Eleger governantes que respeitem a democracia e os direitos das minorias – o novo desafio do século XXI*

A eleição de governantes democráticos e comprometidos com os direitos das minorias é vital para prevenir regimes autoritários e assegurar uma sociedade justa e inclusiva.

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Eleger governantes comprometidos com a democracia e os direitos das minorias é crucial para a manutenção de uma sociedade minimamente equilibrada. Parece óbvio, mas o que vimos nos últimos dias, tanto nos EUA como na União Europeia, nos faz ter que voltar a este tema, inclusive mostrando como pensam variados autores acerca disso.

Jürgen Habermas (2002) destaca a importância do discurso democrático como um mecanismo para a construção de consensos legítimos e justos. Para ele, a democracia não é apenas um sistema político, mas um processo contínuo de deliberação pública, onde todos os cidadãos têm voz e participação efetiva.

Nancy Fraser (2008) complementa esta visão ao argumentar que a justiça social só pode ser alcançada através da inclusão de todas as vozes, especialmente as das minorias historicamente marginalizadas. Ela enfatiza a necessidade de um reconhecimento equitativo e uma distribuição proporcional de recursos, defendendo que o processo eleitoral deve ser sensível às demandas de todos os grupos sociais, garantindo que as suas necessidades sejam atendidas de maneira justa.

John Rawls (2000) debate que uma sociedade justa é aquela que assegura as liberdades básicas para todos os seus membros e promove a igualdade de oportunidades. Ele defende o “princípio da diferença”, que afirma que as desigualdades sociais e econômicas só são aceitáveis se beneficiarem os menos favorecidos. Esse princípio ressalta a importância de eleger aqueles que se comprometam com políticas que promovam a equidade e protejam os direitos das minorias.

Eleger líderes que respeitem as regras do jogo e os direitos de todos é fundamental para evitar o avanço de ideologias totalitárias. Timothy Snyder (2017) alerta para os sinais de erosão democrática e ascensão de regimes autoritários, destacando que a democracia requer vigilância constante e que a participação ativa dos cidadãos é essencial para prevenir o fascismo.

Hannah Arendt (1991) explora como regimes autocráticos se consolidam através da manipulação do medo e da propaganda, muitas vezes visando minorias como bodes expiatórios. Ela alerta que a desvalorização dos direitos dessas minorias é um sinal claro do declínio democrático e um prelúdio para a ascensão de regimes opressivos.

Eleger figuras comprometidas com o respeito às vontades populares e o respeito a todos também fortalece a coesão social. Zygmunt Bauman (2003) argumenta que a segurança e esta coesão social dependem de políticas inclusivas que respeitem a diversidade e promovam a igualdade. Aqueles que negligenciam esses princípios correm o risco de fomentar divisões sociais e instabilidades.

Robert Dahl (2009) destaca que a participação inclusiva é essencial para a legitimidade democrática. Para ele, a democracia verdadeira só pode ser alcançada quando todos os grupos sociais têm a oportunidade de participar plenamente nos processos decisórios, garantindo que suas vozes sejam ouvidas e respeitadas.

Amartya Sem (2010) defende que o desenvolvimento humano e a liberdade são interdependentes, com a proteção dos direitos populares sendo fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade verdadeiramente livre e justa.

A importância de eleger governantes que respeitem as regras em voga e os direitos das minorias é ainda mais crucial em tempos de crise. Judith Butler (2015) discute como crises podem ser usadas para justificar políticas autoritárias e repressivas. Governantes comprometidos com os princípios democráticos e os direitos humanos são fundamentais para garantir que as respostas a crises sejam justas e equitativas.

Finalmente, Pierre Bourdieu (1993) ressalta que a luta pela justiça social e pelo respeito às vontades do povo deve ser constante e coletiva. Escolher líderes que respeitem as leis e a diversidade é uma responsabilidade de todos os cidadãos, pois a sociedade só se fortalece com a participação ativa e vigilante de todos os indivíduos.

Como vimos, não faltam estudos e escritos que apresentam os riscos de extremistas estarem a frente de variados países, é preocupante, portanto, os resultados que estamos vendo neste último mês na Europa e nos EUA e o cenário temeroso que se avizinha.

Eleger pessoas comprometidos com a democracia e os direitos das minorias é essencial para barrar o avanço do fascismo e do totalitarismo. A proteção dos excluídos não é apenas uma questão de justiça, mas uma condição necessária para a estabilidade e a legitimidade de qualquer governo, até mesmo o burguês.

REFERÊNCIAS

ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. Anti-semitismo, imperialismo, totalitarismo. Cia das. Letras, São Paulo, 1991.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Tradução: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. 258p.

BOURDIEU, Pierre. (Org.) A miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, 1993.

BUTLER, J. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2015.

DAHL, Robert Alan. Sobre a democracia. Brasília: Ed. UnB, 2009. 230 p.

FRASER, Nancy. Escalas de justicia. Barcelona: Herder. 2008.

HABERMAS, Jürgen. A Inclusão do Outro: estudos de teoria política. São Paulo: Loyola, 2002.

RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

SEN, Amartya. Desenvolvimento como Liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2010

SNYDER, Timothy. Sobre a tirania: vinte lições do século XX para o presente. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

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