"Fechamento das portas"

Olhem bem como são as coisas. O primeiro grande movimento organizado no Brasil pela redução da jornada de trabalho, ocorreu nos estertores do Império e nos começos da República, no Rio de Janeiro e foi conduzido pela “classe caixeiral”, os empregados do comércio, a partir da grande greve de 1886.

Os estabelecimentos comerciais funcionavam, então, sem interrupções durante todos os dias da semana (domingos e feriados contados) e a cada dia ao arbítrio dos proprietários.

A exigência da redução de jornada tomou a forma da reivindicação de “fechamento das portas”; o comércio (em um país ainda preso à Escravidão) era o grande empregador de mão de obra livre e a principal ocupação urbana. “Os moços do comércio” manifestavam-se quase diariamente pelo “fechamento”, chegando às vezes a invadir as lojas como aconteceu na véspera de Finados de 1888: “Ontem, cerca de nove horas da noite, um grande grupo de moços, que nos dizem serem empregados do comércio, percorreram algumas ruas da cidade dando vivas ao fechamento das portas e saudando as redações dos jornais. Não se limitaram porém a isso e cometeram alguns desatinos quando apedrejaram e invadiram uma funerária destruindo algumas coroas para finados”(Gazeta de Notícias, 2/11/1888).

Machado de Assis, em várias de suas crônicas, comenta a campanha, vinculando-a à extinção da escravidão. “Todas as liberdades são irmãs; parece que, quando uma dá rebate, as outras acodem logo”. E acrescenta: “aí temos explicado o movimento atual, que, em boa hora vai sendo praticado em paz e harmonia. Seguramente, há maior número de dias vagos, mas o trabalho dos outros compensará os perdidos; por esse lado, não vejo perigo”.

A luta – de todos os trabalhadores – pela redução da jornada tem sido longa, com vitórias e atrasos. Já houve época em que os comerciários foram os protagonistas, os puxadores de fila.

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