Gil faz 78

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Gilberto Gil é um orixá. Um Deus. Um monstro sagrado. É o Brasil que eu queria. Assim, jornalistas e artistas de gerações, lugares e estilos diversos descrevem esse gigante da cultura brasileira, que faz aniversário nesta sexta-feira (26). A data ele celebra com show transmitido online, a partir das 20h. E nós festejamos junto, reunindo aqui depoimentos de gente como Leila Pinheiro, Luedji Luna, André Abujamra, Patrícia Palumbo, Felipe Cordeiro, DJ Tahira e Cláudia Assef. Gil é múltiplo e atravessa cada um de um jeito, mas, no imaginário coletivo, é uma espécie de entidade.

Para marcar os 78 anos de vida, entrega e generosidade, a família Gil organizou uma apresentação especial, chamada “Fé na Festa do Gil”. Como tem que ser, em tempos de pandemia, o show será transmitido online pelo Youtube do artista, direto de seu sítio em Petrópolis (RJ). O evento é parte das ações da plataforma #DevassaTropicalAoVivo, da cervejaria Devassa. 

Vivendo este momento único na história, em meio ao isolamento social e às incertezas da atualidade, Gil fala que vai tentar transmitir, com a ajuda de seus filhos, um astral especial para este show atípico: “É inédito e curioso, pois tem toda essa coisa de ser diferente do normal. Não tem palco, é a minha casa. Não tem público, mas tem a família.” 

A potência da obra de Gil perpassa gerações, estilos, sentidos e conquista corações e mentes. Vai do afoxé ao reggae, passando de mensagens sobre autoconhecimento e evolução espiritual até a crítica social. Sua trajetória é recheada de posturas e pontos de vista que nos trazem um olhar diverso e descentralizado de um Brasil profundo, negro, baiano, periférico. Gil ajudou muito a nos reconhecermos enquanto brasileiros em nossa cultura. 

Caetano Veloso, no livro Verdade Tropical, traz reflexões de Gil que apontam para o momento mais lúcido de nossa música, no século XX. É quando Gil, após uma temporada em Pernambuco, nos anos 1960, percebe a força do coco, da ciranda e da nossa música popular para chegar ao grande público e, assim, construir um diálogo revolucionário com a nossa gente.

Além de músico, cantor e compositor, Gil ainda foi um dos mais importantes gestores públicos da cultura no Brasil, quando esteve à frente de um Ministério da Cultura que olhava para a pluralidade do país, para a importância da tradição e, ao mesmo tempo, para a urgência de se conectar com a vanguarda do pensamento, das artes urbanas contemporâneas, desde o rap até com as articulações em rede e os direitos autorais em creative commons.
 
Gil é tão destacado, que apenas mencionar seu nome já provoca uma onda de reverências, injeta um ar de lealdade e respeito, que toma desde artistas consagrados, até novos talentos, passando por gente comum, como eu e você. É possível que o artista nem saiba o que ele e sua obra evocam nas pessoas. Para muitos, ouvir Gil é de fato sentir como a paz invadindo o  coração.


O Gilberto Gil que habita em cada um e cada uma:

Leila Pinheiro (PA) Cantora e pianista
“Pra mim, ele é Deus na terra, acima do bem e do mal. É um ser iluminado e que ilumina. Sou completamente apaixonada pela pessoa, pelo ser humano, que vem antes do Gil artista. Deixo aqui meu beijo enorme, por esse movimento de generosidade dele e que ele segue fazendo, sempre indo atrás dos artistas que estão começando, sempre antenado com artistas novos, com o que está acontecendo. É um mestre. A ele, a minha reverência, meu amor, meu carinho e minha admiração profunda.”

André Abujamra (SP) Cantor, compositor e multiinstrumentista

“O Gil representa pra mim tudo, eu sendo artista. É o rei da brincadeira, ê josé; o rei da confusão, ê João. Eu tive a sorte de, depois de velho, fazer a trilha do filme mais lindo do mundo, o Cafundó, de Paulo Betti e Clóvis Bueno, em que ele canta uma melodia minha. A gente se falou por telefone e quase tive um treco. Gilberto Gil pra mim é tudo. Ele não é uma pessoa. Gilberto Gil é um orixá”. 

Felipe cordeiro (PA)Guitarrista, cantor e compositor
“Gilberto Gil é um dos artistas mais importantes do Brasil do século XX. Um homem negro, um dos primeiros homens negros que virou um ícone absoluto da música brasileira. É até hoje uma grande referência como músico, como cantor, como compositor, como pensador. É um cara realmente completo e genial. Como Ministro da Cultura, fez história. Abriu uma porção de possibilidades para as novas gerações, esteticamente, politicamente e comportamentalmente falando. Ele é este tipo de pessoa, que é um monstro sagrado e que emana uma simplicidade como sujeito, uma sabedoria, uma calma, uma serenidade. Acho que Gil é um dos grandes artistas de todos os tempos.” 
 

Luedji Luna (BA)Cantora e compositora

“Gilberto Gil é uma figura emblemática da música baiana e brasileira. Costumo chamar ele de Guru Gil, porque a música dele me instiga muito nesse lugar, no espiritual mesmo. Gil é um filósofo, um guru. Um artista que está aí, apesar do anos, super ativo. Tive a chance de conhecer ele num festival na Bahia, onde abri o show dele, e foi muito bonito ver que, apesar de todo esse tempo de estrada, ele cultiva a paixão, a seriedade no palco, o profissionalismo. Ele mesmo passa o seu som, é muito bonito de ver a trajetória do Gil e dá muito orgulho saber que ele é da minha terra.“

Patricia Palumbo (SP)Radialista e Jornalista

“Falar de Gilberto Gil é sempre uma alegria. Não só pela fundamental e conhecidíssima participação no que é a construção da música popular no Brasil, até da música pop no Brasil. A obra de Gilberto Gil é uma obra de referência para a vida. Suas composições refletem as fases da vida, pelas quais ele passou. Temos as canções do exílio, que são maravilhosas, que misturam o rock, o reggae, que ele conheceu na Europa, com os fundamentos da música brasileira. Depois, nos anos 1980, a maravilha pop que foi Realce, que foi Lente do Amor, Índigo Blue, músicas dançantes deliciosas.
Toda a reflexão que ele fez, em sua obra inteira, sobre a meditação: Se oriente, rapaz, Se eu quiser falar com deus… Essa, pra mim, é uma das partes mais importantes da obra de Gil. Essa em que se pode aprender sobre a vida, essa parte que ele faz reflexões profundas, sobre o ser, sobre estar nesse mundo nesse momento. Gil já disse uma vez que a Bahia lhe deu régua e compasso. Gilberto Gil me dá tudo isso: orientação, prazer, alegria. É uma obra tão diversa, que nela está contida a canção brasileira. Temos o forró, o repente, a tradição nordestina, a bossa nova, o tropicalismo. E hoje, já em idade avançada, ele ainda faz todas estas revisões de sua própria obra, com seus filhos, com jovens compositores e com jovens artistas, trazendo ainda mais sedimentos para o que é a música brasileira contemporânea. Eu sou admiradora, fã e frequentadora da obra de Gilberto Gil.”
 

Alex Sant´anna (SE) Cantor e compositor

“Gilberto Gil sempre foi influência para mim de duas maneiras. Primeiro, como artista negro, que ocupava um lugar importante e respeitado na música popular brasileira. E, segundo, quando eu comecei a pensar em ser artista, a música dele foi muito importante pra mim, sempre esteve presente, porque minha mãe sempre foi muito fã. Até hoje ela me pede para tocar músicas dele. E, para a pesquisa de meu disco novo, eu voltei a ouvir muita coisa de Gil, fui ouvir de novo o Refavela, o Refazenda, o Realce e, principalmente, o primeiro disco, que é uma grande referência para o meu Baião Amargo. Gil tem um negócio massa também. Nos anos 1980, ele estava junto com Herbert Vianna e o Paralamas do Sucesso, tocando junto e compondo juntos. Eles foram parceiros em canções. Nos anos 1990, esteve junto com Chico Science e Nação Zumbi. E, agora, está fazendo o mesmo processo com Baiana System. Então ele vive dialogando com gerações novas. É muito bacana, ver que ele vai se renovando com o tempo”.

DJ Tahira (SP) DJ, Produtor e Remixer
“O Gil é um pilar dentro da história da música brasileira. Suas músicas são um verdadeiro retrato de nosso país. É um artista que agrada a todos. Desde crianças até os mais nerds musicais. Super versátil. Inteligente e um groove dos infernos. Viva Gil!”

Claudia Assef (SP)Jornalista e DJ
“Gilberto Gil, maravilhoso, que saudade de você como ministro! Que bem você nos fez, fazendo tanta música boa e letras inteligentes e sensíveis. Gilberto Gil é o Brasil que eu queria. Parabéns, canceriano!”

Fonte: Brasileiríssimos

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