Esse time chamado Brasil

De volta, e a razão do sumiço

Retomo minha produção de textos para estes espaços após um dos maiores desafios que já enfrentei, coordenar a Sistematização da III Conferência Nacional do Esporte.

Ainda que tenha dito a patente, o nome pouco informa, e esclareço. A III CNE terminou domingo, 6 de junho, tendo reunido mais de 220 mil pessoas de 3112 municípios de todos os Estados e do DF. Foi a última das 68 Conferências realizadas no governo Lula, constituindo um valioso manancial da participação popular para a formulação das políticas públicas brasileiras.

O fenômeno das conferências é uma contribuição nossa, brazuca, que, mesmo limitada, diz muito como construímos a participação popular nesses 8 anos. Elas consolidaram áreas, deram visibilidade a setores vulneráveis, abriram caminhos para debates inéditos e de profundo sentido republicano, e são base para inúmeras proposições legislativas, programas sociais e organização de redes.

No caso da III Conferência Nacional do Esporte, ela abriu à participação popular um desafio sumamente complexo. A partir de 10 linhas estratégicas, eleger 10 ações principais para cada e derivada de cada ação, até 4 metas, colhendo a opinião popular para contribuir com a elaboração do I Plano Decenal do Esporte, que também abrange o lazer.

Então, minha tarefa foi exatamente coordenar uma equipe muito dedicada de jovens e professores de todas as regiões do país, de técnicos do Ministério dos Esportes e de pessoas, como eu, envolvidas apenas na realização da Conferência, buscando expressar a vontade popular. Ao final, ainda depauperado pela dimensão desumana da tarefa, tenho a certeza de que nos saímos bem, apesar das dificuldades de toda sorte que enfrentamos. E tenho de agradecer a confiança em mim depositada pela Professora Cássia Damiani, a quem cabe o principal mérito dessa conferência e da sistematização.

Seu principal mérito foi acreditar na Conferência, nela ter apostado todas as fichas numa dedicação sem limites, a despeito de sua saúde, inclusive. Da sistematização, porque a espinha dorsal de todo o plano, o Texto Básico – um conjunto de Linhas, Ações e Metas apresentado pela Comissão Organizadora Nacional a partir do Ministério – foi em grande medida por ela concebido. E é um feito intelectual invejável essa capacidade de traduzir o trabalho feito por um governo, apresentá-lo ao olhar do povo e dele receber a acolhida que observamos. As pessoas foram ganhas e sua dedicação foi muito além de um mero dever profissional. terminado o mais árduo da tarefa, não deixo de me comover com esses jovens arregimentados pela Cássia que tanto de si deram nesses meses. E a base desse esforço foi a dedicação da Professora Cássia, que inspirou esforços imensos de toda a equipe numa batalha que só pode ser adjetivada de épica.

Ela defendeu o legado do Ministério dos Esportes, de seus programas, cujo êxito lastreou os grandes objetivos a que se propõe nesta década que será única para o esporte. Não é à toa o arrojo desses feitos nos Esportes na gestão de Orlando Silva. Queremos a universalização do esporte como direito, a excelência da gestão, o controle social e os resultados nos pódios -, um conjunto apresentado e muito bem acolhido pelo povo. Imagino se Paulo Renato Souza apresentasse à opinião pública tal oportunidade quando conduzia o Ministério da Educação nos anos FHC, o que receberia…

E essa tradução politizadora que foi o leito mais justo para a expressão da vontade popular numa área tão pouco consolidada – mas que nesses sete anos e meio ganhou uma consistência inédita – foi obra de Cássia Damiani. Isso bem demonstra como os intelectuais orgânicos podem contribuir para galvanizar direitos, apontar conquistas, preservar legados como o do Esporte no governo Lula, que gerou o Programa Segundo Tempo, Esporte e Lazer na Cidade, a Bolsa Atleta, entre tantas realizações que nos fizeram chegar à transcendente conquista que é poder sediar a segunda Copa do Mundo em 2014 e as primeiras Olimpíadas e Paraolimpíadas da América Latina, em 2016, acontecimentos que mudarão as cidades, o mercado de trabalho e o olhar do Brasil sobre si mesmo.

Nesse caminho, o povo brasileiro se fez ouvir, pela ampliação dos programas, pelo enfrentamento das desigualdades regionais, pela universalização do acesso, pelo papel fundamental da educação, do esporte e da saúde como áreas indissociáveis na busca do avanço da qualidade de vida para todos. Afirma-se a importância do Esporte como uma política pública que integra o primeiro nível do nosso projeto nacional de desenvolvimento.

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