Forças oculltas, DC

“Forças terríveis se levantaram contra mim…”, dizia Jânio Quadros, quando da sua renúncia, em 1961. “Forças” que, sabemos hoje, foram contrariadas pela revolucionária política exterior de soberania e independência, levada a cabo por San Tiago Dantas, ministro das Relações Exteriores de Jânio.

Soberania que, rompendo a tradicional política de aliança automática ao expansionismo do bloco ocidental, liderado pelos Estados Unidos, favorecia a diversidade de relações comerciais com qualquer parceiro que fosse do nosso interesse, independente de seu alinhamento ideológico.

Sete anos antes, o presidente Getúlio Vargas fora ainda mais explícito, em sua carta-testamento, pouco antes de dar um tiro no próprio peito: “(…) A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. (…)”.

Não foram outros os beneficiários do golpe de 1964 senão aqueles que hoje vêm fungando pelos becos contra a soberania e independência de nossa política externa, contra nosso desalinhamento automático com o corporativismo ocidental liderado pelos Estados Unidos. Foram os mesmos que ainda hoje torcem as ventas contra as ainda incipientes experiências de distribuição de riqueza e de valorização do trabalho; contra o potencializar das nossas riquezas por meio de empresas conquistadas pela nação e salvas da sanha privatista de tempos recentes.

Assistimos, nesta semana, o foguetório da mídia nacional, que lidera, estimula e se antecipa à alegria da oposição, pela vitória do “blocão” ou, dito de outra forma, a derrota do governo Dilma, ante um projeto de interesse da sociedade civil. A euforia estampada em todas as mídias revela a persistência do interesse antinacional acima referido. Não se trata, como se quer fazer crer, de simples contenda a colocar em lados opostos a “inabilidade política” da presidenta Dilma e a avidez por cargos do PMDB, do bloco de apoio ao governo.

É bem mais que isso. O verdadeiro significado da “revolta” parlamentar foi, em parte, dito por Marina Silva, em sucinta análise de sua coluna semanal na Folha de São Paulo, nesta sexta-feira. Mesmo que entremeada de por suas habituais manifestações de ódio contra o partido da presidenta, Marina assim se expressa: “(o projeto que está no parlamento) é resultado de um amplo processo colaborativo, iniciado em 2009 pelo Ministério da Justiça, em que participaram autoridades públicas, cientistas, ONGs, internautas, ativistas da internet.”

Mais: “A construção democrática da proposta, pouco comum em assuntos estratégicos, chamou a atenção do mundo todo. Só uma lógica da ‘oposição pela oposição’, que só vê defeitos em tudo o que o governo faz, pode desconhecer as evidentes qualidades do projeto. No Parlamento, a força dos lobbies se fez sentir. Empresas querem cobrar pacotes diferenciados e separar o acesso segundo o preço, como se a internet fosse um canal de televisão pay-per-view. (…)”. Os lobbies, faltou ser dito por Marina, dos velhos conhecidos interesses predadores internacionais.

Antes de Marina, o deputado Chico Alencar fizera uma análise mais ampla e mais profunda da questão, apontando os verdadeiros adversários da sociedade civil: pessoas, coletivos, movimentos e organizações que debatem tecnologia, comunicação e cultura digital, que querem “uma internet mais livre, neutra, democrática”. Os inimigos, para Chico, são justamente aqueles que propõem “uma internet mais controlada por grandes empresas, principalmente as de telecomunicações, como Oi, Tim, Vivo e Claro”, os braços tupiniquins das grandes corporações alienígenas.

Há um esfregar de mãos na mídia, nacional e internacional, ante a vitória do “blocão’ em queda de braço com a presidenta Dilma, incluindo a tentativa de constrangimento de alguns de seus ministros e empresas estatais. Bem em meio à festa, claro, os principais candidatos de oposição à Presidência da República, do PSDB e do PSB. Por essas, há quem esteja a respirar odores fétidos, como os exalados em semelhantes movimentações, desde Getúlio até Goulart. “Revoltas” como essas costumam dar um bom caldo de cultura a conhecidas maquinações nos subterrâneos de Washington, DC.

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