EUA, Cuba, golpes e antidemocracia

Após um mês dos protestos em Cuba, os quais tiveram forte influência estadunidense, é importante relembrar a política externa dos EUA e os golpes de Estado em que estiveram envolvidos

Fotomontagem feita com as fotos de: Doug Mills/The New York Times e FrankRamspott/Getty Images

Ontem (11) completou um mês dos protestos em Cuba. Manifestações que a mídia mainstream se arvorou logo em querer ditar ser uma nova primavera contra um regime tido como vil pela direita no geral. Lembro que naquele mesmo dia, uma notícia havia me chamado a atenção, além, claro, dos acontecimentos em Cuba e em Miami. Era a de que, segundo dados da inteligência norte-americana, Donald Trump havia tentado dar um golpe para impedir a eleição de Joe Biden. No Bom Dia Brasil, da Globo, ouvimos que seria um golpe na democracia dos Estados Unidos. Mas de qual democracia estamos falando? A autoproclamada maior democracia do mundo esteve e continua a se envolver, direta ou indiretamente, em sucessivos golpes, derrubadas de governos e imposição de embargos econômicos assassinos contra países dos quais discordam ideologicamente e economicamente, ou quando querem obter vantagens comerciais.

É verdade que os tradicionais golpes violentos, sob fuzis, tanques e assassinatos deliberados de opositores têm dado lugar ao que muitos estudiosos chamam de Revoluções Coloridas, que são basicamente golpes sem a participação direta deles. Sempre através da manipulação da opinião pública através de ações orquestradas na internet, disseminação de Fake News e destruição de reputações políticas.

Dizem que as Revoluções Coloridas começaram ali na chamada Primavera Árabe. Hoje já não há mais dúvidas da participação dos EUA ao insuflar a derrubada dos governos e regimes no Oriente Médio. Derrubada, inclusive, de antigos aliados dos norte-americanos. É que, assim como eles fazem com a Arábia Saudita ao não caracterizar aquele regime como uma ditadura, os ianques também não tinham problemas em manter relações diplomáticas e comerciais com muitos desses outros países. Só, claro, quando se tornam inimigos. Aí, obviamente, o jogo vira.

E não estão muito interessados no que vai acontecer com o povo. Os xerifes do mundo têm um grave problema de vista e de ego. Seus olhos só olham para si, no espelho da vaidade da alma, que alguns outros chamam de capitalismo. No Egito, por exemplo, desde a derrubada de Hosni Mubarak, o país acabou virando uma Ditadura Militar sob a vista de Abdel Fattah al-Sisi, general reformado que chegou ao poder depois de dar um golpe na Irmandade Muçulmana, grupo que havia vencido as eleições. Hoje, os jovens que lotaram a Praça Tahrir para derrubar Mubarak estão impedidos de mostrar qualquer descontentamento contra o atual regime. Até o direito de reunião não pode mais ser exercido. Prisões de opositores se tornaram mais do que comuns, como num dejà vu do absurdo.

Abdel Fattah al-Sisi, presidente do Egito I Foto: AFP

Algo parecido ocorreu na Síria. Na tentativa desesperada de derrubar Bashar al-Assad, jovens sírios também tomaram as ruas. Só que lá, Assad resistiu como pode e se mantém até hoje. O grande tiro pela culatra saiu quando muitos desses jovens e grupos dissidentes conseguiram tomar o poder na cidade de Raqqa. Com o caminho livre, em poucos dias o Estado Islâmico chegou ao local, tomou a cidade e a declarou como capital do seu Califado. De lá para cá, já sabemos da tragédia humanitária sem precedentes ao qual a Síria foi empurrada abismo abaixo, sem remorso, pelos EUA. É como se o Governo estadunidense fosse como um buraco negro. A antimatéria, a “antimoral”, devorando tudo o que vê pelo caminho.

Algo que conhecemos bem com a deposição de Dilma. Lembrem que pouco antes, Edward Snowden, ex-agente americano, tinha mostrado como os EUA de Obama vinham espionando a presidente brasileira. Afinal, o Brasil despontava, desde os governos de Lula, como um foguete em ascensão. O céu não era o limite. Havíamos formado o BRICS junto com África do Sul, Índia, Rússia e China – esses dois últimos grandes desafetos dos norte-americanos -, além de sermos os atores principais de um Mercosul cada vez mais forte. E logo depois veio a prisão política de Lula, que venceria sem sombras de dúvidas as eleições de 2018, o que culminou na eleição de um fascista, marionete dos militares. E, touché! Os militares voltaram, sem precisar de tanques e deposição do congresso.

Hoje, o que ocorre em Cuba vai na mesma direção. Desde que os EUA perderam o controle da ilha como seu quintal e cassino flutuante, onde alcoólatras brancos e azedos se amontoavam com passe livre dado pela Ditadura de Fulgencio Batista, para a Revolução de Fidel, Che e povo cubano, eles vêm tentando toda sorte de medidas para destruir a sua soberania popular. E o embargo econômico vergonhoso, o “bloqueo”, tem penalizado a vida lá por 60 anos.

Ainda assim, Cuba tem resistido bravamente. Com todas as dificuldades mantém um sistema público eficaz de saúde e educação, sempre baseados na solidariedade e nunca no mercantilismo da bondade. Afinal educação e saúde devem ser universais. O turismo é talvez a grande fonte de renda da ilha. E a pandemia tem feito um trabalho cruel, nesse sentido. E para completar, forças nada ocultas dos chamados cubanos de Miami, muitos ligados à Máfia Cubana em solo americano, arrotam moral, levantando bandeiras ancaps e ligadas alt-right, que por sua vez tem ligações com grupos supremacistas brancos, e agem como agentes da desestabilização.

É como li um dia desses em alguma rede social: “sim, há violações dos direitos humanos, torturas e prisões arbitrárias em Cuba. E elas se encontram na Base Americana de Guantánamo”.

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