam com fome
  • Pra no fim, ser enforcado
  • Empalavam o coitado
  • Esqueciam do seu nome
  • A História tem os seus ritos
  • Como o rei que apanhava
  • No templo ele ficava
  • Era surrado aos gritos
  • Se firmaria o conflito
  • Tudo na frente do povo.
  • Depois disso o rei de novo
  • É levado por sua gente
  • Satisfeita e contente
  • Ao trono para o renovo
  • E então foi determinado
  • Um período anual
  • Pra brincar o carnaval
  • O tempo foi fixado.
  • E a quaresma tinha o fardo
  • De retiro e oração
  • Mas antes com empolgação
  • Todo povo se fartava
  • A folia realizava
  • Sem cautela e razão
  • A festa da liberdade
  • Foi escrita desde então
  • Por toda a população
  • Que fantasia a verdade
  • E esquece a realidade
  • Se vestindo nesse dia
  • De urso para a folia
  • E no velho continente
  • De um tempo inconseqüente
  • Terra cocanha surgia
  • O jovem a regra fazia
  • Brincando com alegria
  • Na calorosa zoeira
  • De farra, festa e folia
  • Tinha tom de rebeldia
  • Nesse período dançante
  • Dos charivaris cantantes
  • Os cortejos ecoavam
  • Povo e Elite estavam
  • Nas festas de carnaval
  • Em terras Italianas
  • Tempo do renascimento
  • A arte em florescimento
  • Lá na região da Toscana
  • Ganhava a vida urbana
  • Classes se aproximavam
  • Na farra, se misturavam
  • Triunfos e alegoria
  • A coroa mostraria
  • Que os nobres se apoderavam
  • Com jeito firme e preciso
  • É que a commedia d’larte
  • Na Itália teve sua parte
  • Nos jogos de improvisos
  • Despertando muitos risos
  • Nos bailes organizados
  • Com máscaras e bailados
  • De amantes misteriosos
  • Beijos doces e amorosos
  • Corações apaixonados
  • Na América ecoou
  • Com a barca colonial
  • Liderada por Cabral
  • Pelo oceano chegou
  • No Brasil desembarcou
  • A festa mais cobiçada
  • Mas deu uma misturada
  • Com os nativos da terra
  • Subindo e descendo serra
  • Ela foi miscigenada
  • Brancos trouxeram suas crenças
  • E os índios na resistência
  • Seus cultos tinham essêcia
  • Mostrando as diferenças
  • Que causavam desavenças
  • Mas os colonizadores
  • Que tinham os seus valores
  • Escravizaram na guerra
  • Inda buscaram em outra terra
  • Negros para os seus senhores
  • A história já conhecemos
  • Muitos falam que o Brasil
  • Nada tem de mãe gentil
  • E disso nós lembraremos
  • Mas para não nos perdermos
  • Vamos falar de carnaval
  • Do festivo bacanal
  • Que no Brasil ganha forma
  • Sem regras, pudor e norma
  • Do início até o final
  • Os negros que começaram
  • Com todas as brincadeira
  • Com muita farra festeira
  • Pelas ruas se espalharam
  • E os seus rostos pintaram
  • Confete, água perfumada
  • Eram em pessoas jogadas
  • Entrudos já começavam
  • Brincadeiras embalavam
  • As folias badaladas
  • Foi então que toda a imprensa
  • Começou a condenar
  • O entrudo e pra completar
  • Deram sua amarga sentença
  • E os ricos com indiferença
  • Pela festa popular
  • Passaram a desfrutar
  • De baile em finos salões
  • Excluindo os cordões
  • Tentando o povo calar
  • O povão não desistiu
  • De fazer a brincadeira
  • Resistiu a sua maneira
  • Por seu direito se uniu
  • Nascendo pelo Brasil
  • Cordões, ranchos foliões
  • Com formas e devoções
  • Entre elas o Carnaval
  • Pop, de massa e rural
  • Seguindo as tradições
  • Uns anos depois surgiram
  • As marchinhas de carnaval
  • A música em alto astral
  • E cada vez mais se uniram
  • Ritmos que embalariam
  • E na canção brasileira
  • Com Abre Alas faceira
  • Foi que Chiquinha Gonzaga
  • Mulher de grande sacada
  • Entrava na brincadeira
  • Mil novecentos e dez
  • Nosso samba surgiria
  • Pelo Telefone ia
  • Levar o samba nos pés
  • De salões a cabarés
  • Onde o povo se unia
  • Com muito samba e alegria
  • A festa ganhou o Brasil
  • De cantos e encantos mil
  • No país se firmaria
  • Com africanas nações
  • E os afoxés da Bahia
  • A festa o povo fazia
  • Batuque nos corações
  • Em Olinda tinham nações
  • Maracatus e seus baques
  • E o frevo tinha destaque
  • Corsos no Rio de Janeiro
  • Elite em carros festeiros
  • Ecoando outro sotaque
  • O Rio fez realidade
  • Com suas primeiras escolas
  • Samba, do povo que mora
  • Na pobre comunidade
  • De gente em pura verdade
  • Vai como Pode, a primeira
  • Portela de madureira
  • Veio a Deixa Falar
  • Que virou Estácio de Sá
  • As escolas pioneiras
  • Na década de cinquenta
  • O lindo estado Bahia
  • Que sua história fazia
  • O trio elétrico inventa
  • Guitarra baiana esquenta
  • Com fervor, a multidão
  • O axé vira a sensação
  • Dodô e Osmar, Armandinho
  • Olodum no pelourinho
  • Ganhou todo o folião
  • A tal festa carnaval
  • Tem histórias para aprender
  • Mas não preciso dizer
  • Que o Brasil tem astral
  • Aqui até em futebol
  • Se faz batuque e marchinha
  • Cantando eô e vassourinha
  • Olinda, Rio e Bahia
  • Terra de tanta magia!
  • Com abadá e sombrinha
  • Deixo a vocês a história
  • Por puro conhecimento
  • Hoje em todo momento
  • Que não se perca a memória
  • De todo povo e sua glória
  • De canto universal
  • De cultura magistral
  • Nessa festa popular
  • Que veio de além mar
  • E aqui virou Carnaval
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