End: Andar nas ruas

Hei, irmão, fique ligado, pois andar nas ruas periféricas requer um certo cuidado.

Não quero assimilar as ruas das favelas com perigo e promiscuidade, mas quem está nelas sabe que confiança demais é arriscado.

Observe as crianças, de pés descalços, sem luxo, mordomia, mas felizes, nesse cotidiano, nessa vida que eles pensam em ser os donos, seja na quadra sem alambrado, ou no campo sem grama, seus sonhos vão alem.

Crescem em meio a exemplos que nem sempre produtivos acabam por tornar crianças ingênuas em pré-adolescentes delinqüentes, os mais fracos se deixam levar por coisas irreais drogas, crime, prostituição.

Mas há alguns que se destacam e lutam tentando tornar a sua comunidade um melhor lugar pra se viver, andando nas ruas procurando nem que seja uma pedra deslocada que eles possam consertar, isto é ideal.

Andando nessas humildes ruas também se encontra lealdade entre famílias e amigos, é claro entre um copo e outro de cerveja sempre há uma discórdia, mas é insignificante comparada aos churrascos com sorrisos em portas de bares com gente de todas as raças confraternizando uma espécie de “viva à vida”.

Pense! Índios, negros, caucasianos, orientais, convivendo na mesma comunidade.

Fusão de culturas nas ruas turvas de terra, por onde ônibus suburbanos geram neblinas de poeira em pleno meio dia. Digo de experiência própria, eu passei por isso e aprendizado melhor não há, quantas vezes chorei, quantas vezes sorri, me zanguei e amei andando nessas ruas, foi lá que cresci, foi lá que meu pai me mostrou o que é ser homem, foi andando nas ruas suburbanas que descobri o que eu quero da minha vida.

Nessas ruas eu vi velhos, calmos e calejados, de expressão cansada, surrados pela vida dura, sentados nas suas respectivas varandas, olhando o movimento de dia, aflitos com a função de noite.

As ruas ligam bairros, e deixam a cidade viva, me diga, que lições eu tiraria das ruas desertas dos bairros nobres, ruas vazias, sem sentimentos?

Eu entendo que, o objetivo de cada indivíduo, seja a evolução, por isso, o asfalto vai dominando aos poucos os ladrilhos e poeiras das insólitas ruas periféricas.

Ainda hoje, ando nas ruas, seja na calada da noite, cauteloso, o na tarde quente, orgulhoso, e agradecido.

Por Deus ter me cedido o prazer de fazer parte desta instrutiva via.

Viva às ruas da periferia!

End Jay é rapper membro da Nação Hip-Hop Brasil – Rio Claro SP.

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